Sim, lá vamos nós para mais uma adaptação das obras de Arthur Conan Doyle.

A Netflix, por exemplo, mantém uma linha de produção na qual não aborda exatamente a figura de Sherlock Holmes, mas sim, personagens ligados a ele. Após o sucesso de ‘Enola Holmes’ é a vez dos espiões não oficiais do detetive ganharem sua série própria: ‘Os Irregulares de Baker Street’ fala justamente sobre crianças de rua que se tornaram fontes de informação para o detetive nos livros e, apesar de não possuírem nome ou grande importância nas histórias originais, na série criada por Tom Bidwell (‘My Mad Fat Diary’), eles são os verdadeiros protagonistas de casos envolvendo elementos sobrenaturais. Um mote bem interessante o qual a primeira temporada não consegue fazer jus.

Bea (Thaddea Graham), sua irmã Jessie (Darci Shaw) e os amigos Spike (McKell David) e Billy (Jojo Macari) são jovens abandonados pelos pais que sobrevivem nas ruas da cinzenta Londres. Bea é contatada pelo parceiro de Sherlock (Henry Lloyd-Hughes), doutor Watson (Royce Pierreson) para ajudar em pequenos crimes, entretanto, uma presença sobrenatural que ronda a cidade acaba dividindo o grupo e revelando a Bea e Jessie qual foi o verdadeiro destino de sua falecida mãe.

Fora as duas irmãs, o restante do grupo não possui um aprofundamento correto: Bea é claramente a preferida da trama e a atriz consegue muito bem ser a voz protagonista e rosto da série, enquanto Jessie se esforça para conseguir a atenção do público. Spike é o membro mais renegado e basicamente só tapa buracos espalhados pela trama enquanto Billy é o famoso caso de personagem que ganha a atenção do público, mas, não possui conteúdo o suficiente para mantê-la.

Uma difícil adaptação

Se na criação de personagens desconhecidos a série já apresenta falhas, com os famosos Watson e Sherlock chega a ser vergonhoso. Basicamente, ‘Os Irregulares de Baker Street’ é mais uma produção em que a Netflix insiste em descaracterizar os personagens do Conan Doyle, reduzindo o detetiva a um simples viciado e mudando completamente a personalidade de Watson. Apesar disto ser bem incômodo para os leitores dos livros e apreciadores de outras melhores adaptações, o pior de tudo é que mesmo mudados para combinar com a trama, os personagens não são bons.

Watson, por exemplo, é um enorme clichê que pouco acrescenta para a trama além de ser uma ameaça para Bea. Já é de se imaginar todo seu desenvolvimento e motivações, mas até chegar nessas revelações nos últimos episódios o personagem já está totalmente desgastado. Sherlock, mesmo com tanta simplicidade dada pelo roteiro, consegue se destacar bastante, quase roubando a trama dos ditos protagonistas.

E os crimes?

Como é de se esperar, toda história envolvendo um bom detetive também é repleta de investigações e suspenses. Infelizmente, a série também peca – bastante, aliás – nesse aspecto. Apesar da trama principal ser contínua em toda temporada, cada episódio aborda um caso investigativo, sendo um formato que prejudica muito a série. Tanto por ser necessário inventar mais histórias e personagens, quanto porque estes não são abordados propriamente, os mistérios não são desenvolvidos de forma complexa e acabam sendo de fácil solução, se tornando desinteressantes.

O único aspecto positivo dessa escolha é a concepção visual dos crimes e monstros que surgem na tela. No primeiro capítulo tem uma perseguição de corvos a qual resulta numa morte bem gráfica e, ouso dizer, estranhamente bonita, impactante. Da mesma forma, o episódio três é maravilhoso visualmente ao mostrar um assassino que conclui seus planos colocando as vítimas em posições de cartas de tarot. Nestes casos, desde o figurino, efeitos e própria importância das cenas para a série se destacam positivamente.

