Com uma história de amor que transcende fronteiras e vai além do público LGBT, o filme “Esteros”, um drama autobiográfico do diretor argentino Papu Curotto, chega ao Brasil, em um filme em que a problemática da juventude e da cultura binacional também se destacam.

“Muita gente além do público LGBT se interessou pelo filme e eu acredito que é porque essa história não mostra somente uma questão homossexual. É uma questão amorosa. Fala de amor, não de sexo”, contou à Agência EFE o diretor, que está no Brasil para o lançamento da obra.

O longa-metragem debuta comercialmente no Brasil após receber prêmios internacionais, como o do 44º Festival de Cinema de Gramado, em que recebeu o Prêmio Especial do Júri e o Prêmio do Público na categoria de Filme Estrangeiro.

“‘Esteros’ é uma história muito pessoal, pois meu primeiro filme não poderia ser outro. Tivemos muito tempo de desenvolvimento do roteiro e estou muito contente com os resultados”, contou o diretor, que também recebeu prêmios em Argentina e Peru.

O roteiro é baseado na própria história do diretor que, durante a sua infância na década de 1990, teve o despertar sexual com um amigo.

Aconteceu sob uma educação rígida e com um sentimento que ficou preso por dez anos, após os quais os personagens se reencontram e têm a oportunidade de se redescobrirem.

Com o incentivo da roteirista argentina Andi Nachon, amiga pessoal do diretor, a história foi adaptada para as telas com gravações em Pasos de los Libres, pequena cidade argentina na fronteira com o Brasil, onde ocorreram os fatos.

O diretor conta que, apesar de que ainda haja um longo caminho no combate à homofobia, a situação dos homossexuais na argentina melhorou, principalmente nas grandes cidades.

“Na adolescência, a sexualidade é um tema difícil de ser tratado. Nós ainda estamos experimentando e nem sempre gostamos das coisas. Mas nessa fase as ideias marcam as nossas vidas. No meu caso, eu sempre fui muito respeitado e amado pela minha família e isso me fez muito mais forte”, revelou Papu.

A condição de crescer tão próximo ao Brasil aproximou o diretor da cultura do país, o que também se faz presente no filme; a produção contou com a participação de um estúdio brasileiro e de dois atores do país: Felipe Titto e Renata Calmon.

Papu também aproveita a estadia no Brasil para discutir questões de seu próximo filme, ‘Leoncito’, que contará a história de um casal de lésbicas na criação do jovem León; o filme será dirigido em conjunto com a amiga Andi e contará com a atriz brasileira Maria Fernanda Cândido.

Perguntado sobre as dificuldades do trabalho, o diretor contou que estudou muito dirigindo jovens atores, sobretudo no esforço de comunicar a eles o que pretendia.

“Em ‘Esteros’ eu senti dificuldade, como diretor estreando, de dizer em voz alta para a equipe o que eu queria, sendo que todos ali tinham mais experiência em cinema do que eu”, confidenciou Papu.

Com este primeiro filme e ‘Leoncito’, o diretor argentino desponta em uma nova safra de diretores LGBT do cinema.

“O cinema, o jornalismo, a televisão… são muito importantes nas conquistas sociais, porque contam um mundo novo no qual nós acreditamos e que reproduzimos. O que quero transmitir é que a homossexualidade é natural e o filme acredita nisso”, finalizou Papu.

da Agência EFE