Enquanto assistia “Meu nome era Eileen”, tentava fazer várias conexões sobre o que o filme de William Oldroyd (“Lady Macbeth”) se tratava. Entre enigmas, suspense, desejo e obsessão, a verdade é que o grande trunfo da trama se concentra na dupla formada por Thomasin McKenzie e Anne Hathaway e na atmosfera promovida pela diretor. 

Somos transportados para Boston na década de 1970, onde Eileen (McKenzie) mora com o pai e trabalha no setor prisional. Sua vida é pacata, sem grandes acontecimentos até que uma nova psicóloga (Hathaway) chega à prisão e causa um rebuliço na vida da protagonista. Desde o início, a diferença entre elas é bem pontuada, uma vez que o roteiro busca mostrar a rotina de Eileen com todos as suas repetições e monotonia, destacando o quanto a presença de Rebeca gera um desconforto a moça. 

Potencial perdido

Há um desejo sexual latente na personagem de McKenzie. Embora quieta, ela observa, se toca e sonha estar com os objetos de sua luxúria. A chegada de Rebeca faz com que ela reavalie o que tem e o que quer ser, englobando este conflito clássico no cinema e que parece acompanhar certas narrativas de personagens femininas como em “A Filha Perdida” e “Rebecca”, de Alfred Hitchcock. Há uma confusão de sentimentos que cria ambiguidade e controvérsia ao longo de toda a relação das personagens. O resultado se inclina em um subtexto de obsessão, enfatizado principalmente pela diferença emocional que há entre as personagens. 

Por um lado, Eileen vê em Rebeca uma saída para o inferno pessoal em que sua vida estacionou, conferindo à psicóloga um foco de importância que não soa recíproco e, portanto, desvia do cerne da produção. Isso decorre porque a personagem de Hathaway funciona literalmente como um contraponto a protagonista, sendo confiante, desafiando as normas sociais, vestindo-se da forma que deseja. O interessante é perceber como todos esses elementos são utilizados pela mesma para seduzir, ainda que não de forma sexual, e usá-la em suas próprias obsessões. 

Dessa forma, o desenvolvimento do relacionamento dessas duas mulheres se constrói com perspectivas e objetivos diferentes e com desníveis. Rebeca percebe as vulnerabilidades de Eileen e as utiliza como peça de manobra para os seus objetivos, ressurgindo um outro tema que tangencia a produção: as discussões morais. Neste aspecto, contudo, o roteiro escrito por Luke Goebel (“Passagem”) e Ottessa Moshfegh — autora do livro que inspirou a produção — falha por não se aprofundar nas temáticas complexas, contemporâneas e perturbadoras que surgem no decorrer da história e nem lhes dar o devido tempo de tela para criar alguma conexão com o espectador. O que prejudica a trama, já que boa parte do conflito se apresenta como um enigma para o público e não o convida a estar junto para solucioná-lo. 

O fato é que os grandes trunfos de “Meu nome era Eileen” são a ambientação e as interpretações de Hathaway e McKenzie. Há uma preocupação em colocar a personagem central sob uma coloração amarela que explora todo o oposto de como ela se comporta e realmente se sente em meio à vida estacionada que possui e não gostaria de alcançar entre desejos libidinosos e afeto. É no encontro entre ela e seu objeto mor de obsessão, porém, que oferece alguma motivação a si e, consequentemente, ao filme. É uma pena, havia muito potencial a ser discutido e aprofundado.