Quanto vale um sonho e viver dele? Quanto vale buscá-lo e ir contra todas as probabilidades? E, principalmente, quem é que pode bancar viver/buscar/realizar um sonho?

Com pouco mais de 20 minutos, “Três Canções para Benazir”, disponível na Netflix e indicado ao Oscar de Melhor Curta-Metragem em Documentário, acompanha a rotina do jovem Shaista. Recém-casado e com um filho a caminho, ele vive em um campo de refugiados onde sustenta a família graças à venda de tijolos que produz.

Shaista, porém, quer uma vida mais próspera, o que o leva a se alistar no Exército local para o desgosto da família e comunidade. O jovem pensa em ser o pioneiro em ir atrás de melhores condições de vida, enquanto os demais são contra, inclusive, afirmando que não irão cuidar da esposa dele, a Benazir do título.

UM OUTRO OLHAR SOBRE O AFEGANISTÃO

Em meio a estas incertezas, os diretores Elizabeth e Gulistan Mirzaei mostram um outro lado da moeda quando pensamos em Afeganistão. Existem famílias, pessoas e sonhos – ou a falta deles – já que a guerra e o terror constante os levam apenas para outros caminhos de sobrevivência. Não existe outro meio para viver senão desta forma. E ser invisível, ainda que um onipresente dirigível (possivelmente estrangeiro, EUA talvez?) os monitore 24h por dia.

Chama a atenção a maneira como vivem, sem nenhum saneamento básico, em meio ao esgoto, lixo, terra. Mas ainda assim, há alegria, como quando ele e seus amigos se divertem ou no amor do novo casal e Shaista canta apaixonado para sua risonha Benazir.

A sensação é que existe muita história para pouco tempo, mas é um panorama interessante para compreendermos o outro lado. O que fazer com esses sonhos que parecem simples e não podem ser concretizados e viver em uma eterna prisão em que já se está condicionado naquela condição miserável de vida, sem estudo, sem trabalho, sem dinheiro, sem o básico? O conformismo parece a única opção possível.

“Três Canções para Benazir” é sobre sonho, crescimento, luta para viver minimamente melhor em um território que é inimigo para todos. Mas, sobretudo, tenta humanizar os diversos Shaistas espalhados por todo Afeganistão que já nasceram em meio à guerra. Pessoas que sequer têm direito ao sonho. Portanto, para eles, o sonho e a busca de um futuro próspero custam muito caro.

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