Assim, a princípio, a série consegue gerar uma certa expectativa sobre futuros casos do grupo e sobre a própria dinâmica entre os personagens. Entretanto, o resultado é bem desapontador e se encaminha para um destaque a Sherlock e Watson quando, na realidade, estes deveriam ser apenas uma referência ao espectador, deixando de lado o protagonismo dos “Os Irregulares de Baker Street” e, por consequência, falhando com sua proposta.

‘Avatar: O Último Mestre do Ar’: Netflix agrada apenas crianças

Enquanto assistia aos oito episódios da nova série de fantasia e aventura da Netflix, Avatar: O Último Mestre do Ar, me veio à mente algumas vezes a fala do personagem de Tim Robbins na comédia Na Roda da Fortuna (1994), dos irmãos Coen – aliás, um dos filmes menos...

‘Cangaço Novo’: Shakespeare e western se encontram no sertão

Particularmente, adoro o termo nordestern, que designa o gênero de filmes do cinema brasileiro ambientados no sertão nordestino, que fazem uso de características e tropos do western, o bom e velho faroeste norte-americano. De O Cangaceiro (1953) de Lima Barreto,...

‘Novela’: sátira joga bem e diverte com uma paixão nacional

Ah, as novelas! Se tem uma paixão incontestável no Brasil é as telenovelas que seguem firmes e fortes há 60 anos. Verdade seja dita, as tramas açucaradas, densas, tensas e polêmicas nos acompanham ao longo da vida. Toda e em qualquer passagem de nossa breve...

‘Gêmeas – Mórbida Semelhança’: muitos temas, pouco desenvolvimento

Para assistir “Gêmeas – Mórbida Semelhança” optei por compreender primeiro o terreno que estava adentrando. A série da Prime Vídeo lançada em abril é um remake do excelente “Gêmeos – Mórbida Semelhança” do genial David Cronenberg, como já dito aqui. O mundo mudou...

‘A Superfantástica História do Balão’: as dores e delícias da nostalgia

Não sou da época do Balão Mágico. Mesmo assim, toda a magia e pureza desse quarteto mais que fantástico permeou a infância da pessoa que vos escreve, nascida no final daquela década de 1980 marcada pelos seus excessos, cores vibrantes, uma alegria sem igual e muita...

Emmy 2023: Previsões Finais para as Indicações

De "Ted Lasso" a "Succession", Caio Pimenta aponta quais as séries e atores que podem ser indicados ao Emmy, principal prêmio da televisão nos EUA. https://open.spotify.com/episode/6NTjPL0ohuRVZVmQSsDNFU?si=F1CAmqrhQMiQKFHBPkw1FQ MINISSÉRIES Diferente de edições...

‘Os Outros’: por que a série da Globoplay assusta tanta gente? 

“Não vou assistir para não ter gatilhos”, “estou com medo de ver esta série”, “vai me dar pesadelos”. Foi comum encontrar frases como estas pelo Twitter em meio à repercussão causada por “Os Outros”. Basta ler a sinopse ou assistir aos primeiros minutos da produção da...

‘Black Mirror’ – 6ª Temporada: série parece ter ficado para trás

Nem todo mundo lembra, hoje, mas Black Mirror, a série antológica de ficção científica criada por Charlie Brooker que lida com as tensões modernas em torno da tecnologia e o futuro, começou em 2011 como uma produção humilde e de orçamento pequeno da emissora britânica...

Cinco Motivos para Amar ‘Rainha Charlotte: Uma História Bridgerton’

AVISO: o texto traz SPOILERS Você deve conhecer aquele meme de "Meninas Malvadas": “eu estava obcecada, passava 80% do meu tempo falando de coisa x e nos outros 20% torcia para que alguém falassem pra eu falar mais”. Essa fui eu no último mês em relação a “Rainha...

‘Amor e Morte’: Elizabeth Olsen domina competente série true crime

Há uma cena no terceiro episódio da minissérie “Amor e Morte”, disponível no HBO Max, na qual vemos a protagonista da história, uma dona de casa levando sua vidinha medíocre em uma cidadezinha no interior do Texas no final dos anos 1970, durante uma conversa com o...