O documentário “Sidney Rezende: Meu Enquanto Canto” introduz o espectador à história de um dos principais compositores de toadas, bastante identificado com o boi Garantido (mas também com passagem pelo Caprichoso) que empresta seu nome ao título da obra.

O filme é, antes de tudo, protocolar. Tanto na maneira como busca apresentar seu personagem foco e contextualizar uma época, como também nas tentativas de evocar alguma emoção a partir de sua música. A direção de Cristiane Garcia (“Nas Asas do Condor”), que também assina o roteiro, trabalha sempre em um limite bem confortável.

O roteiro da obra adota uma divisão em blocos, apresentando entrevistas com o próprio Sidney e algumas personalidades que participaram da história do artista, seguidas por alguma apresentação musical. Todas as falas seguem um mesmo tom, buscando valorizar a trajetória de Sidney, sua influência para o boi bumbá e as inovações que apresentou.

A monotonia temática das entrevistas conduz o espectador por filme de estrutura burocrática. Não que o documentário necessitasse apresentar polêmicas sobre a vida do protagonista ou dezenas de entrevistados, mas a estrutura segura montada retira de Sidney a possibilidade de ser um personagem mais vívido.

ESTRUTURA CONVENCIONAL

Para além, o discurso sobre suas qualidades técnicas e inovadoras parece nunca encontrar par com a composição imagética e sonora do filme. Temos repetidas vezes falas que elevam o compositor a um status de grande artista, tendo como pano de fundo um filme que soa quase como propagandístico.

Ao evitar conflitos em seu roteiro e não propor uma composição cinematográfica para além da segurança técnica, “Meu encanto quanto” aposta muito nos números musicais e para sensibilizar o espectador. As apresentações seguem uma mesma linha conformada, uma filmagem ao vivo bem-feita e captada, mas cujas relações dramáticas em tela pouco dizem.

Uma exceção é a apresentação da belíssima “Dança”, música vencedora de inúmeros prêmios no Fecani (Festival da canção de Itacoatiara), interpretada por Márcia Siqueira.

A mudança na fotografia, que passa para o preto e branco, justaposta ao caráter inovador da canção, criam um ambiente único durante a obra. A voz de Márcia produz e sua entrevista em que afirma ter sido ela a responsável pelo resgate da música produzem um êxtase para o momento. “Dança” possui versos marcantes e a declamação de um poema durante sua execução. Uma pena o momento estar ilhado dentro do filme, como uma lembrança de que um pouco mais de ousadia, inspirando-se na própria obra de Sidney, não faria nenhum mal.

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