De trabalhos consagrados no Oscar passando pela revelação de nomes vindos da Europa até grandes atuações de monstros sagrados do cinema americano.
O Cine Set elege quais as melhores atuações da década 2010. O site conta apenas produções lançadas nos cinemas e streaming no Brasil entre os dias 1 de janeiro de 2010 a 31 de dezembro de 2019:
ANA SENA
Robert De Niro, por “O Irlandês”: protagonizar um assassino, um soldado da máfia era o papel perfeito para Robert De Niro. São em seus olhares e aparência melancólica, em seus gestos sutis e sua subserviência cega que está a maior parte da mágica que O Irlandês exerce sobre o público. É a melhor atuação do experiente De Niro sem precisar fazer muito. O peso da história fica a cargo de sua atuação tão tocante, seja em sua narração, a idade avançada e a conclusão de um trabalho que ele vem fazendo há décadas com Martin Scorsese.
Menções honrosas: Chris Kyle (Bradley Cooper) em Sniper Americano. Lou Bloom (Jake Gyllenhaal) em O Abutre e Jennifer Lawrence em mãe!
CAIO PIMENTA
Tilda Swinton, por “Precisamos Falar Sobre Kevin”: na década que buscou a ressignificação da mulher dentro da sociedade moderna com mais inclusão, respeito, paridade econômica e de oportunidades no mercado de trabalho, o papel materno também foi alvo destes questionamentos. Nenhuma outra personagem instigou este olhar como Eva, uma mulher que não consegue se conectar com o filho mais velho e se sentir plena na figura de mãe. Tilda Swinton traz o melhor trabalho de uma carreira brilhante e a não indicação ao Oscar é, de longe, o maior erro da Academia nestes últimos dez anos.
CAMILA HENRIQUES
Marion Cotillard, por “Era Uma Vez em Nova York”: que categoria difícil! Sônia Braga, Denis Lavant, Regina Casé, JK Simmons, Rosamund Pike e Cate Blanchett entregaram atuações inesquecíveis, mas Cotillard segue como uma das favoritas desta escriba, com trabalhos impressionantes em “Dois Dias, Uma Noite“, “Macbeth” e “Ferrugem e Osso”. Porém, foi a sua entrega no filme de James Gray que sobressaiu. A construção complexa dentro do melodrama encantou e mostrou por que a francesa segue como uma das grandes de sua geração.
DANILO AREOSA
Michael Fassbender, por “Shame”: não vou negar que adoro atuações contidas, aquelas que o ator ou atriz revelam as dores e conflitos dos seus personagens nos pequenos gestos. Por isso, a minha escolha de melhor atuação na década vai pra Michael Fassbender que em Shame, tem a sua melhor performance da carreira até hoje (o que não é pouco). Ele compõe seu Brandon através de gestos e olhares que traduzem a agonia, a dor e a solidão do seu personagem, sem recair em excessos de caricatura. Não é à toa, que o olhar expressivo de Fassbender serve como uma verdadeira janela de conexão dos sentimentos de Brandon para o público. E se tiver qualquer dúvida sobre isso, veja a cena de enorme beleza em que Carey Mulligan canta “New York, New York” e as lágrimas escorrem pelo rosto de Fassbender.
Menção Honrosa: Leandra Leal por O Lobo Atrás da Porta; Casey Afleck por Manchester a Beira-Mar; Joaquin Phoenix por Ela; Natalie Portman por Cisne Negro e J.K.Simmons por Whiplash.
DIEGO ALEXANDRE
Natalie Portman, por “Cisne Negro” (2010): o desempenho visceral de Natalie Portman como a bailarina obcecada em sua busca pela perfeição é irretocável e não surpreende que tenha levado todos os prêmios naquele ano. A atriz passou por seis meses de intensa preparação, estudando a biografia e o comportamento de dançarinas, praticando balé e exercícios físicos, além de uma rigorosa dieta que a fez emagrecer de tal forma que o seu corpo nunca mais voltou a ser o mesmo. Uma atuação tão antológica que não é somente a melhor da década, como também é uma das maiores de todos os tempos.
DIEGO BAUER
Adéle Exarchopoulos, de “Azul é a Cor Mais Quente”: das atuações mais intensas que já vi. Uma frase assim soa banal, mas realmente acho que a intensidade da atuação de Exarchopoulos rende poucos paralelos. Azul É A Cor Mais Quente é um filme longo, mais de três horas, filmado com planos muito fechados nos rostos das atrizes, e vemos a jovem Adele vivendo à flor da pele suas primeiras experiências mais intensas na vida. O cabelo na frente do rosto, o choro que vem acompanhado de baba e coriza, a forma desleixada de comer e lambuzar-se, o olhar apaixonado, ou simplesmente com tesão, desiludido, em dúvida, furioso. Tudo é vivo, humano, e tem o rosto de Adele Exarchopoulos imenso na tela.
Menção honrosa: Joaquin Phoenix, por O Mestre
HENRIQUE FILHO
Brooklynn Prince, por “Projeto Flórida”: seis anos de idade e muita verdade. Brooklynn Prince merecia todos os prêmios e reconhecimento por ter entregado uma performance surreal como a garotinha Moonee em “Projeto Flórida”. Willem Dafoe que o diga, fazendo um zelador de uma hospedaria popular aos arredores da Disney, que ajuda a menina e a mãe dela a escaparem de todo tipo de confusão. Mas a garota atua de maneira assombrosa: se a Brooklynn Prince não te fez chorar meu amigo, definitivamente você tem uma pedra no lugar do coração. Um filme que possui momentos cruéis e uma surpreendente sensibilidade.
IVANILDO PEREIRA
Emmanuelle Riva e Jean-Louis Trintgnant, por “Amor”: escolher só um trabalho de ator ou atriz como o melhor de uma década é um exercício ingrato, por isso vou trapacear e eleger dois desempenhos do mesmo filme: Emmanuelle Riva e Jean-Louis Trintgnant, duas lendas do cinema francês, atuam juntos em Amor (2013) de Michael Haneke e partem o coração de qualquer ser humano que os assista. Eles dão vida a todo um universo dentro do apartamento onde a maior parte do filme se passa, e trabalham com olhares, seus corpos e rostos, para comunicar o desespero que se instaura num casal idoso quando metade dele começa a desaparecer. Ninguém parece estar atuando ali, o que pra mim é marca de uma grande atuação. Quer dizer, uma não; duas.
LUCAS PISTILLI
Denis Lavant, por “Holy Motors”: no alucinado Holy Motors, Denis Lavant incorpora diversos personagens em um dia de trabalho. Em um filme que muda drasticamente a cada cena, a fisicalidade e dedicação do francês servem como âncora do projeto. Se precisar de provas, assista somente à cena em que ele sequestra a modelo interpretada por Eva Mendes e tente não ficar hipnotizado.
NATASHA MOURA
Denis Lavant, por “Holy Motors”: lembro de terminar Holy Motors extasiada com a experiência proporcionada pelo filme. E, claro, o grande responsável por isso, ao lado da direção absurda do Leos Carax, é a performance inigualável do Lavant. A força do filme é o que o ator faz em cena. Sem nenhum retoque, memorável do início ao fim. Ah, vale citar a participação de Édith Scob, completando esse show de atuações.
PÂMELA EURÍDICE
Adele Exarchopoulos por “Azul é a Cor Mais Quente”: “Azul é a Cor Mais Quente” possui suas controvérsias, entre elas as acusações de abusos sofridos pelas protagonistas por parte do diretor Abdellatif Kechiche. Polêmicas a parte, o filme revelou um dos grandes nomes da década, Exarchopoulos, que domina a tela ao entregar uma composição e interpretação viscerais. A vida de Adele (tradução livre do título original) é bem mais do que a narrativa da personagem. Vinculou-se a própria atriz.
REBECA ALMEIDA
Natalie Portman, por “Cisne Negro”: nesta categoria minha real dúvida foi se deveria creditar Natalie Portman por Cisne Negro ou Jackie, mas decidi ficar com a primeira opção pelo conjunto da obra. Portman é uma atriz que eu sempre acompanhei nos cinemas mesmo que coincidentemente, ela basicamente está em ao menos três filmes na minha lista de favoritos e não poderia encerrar esta década sem lembrar sua grande atuação em Cisne Negro que é o coração do filme e um dos motivos para que eu reassista anualmente o longa.
Menções honrosas: Toni Collette por Hereditário, Emmanuelle Riva por Amor, Leonardo DiCaprio por O Lobo de Wall Street, James McAvoy por Fragmentado.
SUSY FREITAS
Daniel Day-Lewis, por “Trama Fantasma”: depois de muitos empasses, a atuação eleita por mim foi a de Daniel Day-Lewis como Reynolds Woodcock em Trama Fantasma (2017). Convenhamos, não é de hoje que o americano é referência na área – não por acaso, seu trabalho em Lincoln também é citado nesse tipo de lista. Poucos conseguiriam, em plena era das problematizações, o tão brilhante feito de conseguir chamar atenção para esse profissionalismo para além da clara toxicidade que o duo Reynolds/Alma (Vicky Krieps) alimenta em sua relação no longa. Nessa obra estruturalmente mais simples na filmografia de Paul Thomas Anderson, Day-Lewis aglutina elementos que o diferenciam da maioria dos atores: uma precisão cirúrgica na construção das contradições do personagem e o timing de perceber quando as cenas demandam equilíbrio entre ele e o resto do elenco. Sorte de seus colegas de elenco e, principalmente, dos espectadores.
Menções honrosas: Kirsten Dunst (Melancolia, 2011); Tilda Swinton (Precisamos falar sobre o Kevin, 2011); Phillip Seymour Hoffman e Joaquin Phoenix (O mestre, 2012); Sônia Braga (Aquarius, 2016).
WALTER FRANCO
Joaquin Phoenix, por “O Mestre”: foi difícil definir um nome para a atuação de toda uma década, mas tenho que admitir que Joaquim Phoenix define bem o que houve de melhor nesta categoria. Provando ser dotado de uma versatilidade para incorporar diferentes personagens, conseguiu sempre se renovar e mostrar para os espectadores todas as suas facetas. Porém, é no filme “O Mestre” que mostra realmente todo o seu potencial. Trabalhando ao lado de PTA e Philip Seymour Hoffman, Phoenix trás para os espectadores um personagem cujo caráter ambíguo é uma grande característica e se torna bastante difícil de desempenhar sem cair em maneirismos ou clichês. Além deste filme, ainda conseguiu entregar outro personagem de peso em Você Nunca Esteve Realmente Aqui, de Lynne Ramsay, chegando quase a igualar seu nível em “O Mestre”.
Menções honrosas: Mads Mikkelsen (A Caça), Vincent Lindon (Uma Primavera com Minha Mãe), Sonia Braga (Aquarius), Kristen Stewart (Personal Shopper) e Robert Pattinson (Bom Comportamento).
Adèle Exarchopoulos é uma atriz mediana e limitada, olhe os outros filmes dela, sempre as mesmas expressões.. Ela foi bem dirigida por Kechiche.