A Very English Scandal, minissérie da BBC One disponível na Amazon Prime Video e baseada em fatos reais, traz todos os elementos que justificam o seu nome. Temos um escândalo político a partir de um affair proibido, uma conspiração de assassinato, um caso de tribunal e uma ampla cobertura da imprensa. Poderia ser um dramalhão, mas, possui um delicioso senso de humor extremamente ácido e excêntrico, conduzidos da forma mais sensacionalista possível.

Sensacionalista aqui pode parecer até pejorativo, mas é exatamente isso que torna a série tão interessante. A fofoca, querendo ou não, é a maneira mais atrativa de segurar o espectador de “A Very English Scandal” que lida com personagens sem nada de positivo nas suas vidas privadas e que poderiam facilmente serem rejeitados pela opinião pública.

Em plenos anos 1960, época em que a homossexualidade era considerada um crime no Reino Unido, a série retrata o polêmico caso amoroso do político britânico Jeremy Thorpe (Hugh Grant) e do modelo Norman Scott (Ben Whishaw). Após o término, Norman ameaça tornar público o relacionamento, o que faz o líder do Partido Liberal elaborar um plano sombrio. A ideia, porém, vaza e o imbróglio vai parar nos tribunais.

Escrita por Russell T. Davies (“Queer as Folk”, “Doctor Who”) e dividida cuidadosamente em três episódios, “A Very English Scandal” traz Stephen Frears como diretor. Igual feito nos filmes mais recentes da carreira – “A Rainha”, “Victoria e Abdul” e “Florence – Quem é Essa Mulher?” – o cineasta traz uma história contada de maneira linear e sem grandes invenções narrativas.

Por outro lado, os episódios são repletos de cenas curtas e cortes rápidos, dando uma sensação de urgência com o máximo de situações esdrúxulas possíveis. A própria utilização de uma tipografia dos tabloides sensacionalistas britânicos para informar locais e datas serve tanto para dar este senso de velocidade da notícia assim como uma crítica a um jornalismo propagador de infâmias e o tom de uma fofoca chamativa, uma visão barulhenta que a narrativa se pauta fielmente.

O EFEITO DA FOFOCA EM “A VERY ENGLISH SCANDAL”

Aliás, a própria concepção de fofoca aqui assume duas posições: pelo lado positivo, ela atua para revelar a verdadeira essência do que as pessoas escondem no privado, enquanto o poder para destruir uma imagem pública mostra-se como o aspecto negativo. Dentro deste cenário, Jeremy Thorpe e Norman Scott são frutos de uma opinião pública que os censurou nas suas vidas privadas.

Jeremy, por exemplo, está ciente de como terá sua condição sexual censurada pelas regras sociais que deve seguir para ser bem-sucedido na vida pública. Torna-se simbólico vê-lo ruir no episódio do julgamento: frustrado, notoriamente cansado e humilhado publicamente, ele sabe que tudo pelo que lutou chegou ao fim e não mais poderá exercer a sua atividade profissional.

Apresentado como um personagem inseguro, frágil e totalmente dependente emocionalmente, Norman se vê obrigado a revelar sua vida íntima após sofrer uma tentativa de assassinato. “A Very English Scandal” até exagera na vitimização do personagem dentro de um relacionamento extremamente tóxico, porém, isso acaba compensado no melhor momento da trama em que o personagem, silenciado a todo momento, luta pela sua dignidade.

Ao final de “A Very English Scandal”, você entende o propósito do formato da narrativa apresentado por Davies parecer um tabloide sensacionalista. O final seria cômico se não fosse trágico, pois, tudo nesta história é hilário. Ela mostra o poder que uma fofoca possui para reduzir indivíduos a comentários pejorativos de pessoas que nem as conhecem de verdade. Um escândalo perfeito para os que estão ávidos por esse tipo de informação. Um rebuliço moralista. Um verdadeiro julgamento público.