Amo a Itália e aquilo que ela representa culturalmente. Um dos meus passatempos favoritos é assistir produções visuais e ler histórias que se passam no país. Logo, a trama de uma garota que decide largar tudo para conhecer as ruas captadas por Federico Fellini me atraiu pela sinopse.
Dirigido por Taron Lexton, “Em Busca de Fellini” se passa em 1993, ano da morte do diretor. Acompanhamos Lucy (Ksenia Solo), uma jovem tímida e infantilizada, devido a criação super protetora dada por sua mãe (Maria Bello). Um dia, ao assistir “A Estrada da Vida” (1954), tem uma epifania e enxerga-se em Giulietta Masina, esposa e musa de Fellini, decidindo mergulhar no universo do diretor.
De “A Doce Vida” (1960) a “Amacord” (1973), a protagonista se sente envolvida pela narrativa enérgica, intrépida e surrealista do mestre italiano; tomando a decisão de conhecê-lo pessoalmente.
Uma jornada com ares fellinianos
A jornada de Lucy, na verdade, é um processo de amadurecimento e autoconhecimento. Ela passa a vivenciar situações que a proteção materna nunca lhe permitiu, como encarar o luto e a fatalidade da morte, por exemplo. A busca pelo cineasta se revela uma procura por si mesma e por quem ela almeja se tornar.
Nesse sentido, há um leve vestígio das personagens de Masina na protagonista, seja por sua ingenuidade em acreditar nos homens que surgem em sua trajetória como a otimista Cabíria, de “Noites de Cabíria” (1957), ou a própria fuga da segurança de sua redoma, a qual rememora um pouco as inquietações de Julieta, em “Julieta dos Espíritos” (1965), primeira produção felliniana em cores.
Já que citamos sua obra surrealista, cabe ressaltar que o roteiro também brinca com o onírico e o real. A cinematografia de Kevin Garrison oferece colorações diversificadas para que compreendamos o que é realidade e o que é etéreo. As luzes que permeiam a trajetória da protagonista esboçam uma atmosfera rente a fronteira entre a realidade melancólica de seu lar e a fantasia dos filmes que a seduzem.
Conforme Lucy vai se perdendo pelas ruas italianas, no entanto, os tons se misturam e, de forma simbiótica, fábula e realidade se fundem. Essa sensação é compartilhada ainda pelas inserções e referências a cenas e personagens de Fellini.
Equilíbrio entre história e tributo
“Em Busca de Fellini”, contudo, não é um filme voltado apenas para apreciadores do maestro. Serve mais para uma introdução ao público mais jovem sobre o mundo do diretor. E é partindo deste olhar que a produção ganha contornos mais robustos. Afinal, estamos diante de uma história leve, sem grandes conflitos sociais ou existenciais e que tenta dialogar com o fantasioso e o real de forma ingênua, dócil e afetuosa.
Lucy é uma personagem boba, que está constantemente com os olhos arregalados, espantada pelo que conhece. Como o público a qual o filme se volta, ela se vê diante de um mundo novo com responsabilidades e alvos que se adequam a sua personalidade e a redoma que a acompanha.
Assim, em seu primeiro longa-metragem, Taron Lexton procura um equilíbrio entre contar sua história e prestar um tributo a Fellini. Entre referências e caminhadas pelas cidades italianas, entrega uma trama boba e que serve para conquistar a nova geração para o cinema e a cultura romana.
Vale a pena apresentá-lo aos tiktokers.