Continuações tardias são sempre complicadas. Geralmente são recebidas com indiferença porque, quanto mais tempo passa, mais as pessoas têm a chance de imaginar “a sequência perfeita” em suas mentes, e aquela que finalmente chega às telas nunca consegue corresponder à antecipação e idealização do publico. No entanto, logo nos primeiros minutos de Debi e Lóide 2, fica claro que os vinte anos que separam esta continuação do seu antecessor parecem não ter passado. Debi (Jeff Daniels) e Lóide (Jim Carrey) estão bem mais velhos, mas continuam tão divertidos quanto na época em que os conhecemos em 1994. E parecem ter ficado ainda mais idiotas.

Afinal, o filme começa com Debi visitando Lóide na casa de repouso… onde o ultimo revela que pregou uma peça no primeiro por 20 anos! Depois eles se reúnem e Debi diz a Lóide que precisa de um transplante de rim com urgência. Ambos saem em busca dos parentes de Debi e encontram a famosa Freida Felcher, mencionada no primeiro longa, e não a reconhecem – talvez porque ela seja interpretada por Kathleen Turner, uma atriz que hoje parece completamente diferente da sua época de sex-symbol nos filmes dos anos 1980, e por isso mesmo é difícil reconhecê-la… Turner pelo menos demonstra um grande senso de humor a respeito.

De qualquer maneira, segundo Freida, Debi tem uma filha que foi posta para adoção e os amigos partem à procura dela. A garota, Penny (Rachel Melvin) foi adotada por um cientista, e a esposa deste (Laurie Holden) o trai e pretende vê-lo morto, mas Debi e Lóide interferem e…

Bem, no fim das contas nada disso importa, porque a trama criada pelos diretores Peter e Bobby Farrely e mais quatro (!) roteiristas é de um nonsense total. De fato, a continuação repete a mesma estrutura do original: novamente é um road movie, com Debi e Lóide pegando a estrada numa pequena viagem pelos Estados Unidos e indo de uma situação maluca para a próxima. Vários elementos do primeiro filme reaparecem, como o garotinho cego amante dos pássaros, ou o carro dos heróis com sua cobertura em forma de cachorro. Até a subtrama da dupla sendo ameaçada por perigosos bandidos basicamente repete algumas situações vistas no filme de 1994, e Lóide de novo tem um sonho romântico no meio da história que o coloca, claro, como herói de ação.

E mesmo que o filme perca um pouco de fôlego próximo ao final, os irmãos Farrely tentam de tudo para manter a comédia fluindo. Há desde piadas visuais, como o bandido que se “camufla” e o momento em que Jim Carrey fica com o rosto perigosamente próximo de um cão feroz, até as tradicionais situações escatológicas: Debi é visto trocando as fraldas de Lóide, e depois este tem um hilário encontro com uma velhinha tarada que obriga o personagem a fazer um curioso “trabalho manual” para ela… A encenação dos irmãos Farrely é bem simples e sem sofisticação, assim como a caracterização dos personagens da história, mas essa simplicidade funciona – assim como no primeiro – porque sofisticação não é algo que pertença ao universo destes dois personagens.

Mas há também algumas piadas mais sutis, algumas decorrentes do diálogo, como Lóide dizendo que “a idade é uma letra”, ou a referência a Breaking Bad no início do longa. E neste segundo filme, a estranha sexualidade dos dois heróis rende algumas das melhores piadas – apesar de toda a correria para encontrar Penny e de todo o interesse de Lóide por ela, não exatamente vendo-a como a “filha do melhor amigo”, ambos os personagens são bobos e inocentes demais para poder transformar suas fantasias em realidade. Debi e Lóide continuam com uma mentalidade absolutamente infantil, e nunca se tornam irritantes ou esquisitos por causa da química entre Daniels e Carrey, capazes de retornar com facilidade impressionante aos seus papeis.

E o filme quase nunca os olha com superioridade ou condescendência. Claro, às vezes a idiotice de ambos fica clara demais para qualquer um ao seu redor, como na cena em que Debi e Lóide riem da possibilidade de existirem mulheres doutoras, ou quando um deles grita “Mostre seus peitos” para a organizadora de uma conferência. Mas na maior parte do tempo, os Farrely olham com carinho para seus heróis e se colocam no nível deles. Além disso, também o cercam de outros personagens que não são exatamente inteligentes ou nobres. Para os irmãos cineastas, parece haver um pouco do Debi e do Lóide em todo mundo, e a maior proeza de ambos os filmes é nos colocar no “estado mental” dos dois personagens. Por algum tempo, ficar nesse estado pode ser uma experiência muito divertida.

Nota: 7,5