Utilizados para enriquecer as jornadas de Joel (Pedro Pascal) e Ellie (Bella Ramsey), os flashbacks de “The Last of Us” renderam momentos inesquecíveis ao longo desta primeira temporada, incluindo, aqui, o emocionante terceiro capítulo com o parêntese aberto para contar a história de amor entre Bill (Nick Offerman) e Frank (Murray Bartlett). “Left Behind”, sétimo episódio da série da HBO, aposta mais uma vez neste tipo de narrativa, porém, circulando em caminhos já percorridos e ainda cortando a tensão de um momento que deveria ser importante. 

“Left Behind” inicia em uma casa abandonada onde Joel agoniza ferido no abdômen, enquanto Ellie está desnorteada sem saber o que fazer. Quando ele pede para que vá embora, a garota se vê em um dilema entre fugir ou permanecer para salvar seu protetor. Não demora muito para voltarmos no tempo na época em que Ellie era uma jovem estudante e candidata a um alto posto na FEDRA, apesar das brigas com as colegas. Certa noite, o quarto onde dorme é invadido pela ex-colega, integrante dos Vagalumes e amiga Riley (Storm Reid). No meio do apocalipse, as duas vivem uma noite mágica em um shopping desativado. 

CLIMA ‘STRANGER THINGS’

Se a Ellie adolescente empolgada com qualquer novidade era divertido e dava uma dimensão do que era uma geração sem acesso ao mais básico do nosso cotidiano nos primeiros episódios, nesta altura do campeonato, já não causa o mesmo impacto. Não à toa a sequência na escada rolante soa menos divertida assim como conhecer um shopping e tê-lo só para si e Riley. Isso não significa, entretanto, que tudo seja um tédio: todo o trecho no fliperama, ainda que recorde a nostalgia de “Stranger Things”, traz uma bela homenagem de “The Last of Us” a games clássicos como “Mortal Kombat”, fundamentais para abrir o caminho para a franquia de Neil Druckmann. Também vale destacar Ellie olhando uma lingerie, permitindo ao público entrar um pouco na intimidade dos desejos dela, um momento raro diante do fim do mundo. 

Ainda assim, os 57 minutos de “Left Behind” soam extremamente previsíveis. Assim que chegam no shopping, não precisa ser o maior especialista na série, game ou um roteirista brilhante para notar a verdadeira razão do flashback – e, quando acontece, a diretora Liza Johnson (passagens por “Barry” e “Feud”) não o explora tão bem. A relação de Ellie e Riley é um romance adolescente bonitinho, fofinho, interpretando por duas boas atrizes, serve para provocar a (extensa) banda podre, machista e imbecil dos nerds e incels mas, no geral, já vista aos montes nas comédias românticas ou nos romances juvenis da Sessão da Tarde e pouco adiciona para a evolução da heroína.  

A decisão por este flashback se mostra ainda mais questionável ao quebrar a tensão trazida pela dramática situação de Joel. Afinal, os pontos verdadeiramente altos de “Left Behind” são justamente no começo e fim do episódio. Em reta final, “The Last of Us” cria um anticlímax e deixa uma leve dúvida sobre como a série dosa e necessita mesmo de constantes flashbacks.