Caro leitor, devo dizer que não sou muito fã de filmes de monstros, com exceção do belíssimo “Círculo de Fogo”, de Guilhermo Del Toro, que é uma mistura de gêneros. Obras de tubarão, crocodilo, cobra e gorilas nunca fizeram meus olhos brilharem apesar de reconhecer o mérito e a importância dessas produções. Porém, é preciso admitir que “Predadores Assassinos” (“Crawl”), a mais nova produção de monstros do cinema é um ótimo filme para os amantes do subgênero ou para aqueles que adoram uns bons sustos. O filme do cineasta francês Alexandre Aja (“Piranha 3D” e “Viagem Maldita”) empolga e diverte na mesma medida, entregando uma obra simples, mas completa em sua proposta de terror e desastres naturais com uma pitada de drama familiar.
“Predadores Assassinos” conta a história da nadadora Haley Keller (Kaya Scodelario), que sai à procura do pai Dave Keller (Barry Paper) em sua cidade natal na Flórida, mesmo com o anúncio da chegada de um furacão. Ao chegar na casa, junto com a cadelinha Sugar, ela encontra o pai ferido no porão. Quando tenta socorrer Dave, Haley é atacada por um crocodilo e, aos poucos, terá que lidar com os monstros dentro das águas.
O filme entrega momentos de verdadeira tensão, a qual todo momento cria a sensação que é realmente possível ver um dos personagens centrais morrer, dado o número de vezes em que são mordidos e machucados pelos crocodilos. O único defeito é que, em certo momento, o roteiro ignora a dor desses machucados graves, mas nada que atrapalhe a experiência.
A boa direção de Alexandre Aja torna a trama crível, empolgante e concisa. “Predadores Assassinos” não dispensa os clichês, faz referência ao clássico “Tubarão” e busca reinventar a roda ou inovar no subgênero. Aja entrega um filme fiel em sua construção narrativa de terror de monstros, com ótimos sustos, momento de tensão, alívio, utilizando praticamente um único cenário, no caso, a casa da família de Haley. O espaço é explorado de maneira inteligente, com ótimas cenas, principalmente, a do banheiro. Muitas pessoas têm problema com ela, mas honestamente, certos gêneros fílmicos merecem a nossa capacidade de acreditar no inacreditável.
TENSÃO CERTEIRA
Com 1h30 de projeção, a montagem é eficiente, nenhuma cena acrescentada é sem sentido. Após a pequena apresentação da protagonista, as cenas seguintes são de pura ação, medo e suspense. Particularmente, o CGI não me incomoda. O roteiro dos irmãos Michael e Shawn Rasmussen não é profundo e cai em alguns diálogos bem piegas entre pai e filha em um momento que o diretor poderia ter escolhido o silêncio para criar uma atmosfera de horror. Mas estamos falando de um blockbuster que insiste em entregar tudo claro e simples ao seu público e, mais uma vez, não há nada de errado nisso.
Aja utiliza de todos os artifícios narrativos disponíveis, desde a boa trilha sonora, a fotografia sombria, os planos detalhes são excelentes e as atuações são críveis. Muito deste mérito vai para atriz Kaya Scodelario. Ela que disse em entrevistas ter chegado a quebrar um dedo durante as gravações e fez questão de fazer a maior parte das cenas descalça, contribuiu bastante para construir uma personagem que sofre tanto com o drama familiar, a obsessão do pai pela natação quanto a tentativa de sobreviver a monstros velozes e cheio de dentes e ainda salvar o pai ferido.
O que realmente incomoda é a conveniência do roteiro em fornecer uma explicação nada convincente para chegada dos animais ali. O diretor até tenta, colocando um outdoor logo no começo do filme avisando sobre os crocodilos, mas ainda é difícil de comprar a ideia. Devo acrescentar a “atuação” da cachorrinha Sugar (Cso-cso) que dá todo toque especial na trama com sua habilidade em ajudar a protagonista a encontrar seu dono, guiar um guarda e nadar para salvar a própria vida. Além de torcer pela vida de Harley e do pai, também cruzamos os dedos pela peludinha e pensamos “não mata o doguinho, diretor”.
Filmes de monstros não foram feitos para serem uma reprodução do real. Eles são desenvolvidos para mexer com o medo, com as emoções de quem assiste, dando aquele impulso de segurar na cadeira e prender a respiração. A julgar pelo público na sala de cinema e a tensão das pessoas ao meu lado, “Predadores Assassinos” finaliza e deixa aquela sensação que o cinema de monstros ainda respira bem e devemos esperar com certa esperança as próximas boas produções.
Parece interessante, Kaya é uma boa atriz. Mais um ótimo texto Ana. Vou conferir este!
Este vale a pena conferir. Uma boa surpresa e bons sustos. Obrigada, Tiago!