O quão longe você iria para ter o amor de alguém? Existem escrúpulos na busca pela vida perfeita com quem se ama? Esses são alguns questionamentos levantados pela minissérie da Netflix ‘Por trás de seus olhos’. Baseada no romance homônimo de Sarah Pinborough, a produção utiliza o casamento desgastado de David (Tom Bateman) e Adele (Eve Hewson) para tornar tais indagações mais palpáveis e dar uma guinada em sua trama. Sendo um thriller psicológico inicialmente, a produção lentamente se encaminha a um drama sobrenatural, lidando muito bem com os dois gêneros mesmo quando certas incongruências no roteiro saltam à vista.
Apesar da trama começar a partir do casal David e Adele, ‘Por trás de seus olhos’ tem como fio condutor a visão de Louise (Simona Brown), uma mãe solteira que se esforça para criar o filho Adam (Tyler Howitt). Por acaso, ela conhece David, um psiquiatra novo na região, se envolvendo romanticamente com ele. Com uma coincidência anormal, Louise se torna amiga de Adele, vivendo uma vida dupla ao conhecer os dois lados do casamento e, também, dos segredos envolvendo o casal.
Uma série completa
Além de lidar bem com o suspense e plots twists, é possível perceber que “Por Trás de Seus Olhos” volta cada aspecto seu a desenvolver bem o mistério sobre Adele e David. Desde a forma como a história é contada até os posicionamentos de câmera e, principalmente, a montagem da série ajudam muito a contar a história desejada pelo criador Steve Lightfoot, conhecido por trabalhar como produtor executivo em ‘Hannibal’ e ‘O Justiceiro’.
Começando pela base, o roteiro da série lida habilmente com poucos episódios para contar uma trama com linhas temporais diversas, a qual busca dar densidade à história dos personagens principais. Sim, existem furos no roteiro no decorrer da série e alguns difíceis de não serem notados, porém, mesmo com defeitos, o roteiro consegue desempenhar a habilidade de conduzir a trama de forma não óbvia e, ao mesmo tempo, ser inteligível e uma ótima história a ser acompanhada.
Toda atmosfera de suspense também está presente no visual da série, principalmente na direção de fotografia que opta por cenas majoritariamente escuras. Nesse aspecto, os ângulos de câmera são muito importantes para a principal reviravolta da série (só por esses pequenos detalhes vale a pena reassistir a produção para notar essas escolhas). Da mesma forma, a montagem é primordial para que o público consiga acolher a transição de uma trama mais cética para algo fantasioso e sobrenatural. Já nos últimos três episódios onde o personagem Rob (Robert Aramayo) é aprofundado, existe um constante aparecimento de Adele logo após as cenas do rapaz, deixando claro a ligação entre ambos.
Entre o real e o imaginário
Como qualquer thriller psicológico, a série começa focando nos traumas de Adele e em seu casamento com David, o que se estende para a vida de Louise e seu problema de sonambulismo. Assim, a primeira metade da temporada é toda baseada em conceitos da psicologia, mostrando inclusive métodos para Louise superar seu problema. Tanto o passado quanto o presente de Adele a consideram mentalmente instável devido ao trauma que passou, dando espaço para as cenas de administração de remédio e o próprio estudo de caso de Adele por David.
Já na segunda parte da trama, o elemento sobrenatural toma conta do desfecho e é inserido de forma muito bem elaborada por Steve Lightfoot. Em diversas produções, quando é necessário mostrar visualmente algum evento sobrenatural é provável que isso leve a trama totalmente para o gênero de terror ou, do contrário, pareça amador ou tosco. Por isso, existe uma grande responsabilidade e êxito da série em adaptar tais momentos de forma que mantenha o suspense estabelecido e consiga representar a experiência descrita pelos personagens.
Essa habilidade em lidar com diferentes gêneros é um bom diferencial para o seriado, pois consegue manter o interesse do público, mesmo não sendo fiel a proposta da sinopse – aquilo que atrai o espectador. Além de tudo isso, ‘Por trás de seus olhos’ tem uma ótima disposição de episódios e acaba se tornando o tradicional caso da produção a qual queremos acabar logo para descobrir o final, mas, ao mesmo tempo, não gostaríamos que terminasse tão cedo.