Diversos filmes adolescentes americanos nos ensinaram que o isolamento imposto por outras pessoas, no ambiente escolar, geralmente pode levá-los a formar um grupo de seus próprios. Seguindo esta tradição, “O Mau Exemplo de Cameron Post”, novo filme da diretora Desiree Akhvan, cumpre esta cartilha, porém, traz um elemento a mais: os protagonistas não sobrevivem a uma escola normal, mas, em um acampamento de conversão para “curar” homossexuais.

Premiada pelo júri do Festival de Sundance de 2018, o filme conta a história da personagem-título interpretada por Chloë Grace Moretz. Após ser flagrada com uma amiga no banco de trás do carro, ela é mandada da casa dos pais para um local intitulado God’s Promise, uma escola religiosa com pessoas iguais a ela. Lá, ela passa por uma rotina designada a suprimir seus desejos sexuais, encontrando conforto apenas nos amigos Jane Fonda (Sasha Lane) e Adam Red Eagle (Forrest Goodluck).

O filme é bastante contundente sobre onde está a piada: o comportamento e o jeito de pensar instigado dentro da escola religiosa estão no limite do patético, absurdo e, de fato, promove muito do humor que há no projeto. Isso fica claro no personagem do Reverendo Rick (John Gallagher Jr), um homossexual “curado” orgulhoso de ter aceitado o “caminho de Deus”, mas, ostentando o bigode mais insinuante deste lado do Village People.

BUSCA POR SER AGRADÁVEL

Infelizmente, toda a pegada da premissa do filme se perde no meio do caminho. Muito dos conflitos parecem vagos e você fica com a impressão de que o mais importante da trama está acontecendo em outro lugar. Não me entenda mal: há beleza no modo contemplativo com que Akhvan trabalha as cenas e temos também uma ótima performance de Chloë Grace Moretz – o melhor desempenho dela em anos, lembrando um pouco da jovem atriz que trabalhou com cineastas como Martin Scorsese e Olivier Assayas.

“O Mau Exemplo de Cameron Post” poderia ter sido um grande drama sobre adolescentes sendo colocados no limite de suas emoções. Poderia ter sido uma afiada crítica a como comunidades religiosas insistem em reprimir a juventude. E, por fim, poderia ter sido também uma sátira ácida sobre os relacionamentos dentro destes campos de conversão.

Nenhuma destas possibilidade acabou sendo o filme de Desiree Akhvan. À medida que o fim se aproxima, percebemos que a intenção era fazer um filme leve sobre um assunto pesado e, dentro desta proposta, ela é bem-sucedida. Em sua busca por ser agradável, entretanto, no momento em que a luz se acende no cinema, “O Mau Exemplo de Cameron Post” se perde no meio dos diversos longas sobre adolescência que o precederam.