Mesclando produções americanas e europeias, Marion Cottilard é um dos nomes mais cobiçados do cinema atual. Woody Allen (“Meia-Noite em Paris”), Christopher Nolan (“Batman” e “A Origem”), Steven Soderbergh (“Contágio”), Michael Mann (“Inimigos Públicos”), Jacques Audiard (“Ferrugem e Osso”) e James Gray (“Era Uma Vez em Nova York”) já se encantaram pelo talento da atriz francesa.

Agora, chegou a hora dos irmãos Dardenne aproveitarem a possibilidade para dar um dos melhores trabalhos da carreira dela. Em “Dois Dias, Uma Noite”, Cottilard vive Sandra, mulher saída de uma forte depressão e que corre o risco de perder o emprego. Para evitar isso, ela terá que convencer 9 dos 16 colegas de trabalho a votarem a favor e recusarem um bônus mensal de 1.000 euros.

Os Dardenne apostam novamente na abordagem realista para construir uma Bélgica dura em plena crise econômica europeia. Sem trilhas sonoras e a utilização de planos longos, “Dois Dias, Uma Noite” mostra uma nação menos solidária para ilustrar os efeitos danosos provocados pelos problemas financeiros nas relações individuais e como sociedade.

Ver Sandra repetir a peregrinação para conseguir convencer os colegas se mostra uma tortura tanto para a personagem quanto para o espectador. Não apenas porque vemos o desespero da protagonista, mas também por compreender a necessidade daquele bônus financeiro para pessoas com mais de um trabalho para completar a renda familiar ou com filhos e as constantes despesas cada vez mais elevadas. O panorama trazido pelos Dardenne impede uma visão maniqueísta da trama em que condenamos alguém por certa decisão.

Essa situação desesperadora se expande ainda mais pelo talento trazido por Cottilard. Aqui, a estrela mundial some diante de uma mulher em crise de stress e depressão aguda. Olheiras, cabelo desgrenhado e o ar de abatimento estão expressos em cada centímetro do rosto da atriz para compor Sandra. Os longos momentos em que a câmera dos Dardenne foca na personagem expõe uma mulher quase sem forças buscando lutar pelo que resta ao mesmo tempo em que traz uma compreensão da quão difícil é o sacrifício que pede aos colegas de trabalho.

“Dois Dias, Uma Noite” se mostra outro acerto da sólida carreira dos irmãos Dardenne em uma crítica necessária ao preocupante caos social dessa Europa em crise. E Marion Cottilard somente comprova ser uma das grandes atrizes da atual geração.