Retratos de Manaus, de Sérgio Cobelo

Dirigido por Sergio Cobelo, que faleceu durante o processo, o documentário declara amor a Manaus a partir de temas como a noite, os índios urbanos e as palafitas. As imagens são acompanhadas por poesias de artistas como Aldísio Filgueiras, além de depoimentos de populares.

Seu maior trunfo é a fotografia, assinada por Yure César. As imagens captam as cores da nossa cidade e dialogam com os poemas. Neste ponto, a montagem ajuda. No todo, porém, ela, ao lado do som abafado dos depoimentos, compromete o resultado final. Vemos uma colcha de filmetos com jeitão de TV Brasil sem nenhuma concatenação. O único ponto que os une é o tema “Manaus”.

Apesar destas arestas, vemos um filme bem produzido e que contribui para o movimento espontâneo de valorização de Manaus e da caboquice, visto especialmente em setores descolados da classe média.

Nota:8,0

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Filhos do Haiti, de Ari Santos

De longe, o filme mais bem intencionado e, ao mesmo tempo, com mais dificuldades técnicas e narrativas. “Filhos” procura mostrar a vida dos imigrantes haitianos na Paróquia de São Geraldo, em Manaus, que chegaram a partir do ano passado.

Há depoimentos de missionários da igreja e de lideranças da comunidade haitiana. O documentário apresenta poucos problemas de som, mas, infelizmente, apresenta uma fotografia com planos pouco elaborados, cheios de zooms desnecessários e sem o cuidado de não deixar aparecer o microfone durante algumas tomadas. A história se concentra em declarações de agradecimento à hospitalidade manauara e de constatação de diferenças culturais entre as duas culturas. Não há aprofundamento em nenhum dos pontos.

Além disso, o documentário apenas pincela sobre as dificuldades de um povo que fugiu de uma tragédia busca oportunidades no estrangeiro. É uma pena que “Filhos do Haiti” não tenha investigado a fundo e com apuro técnico um tema tão interessante.

Nota:5,0

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 Chão Molhado, de Everton Macedo e Silva

“Chão” é a bela surpresa da mostra. O documentário realizado pelo jovem Everton, de Parintins, mostra os estragos da cheia histórica deste ano na cidade. Seu maior trunfo é a fotografia, que mostra a chuva, as inundações e os estragos da cheia com uma beleza respeitosa. Há até piadas visuais, como a “ponte Rio-Niterói”, que é um rip-rap, e referências ao fabuloso Garantido e ao, blé, contrário.

“Chão” perde pontos nos depoimentos. Por terem sido captados em som direto, eles só se fazem compreendidos se o espectador souber inglês e ler as legendas. Além disso, seu naturalismo contradiz toda a poesia da fotografia, o que diminui a força do filme.

No fim das contas, temos um filme de fotografia muito pensada, mas conservador na narrativa. Mesmo assim, Everton mostrou todo o seu potencial, ainda latente em alguns pontos, em Chão Molhado. Se continuar nesse caminho, teremos um grande realizador audiovisual em Parintins daqui alguns anos.

Nota: 7,5

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Cinema En Trânsito, de João Auereo

Também de Parintins, o documentário mostra o trabalho, desenvolvido pela UFAM, que envolve cinema e identidade cultural na Casa de Trânsito Sateré Mawé da cidade. Os moradores do lugar assistem a filmes sobre outras comunidades indígenas e, a partir desse conhecimento do outro, vão aprendendo mais sobre si próprios. É admirável a ênfase que o diretor dá ao orgulho que os Saterés têm de sua cultura, em especial do ritual da tucandeira, e à sua vontade de difundi-la.

Com jeitão de Doc-TV, “Cinema” também acerta ao mostrar os indígenas aprendendo a fazer audiovisual e, em seguida, divulgar o resultado do processo na medida certa dentro da história. “Cinema En Trânsito” não tem nenhum grande momento. Mas é o selecionado da mostra que tem mais equilíbrio técnico e narrativo.

Nota:8,0

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 A Última Travessia, de Joice Caster

Se pudermos definir este documentário em uma palavra, ela seria “saudosismo”. “A Última” mostra os momentos finais da balsa do Iranduba, que, com a Ponte, perdeu movimento e fechou ano passado. Há depoimentos sobre como era a rotina do meio de transporte na época que ele era crucial. Nestes, o documentário ressalta que as balsas eram a fonte de sustento de muitos irandubenses, que faziam comércio nas bases da balsas. “A Última” também acerta ao não endemonizar o “progresso”. Trata-o como uma realidade intransponível, com perdas e ganhos.

A maior perda do documentário está na produção. A diretora usou câmeras defasadas e fontes grosseiras para os seus títulos. Dessa forma, há um ranço amador no curta, mesmo com todo seu cuidado na fotografia e na narrativa. Além disso, o final, apesar de bonito, poderia ter menos gorduras, ser mais conciso.

Mesmo assim, “A Última” cumpriu o seu objetivo de registrar uma história que não existe mais.

Nota:7,0

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No Rádio do Seu Coração, de Elisa Bessa e Ladilce Pontes

 O documentário é uma sincera homenagem ao rádio. Por meio de depoimentos de entrevistados das mais diversas origens, as diretoras procuram mostrar como é a relação apaixonada deles com o meio de comunicação. As boas intenções perdem brilho por causa da abordagem, da falta de foco narrativo e de algumas falhas na produção.

“No Rádio” mostra a importância do meio nos anos 2010, mas se contradiz ao tratá-lo como superado, antigo. O documentário também procura fazer um apanhado geral sobre o tema. Com isso, fala sobre tudo e não se aprofunda em nada. Ele poderia ter ido muito mais longe se investigasse com afinco questões como a importância do meio para a vida no interior ou a relação dos jovens com ele.

A produção de “No Rádio” tem pontos baixos, como a entrevista com a radialista Ana Rita Antony. O barulho das pulseiras dela batendo na mesa de vidra causa humor involuntário num momento importante da história. Assim, a intenção do documentário em homenagear o rádio é clara, mas poderia ter sido mais forte se tivesse tido alguns cuidados e foco.

Nota:6,0