Filme de estreia da atriz francesa Élise Otzenberger na direção, “Minha Lua de Mel Polonensa” tinha todos os elementos para ser uma ótima comédia de relacionamentos. Neste longa, há situações convencionais sobre experiências de viagem em terras estrangeiras, a jornada em busca das raízes familiares, da cultura e da história, além de um belo drama que usa as relações interpessoais para tocar em temas como o Holocausto. Com assuntos tão sensíveis, a trama, porém, se perde em suas ambições e entrega uma obra tão simpática quanto superficial.
“Minha Lua de Mel Polonesa” (Lune de Miel) conta a história de Anna (Judith Chemla) e Adam (Arthur Igual), um casal de origem judaico polonesa viajando para Polônia com o objetivo de participar do memorial de 75 anos da comunidade dos avós de Adam. Apesar da pouquíssima animação do marido, Anna está empolgada em mergulhar em sua cultura e aproveita a viagem para ir em busca da casa e da história de sua Babusha (avó polonesa), a qual ela pouco conhece devido sua mãe, interpretada por Brigitte Rouan, não comentar o passado da matriarca da família.
Quando se propõe a retratar o relacionamento do casal, expondo a personalidade controladora e neurótica de Anna, ao mesmo tempo em que mostra Adam sendo um sujeito calmo e egoísta, “Minha Lua de Mel Polonesa” entrega bons momentos, graças a química do casal e aos alívios cômicos que funcionam. Ao acompanhar a experiência deles na Polônia, as atitudes de Anna em dizer que é completamente do país, mas a sua total inabilidade em falar uma palavra no idioma, nos remetem a situações pessoais adoráveis e fazem com que tenhamos empatia pela personagem. Apesar do roteiro apresentar a protagonista sempre de uma maneira pouco agradável, entendemos que o único desespero de Anna é querer saber mais sobre seu passado, sua história, suas raízes e poder, no futuro, compartilhar a história com seu filho, Simon. O fato da mulher tocar no nome da mãe de maneira negativa a cada 20 minutos, a culpando de tudo de ruim que acontece, torna isso mais explícito, mas deixa a personagem cada vez mais intragável.
PERDIDO EM CLICHÊS
O problema da trama de Élise Otzenberger é ser formada por retalhos dos gêneros drama e comédia. A diretora recorre a todas as situações e soluções clichês do cinema para resolver os conflitos, sem nunca retratar de maneira mais pessoal assuntos tão delicados e interessantes do filme, como o sentimento das pessoas com relação ao genocídio e de como elas sofrem com o passar dos anos ao ponto de fazer com que escondam o passado de seus familiares.
O ponto problemático de “Minha Lua de Mel Polonesa” inicia na metade do segundo ato, quando a mãe de Anna chega a Polônia para entregar um desfecho já esperado, ou também quando são apresentados personagens completamente aleatórios, que nunca acrescentam a história e fazem com que a protagonista teça comentários completamente preconceituosos, digno de uma pessoa egoísta que pouco se importa com o sentimento alheio. Anna, ao final, só se preocupa com a sua experiência e de como ela necessita que aquela viagem mude a vida dela para sempre. É nítido que a diretora perde o rumo e infla sua narrativa com cenas sem muita razão de ser.
“Minha Lua de Mel Polonesa” é um filme que consegue tocar em temas delicados de uma forma descontraída sem ser desrespeitosa, mas infelizmente, não desenvolve bem seus dramas e sua história, se perdendo na boa intenção da diretora e como dizem por aí: de boa intenção, o inferno (ou o cinema) está cheio.
Uma pena que não haja uma decisão entre o Drama com temas profundos e desenvolvidos, ou a comédia de relacionamentos, talvez poderíamos ter aqui um bom representante do gênero. Ótimo texto Ana!
Como comédia de relacionamentos ele funciona até certo momento, principalmente nas descobertas da viagem, mas o drama a procura das origens, os problemas familiares e a parceria do marido não ajudam em nada a protagonista. A impressão é que o roteiro tem em mente algo bonito, mas desiste de tentar da metade para o final. Agradeço o feedback, Tiago.
Obrigado por comentar isso, a protagonista tem um humor terrível, ela na verdade se torna uma imagem egoísta que faz o espectador se voltar contra, na verdade a cena no carro quando o companheiro dela grita falando tudo o que ele não deseja mais ter com ela me pareceu ser um alívio a personagem. A diretora quisesse algo talvez neurótico como o judeu nova yorkiano Woody Aliano, mas virou um pastiche. Alem de outras críticas que não merecem entrar ao mérito. 3.5/10