Star Wars” nunca deve ser enfadonho. É uma das lições que a trilogia original ainda lega aos cineastas que seguem seus passos e continuam explorando o universo que George Lucas criou, seja no cinema e, agora, no streaming. Às vezes, o roteiro ou a história em si podem até serem fracos – bem, muitas vezes o são – mas quando há ação e correria e as coisas acontecem em ritmo vertiginoso, as pessoas assistem com empolgação nem que seja apenas pela força imagética da coisa toda. O próprio Lucas, em alguns momentos da trilogia prequel, esqueceu-se disso e os filmes sofreram. J. J. Abrams, por outro lado, seguiu o mandamento à risca: talvez por isso tanta gente tenha abraçado Star Wars: O Despertar da Força (2015), afinal, era a verdadeira definição de filme montanha-russa, por mais que alguns minutos depois do fim da sessão caía a ficha de que o enredo é requentado do longa original de Lucas.

Por isso que esta Parte 4 de “Obi-Wan Kenobi” funciona: ela é cinética, pura ação. A Parte 3, apesar da aparição de Darth Vader, resultou num episódio apenas morno. Na Parte 4, não há um segundo desperdiçado nos 36 minutos de duração. Não à toa é o melhor segmento desde a Parte 1.

A trama do episódio em si é bem básica: Kenobi se recupera rapidinho dos ferimentos do final da Parte 3 e parte em um plano audacioso para resgatar Leia, com a ajuda dos poucos companheiros que ainda não são a Aliança Rebelde. Ele e Tala se infiltram na Fortaleza dos Inquisidores e temos correria, tiroteios, uso da Força e alguns bons momentos com sabre de luz – a julgar por este episódio e o anterior, a diretora Deborah Chow, pelo visto, gosta de usar o impacto do sabre em um cenário escurecido. Kenobi lutando contra dois soldados no escuro é um dos ótimos momentos visuais do episódio.

O fato da trama ser simples não é demérito, na verdade, vira uma qualidade da franquia. E é um prazer vermos aos poucos o espírito do velho Jedi vindo à tona no meio da batalha ou notarmos as referências ao universo. O cenário da fortaleza e todo o clima de suspense dentro dele lembram as cenas da Estrela da Morte de Star Wars: Uma Nova Esperança” (1977), com direito a uma referência visual direta ao longa de Lucas quando Chow mostra um close de um comunicador abandonado.

E quando a aventura começa, bem… Essa é a essência de Star Wars, é o que a franquia faz de melhor. Há ótimos momentos visuais, sendo o melhor deles uma tensa cena envolvendo um corredor prestes a ser inundado.

Claro, o roteiro ainda permanece frágil com personagens sem motivação fortemente estabelecida: o sujeito interpretado por O’Shea Jackson Jr. reluta um pouquinho, mas depois decide ajudar Kenobi porque aparentemente não devia ter coisa melhor a fazer naquele dia. E as cenas entre Moses Ingram e Vivien Lyra Blair não funcionam, principalmente, pelas caras e boca e elevação de voz da primeira sem convencer muito como malvada.

E há alguns momentos que aparentemente são feitos para se encarar como pura galhofa: Tala escapando no tapa de dois soldados imperiais, que parecem mais patetas do que nunca, ou os heróis tentando fugir com a pequena Leia escondida dentro de um casaco. São cenas ridículas, mas possíveis de serem toleradas porque galhofa não deixa de estar presente no DNA da franquia, que buscou inspiração nos antigos serials dos anos 1930 e 1940, que também não eram um primor de narrativa.

O importante é que esta Parte 4 entrega o que promete: ação, umas pitadas de humor, outras tantas de suspense, num cenário bem familiar e empolgante como é o de uma fuga de prisão dentro do universo Star Wars. Aliás, esse universo, quando tudo funciona, é uma máquina bem azeitada e seu próprio criador já deu a dica, lá atrás: Enquanto as coisas estiverem se movimentando, “Star Wars” será sempre, no mínimo, divertida. É uma lição que já foi comprovada, várias vezes, e aqui demonstra novamente que não falha nunca.