Steve Martin e Martin Short são duas lendas do teatro, televisão e cinema de Hollywood. Mestres da comédia, durante anos emendaram sucesso atrás de sucesso nestas diversas áreas sempre muito celebrados com crítica, público, prêmios e dinheiro. Mas, no showbusiness envelhecer não é tão produtivo quando não se é um galã e eles viram, especialmente neste século, os trabalhos diminuírem.

Felizmente o ritmo menos frenético de outrora não interfere em uma coisa principal: talento. E isso eles tem de sobra! “Only Murders In the Building” é a prova cabal que os dois não precisam inventar a roda para serem bem-sucedidos e que o timing para comédia continua irretocável. A série é divertidíssima!

A HISTÓRIA

Charles-Haden Savage (Steve) é um ator que teve seu apogeu em uma série policial nos anos 80 e nunca mais obteve um grande sucesso. Oliver (Short) é um afetadíssimo e excêntrico diretor da Broadway que experimentou os louros dos musicais dirigidos por ele, mas com os diversos fracassos posteriores. ficou desacreditado no ramo. Esses dois caras moram no mesmo prédio, o luxuoso Arconia, no coração de Manhattan.

Em um certo dia, se cruzam no elevador juntamente com a jovem Mabel (Selena Gomez), eis que entra um outro inquilino pouco amistoso no elevador, Tim Kono (Julian Cihi). O problema? É que poucos minutos depois soa o alarme no prédio e o tal do Tim Kono é encontrado morto com um tiro na cabeça. Suicídio? Homicídio?

É isso que esse trio tão diferente, tanto de idade, perspectivas e visão de vida, se unem para descobrir. Para isso, criam um podcast para contar essa história ao longo que investigam o mistério por detrás da morte do rapaz. Lógico, com muitas atrapalhadas, vergonha alheia e lobos em pele de cordeiros, eles colocam as vidas em risco enquanto o podcast, aos poucos ganha novos ouvintes, fãs e haters.

SANGUE NAS VEIAS

A grande sacada de “Only Murders In the Building” é misturar a vanguarda com o novo com as novas formas de comunicação, sendo a tecnologia capaz de unir e separar pessoas na mesma proporção e zoar sobre isso. Se antigamente havia histórias de ninar e aquelas histórias de mistérios que os mais velhos contavam na porta da casa, hoje, temos os podcasts com diversas narrativas e contextos. Pessoas ganham dinheiro e fãs contando histórias verídicas ou não.

 Quem pensava nisso há vinte anos? Hoje, as histórias de ninar e livros foram substituídos pelo toque do celular com qualquer podcast ao seu alcance. Mas uma coisa nunca muda: a imaginação, essa ninguém tasca. E imaginação esse trio tem de sobra.

Uma coisa que une os três protagonistas é a questão da utilidade. Charles, Oliver e Mabel buscam por um sentido na vida. Os dois primeiros já na velhice (NOTA DO AUTOR: desconfio que Charles tenha certo grau de autismo) e ela ainda jovem com cicatrizes por conta de um evento que mudou para sempre a sua vida, neste mesmo prédio.

É muito mais do que resolver um mistério, obter sucesso e algum dinheiro na conta, mas se sentir necessário, marcar a vida de alguém por algo bom que fez. Esse é um ponto fundamental na compreensão desses três personagens. Isso também pode ser uma resposta àqueles que diziam que os Martin estavam com prazo de validade vencidos, pois esta questão de ser útil e que ainda corre sangue em suas veias diz muito também sobre os atores.

REPRESENTATIVIDADE EM EPISÓDIO-CHAVE

E falando em novos tempos tecnológicos, Steve e John Hoffman – criadores da série – foram extremamente inteligentes ao chamar Selena Gomez para completar esse protagonismo. Uma autêntica celebridade dos novos tempos, a atriz e cantora pop é uma das estrelas mais seguidas do mundo no Instagram, com altos rendimentos e engajamentos, talvez por isso “Only Murders In the Building” tenha sido a mais vista da história no serviço de streaming Star+; os jovens são intensos e dão muita importância para números, especialmente quando sua diva pop está no meio. Ponto para os mais velhos!

Outro momento importantíssimo é a questão da representatividade. O personagem do James Caverly é um jovem surdo. E o episódio sete é todo em sua perspectiva. Logo, o episódio têm poucas falas e trilha sonora quase ausente ou bem baixinha, como ruídos. Os diálogos basicamente na linguagem de sinais americana e com gestos e olhares. E é um episódio importante, o famoso plot twist, e com essa visão cria ainda mais tensão e emoção. Corajoso.

SORRISO ABERTO

As participações especiais e personagens recorrentes são outro achado. Desde Sting interpretando ele mesmo da maneira mais caricata possível ao genial Nathan Lane (SEMPRE EXCELENTE!) em uma performance divertida e fundamental, passando por uma sumida Amy Ryan, ótima atriz voltando aos holofotes como namorada/vizinha de Charlie. Vanessa Aspillaga como a intransigente e hilária sindica, Da’Vine Joy Randolph como uma policial que acaba os ajudando a tentar solucionar o caso e por fim, ninguém menos que Tina Fey e Jane Lynch sendo apenas maravilhosas e engraçadas.

“Only Murders In the Building” é uma grande brincadeira com pitadas irônicas sobre os novos tempos tecnológicos, a busca dos mais velhos em se renovar sem apagar toda sua história e a juventude ainda inerte nesse meio todo. Ver Steve Martin e Martin Short em cena juntos é fantástico, a sagacidade e energia da dupla em cena é espetacular. Até Selena Gomez, mesmo destoando do trio, soma para que essa química simbiótica se fortaleça e nos faça querer saber sempre mais das novas atrapalhadas de Charlie, Oliver e Mabel.

Como já pontuado, não há nada de novo, nada surpreendente, nada mirabolante, mas é aquela série que te deixa de sorriso aberto.

MAIS CRÍTICAS DE SÉRIES NO CINE SET: