Quais são as motivações para uma guerra? O quão necessário é a guerra? Guerra nada mais é que um massacre em prol de um bem invisível que, possivelmente, é para o bem de uma nação. Guerra tem origem no discurso. O discurso sedutor patriótico em um ideal que supostamente beneficiaria a pátria amada. O discurso tem esse poder de envolver, magnético e perturbador. Nem precisamos nos voltar para a Primeira Guerra Mundial para compreender o poder nefasto de um discurso patriótico; vejamos o Brasil dessa semana pós-eleição e o surto nocivo desses soldados que, a custo de suas próprias vidas e dos outros vão às ruas, cometem crimes por este bem invisível que é lutar pela pátria.

“Nada de Novo no Front” é um retrato cruel, perturbador e sangrento do poder do discurso ufanista e bélico. Baseado na obra de Erich Maria Remarque (ele mesmo um sobrevivente) lançado em 1929 com um filme lançado no ano seguinte – o ganhador do Oscar “Sem Novidade no Front”, essa produção alemã dirigida por Edward Berger desmonta esse discurso heroico e patriótico quando se pensa em filmes de guerra.

Não há heróis (como Hollywood gosta), a visão distorcida através de uma oratória poderosa se mostra totalmente diferente na prática, quando se está inserido naquele mundo de caos, mortes, desespero e luta pela sobrevivência. Pois estar em guerra é uma luta para sobreviver dia após dia.

O canto da sereia genocida na crença de um brado retumbante em nome da pátria se esvai quando há mais corpos estirados e mutilados no chão enlameado que a busca por uma vitória.

SENTIMENTO FÚNEBRE

A representação desses sonhos de adolescentes e jovens adultos está representada por Paul, interpretado de forma espetacular por Felix Kammerer. Ele vive um menino de 18 anos que se alista escondido em nome do discurso ufanista, mas o que presencia ao longo dos meses e do avanço das trincheiras do front ocidental, é apenas perdas. Dos amigos, dos planos, da juventude, da áurea juvenil, da inocência, do psicológico, do próprio instinto. É brutal acompanhar a vida desses soldados alemães, que já sabemos (alô, aula de história) perderam a guerra e perderam centenas de vidas. E essas vidas, no final, seriam apenas números, em prol de quê?

Um ponto fundamental na construção da narrativa mortal de “Nada de Novo no Front” é o contraponto entre os soldados lutando por suas vidas e um ideal que já não fazia mais sentido algum naquele momento e os oficiais das altas patentes no conforto dos escritórios, bem vestidos, alinhados e servidos por verdadeiros banquetes articulando a guerra, enquanto eles, aqueles que estavam no front, dividiam refeições entre si e os ratos.

Há muita tensão em “Nada Novo no Front”, uma sensação de deslocamento, de uma esperança que não chegará a um futuro que parece tão distante na certeza de que eles não serão mais nada apenas números; há um sentimento fúnebre na comunhão entre eles.

Realmente, não há nada de novo no front enquanto esses discursos patrióticos, sedutores, ofensivos, brutais ainda existirem em prol de algo que nem se sabe o que está fazendo enquanto eles, os dirigentes, os donos do discurso, continuam limpos, salvos, confortáveis e bem alimentados, enquanto quem está no front, cego por esse ideal é quem coloca o seu corpo para uma guerra sem sentido.