Existem filmes que conquistam o espectador não por mostrarem uma história incrível ou revolucionária nem por atuações marcantes muito menos apresentarem invencionices técnicas. Alguns conquistam por serem simplesmente simpáticos ou agradáveis. Este “Spoiler Alert” é um caso assim: é um filme doce, sensível e que qualquer pessoa pode ver – contanto que não tenha preconceito com histórias LGBTQIA+, claro

Baseado na história real e no livro do jornalista Michael Ausiello, “Spoiler Alert” mostra como esse jovem tímido e fanático por séries e programas de TV conheceu e se apaixonou pelo futuro marido Kit. A produção mostra a vida dos dois ao longo de 13 anos, alguns altos e baixos do relacionamento, e as horas difíceis que o casal teve de enfrentar quando Kit foi diagnosticado com um câncer agressivo. Aliás, a deixa do final triste, o narrador – o próprio Michael – já dá logo na abertura do filme, e daí vem o seu título.

A grande força de Spoiler Alert é o elenco: sob o comando do comediante/diretor Michael Showalter – responsável pelo ótimo Doentes de Amor (2017), indicado ao Oscar de Roteiro Original – são os atores e as interações entre os personagens que conquistam o público. Jim Parsons, da série The Big Bang Theory, vive Michael, e Ben Aldridge, recentemente visto no suspense Batem à Porta (2023), de M. Night Shyamalan, interpreta Kit. Os dois têm boa química e rapidamente fazem com que o espectador torça pela felicidade do casal. E de quebra, o diretor ainda consegue um bom elenco de apoio, incluindo os também simpáticos Bill Irwin e Sally Field como os pais de Kit.

UNIÃO PERFEITA DA COMÉDIA E DO DRAMA

De fato, é um filme tão simpático que até uma cena como a “saída de armário” de Kit frente aos pais não traz lá um grande drama. E devido ao seu protagonista, o filme de vez em quando toma permissão dos seus pensamentos e encena alguns momentos da vida de Michael como se fosse uma sitcom. É o ápice de invencionice e de surrealismo narrativo a que o filme se propõe, e essas cenas acabam sendo no máximo engraçadinhas. No entanto, o roteiro até consegue fazer um uso bastante emotivo desse expediente próximo do final.

Esse é o feito de Spoiler Alert: é uma “dramédia” que transita entre os polos da comédia e do drama de forma muito orgânica. Era algo que Doentes de Amor, aliás, também fazia com propriedade.

É verdade que um traço em comum em filmes românticos voltados para um público LGTBQIA+, ou que ao menos são sobre um casal de mesmo sexo, é o seu final infeliz, como se o cinemão mais comercial ainda não tivesse apreendido a possibilidade de uma visão mais positiva ao abordar esse tipo de história. Spoiler Alert não foge disso – spoiler! – mas abre o jogo sobre esse aspecto desde o início, e por se tratar de uma história real, acaba passando.

Porém, por outro lado, é um filme leve, com censura leve, e por isso mesmo possui a capacidade de atingir um público mais amplo e ajudar na normatização desse tipo de produção. Spoiler Alert apresenta personagens humanos interpretados por atores muito competentes, e faz o público rir em alguns momentos e se emocionar em outros. E essa emoção é genuína, honesta, e não é manipulativa. Não traz nada de novo, nem vai entrar para a história do cinema, mas é um filme bom de se assistir, e às vezes não se precisa mais do que isso.