Na década em que os mexicanos dominaram a categoria de Melhor Direção no Oscar – 5 vitórias – o cinema mundial viu surgir uma nova geração de cineastas do terror, mestres antigos retornarem ao auge com projetos ambiciosos, nomes surgidos nos últimos 20 anos atingirem a maturidade e muito mais.

Contando com filmes lançados no Brasil entre 1 de janeiro de 2010 a 31 de dezembro de 2019, cada integrante do Cine Set elege seu trabalho favorito de diretores nesta década. Confira:

ANA SENA

Jordan Peele, por “Nós”: a obra de Jordan Peele é uma verdadeira aula de direção cinematográfica. Peele brinca com as emoções do público em seus enquadramentos, em seus planos abertos com muito movimento, casando com planos fechados e claustrofóbicos. O controle do diretor sobre o filme está presente no roteiro, fotografia e muito da força dos atores também. É uma obra ousada e realizada com maestria, para um diretor que só produziu o segundo filme ainda. Nós é uma experiência tanto técnica quanto de emoções.

Menções honrosas: O Irlandês (Martin Scorsese), Sniper Americano (Clint Eastwood) e Sicário: Terra de Ninguém (Denis Villeneuve).

CAIO PIMENTA

Richard Linklater, por “Boyhood”: muito se fala do feito de conseguir fazer um filme ao longo de 12 anos. Admiro tal êxito, mas, o que Linklater obtém aqui é muito maior do que isso: é mostrar para o mundo que existe no nosso cotidiano momentos tão mágicos, sublimes e cinematográficos quanto em um blockbuster Disney. Para um mundo que alija cada vez mais das salas de exibição produções como esta, tal lição é valorosa e necessária demais.

CAMILA HENRIQUES

Melhor Diretor de 2015: George Miller, por Mad Max: Estrada da Fúria

George Miller, de “Mad Max – Estrada da Fúria”: eu poderia fazer uma dobradinha de “A Rede Social”, mas não dá para não lembrar do trabalho impressionante de George Miller. A essa altura do campeonato, acho que ninguém esperava muito de um novo filme de “Mad Max”. Mais do que uma surpresa, a obra foi resultado de uma direção precisa porém explosiva de Miller, que coordenou uma equipe inventiva e entregou uma nova heroína para o cânone do cinema de gênero.

DANILO AREOSA

Alfonso Cuáron

Alfonso Cuáron, por “Roma”: Cuarón já seria um forte candidato de estar no topo desta lista por ser o responsável, nesta década, do virtuoso, tenso e imersivo Gravidade. Só que o diretor sempre gosta de galgar patamares mais elevados dentro do cinema. Roma é a sua obra-prima porque é um filme feito com a alma, por um cineasta que parte de memórias idealizadas da sua infância para fazer uma película poderosa intimista. Sua câmera recorta essas perspectivas, sempre através da constância de simbolismos, ao mesmo tempo em que seus travellings laterais, construídos em meio de elegantes panorâmicas, procuram registrar, documentar, desnudar e acolher seus personagens e ambientes – a casa e cada canto dela parecem vivos ou com vida própria. Roma é tão bem pensado visualmente e com um resultado muito forte e humano – apresenta duas das melhores cenas da década – que dá a força necessária para um filme que fala sobre o íntimo e social da natureza humana, além da sua história. Uma obra feita com coração e alma.

Menção Honrosa: Spike Jonze por Ela; Richard Linklater por Boyhood e Damien Chazelle por Whiplash e George Miller por Mad Max – Estrada de Fúria.

DIEGO ALEXANDRE

Alejandro González Iñárritu, por Birdman” (2014): esta década foi marcada pelo triunfo dos cineastas latino-americanos, cujos trabalhos romperam barreiras e conquistaram Hollywood. O mexicano Alejandro González Iñárritu realizou “Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)” com uma técnica impressionante, como se todo o filme fosse um verdadeiro plano-sequência. Tanto talento e versatilidade o levaram a um feito histórico: ganhou o Oscar em 2014 e repetiu o feito no ano seguinte com “O Regresso”, tornando-se o 3º diretor a vencer a estatueta por dois anos consecutivos.

DIEGO BAUER

Jonathan Glazer, por “Sob a Pele”: pensar que citaria Sob a Pele em lista de melhores filmes (ainda mais da década!), assim que o assisti pela primeira vez, seria uma bela piada. Não entendi o filme de cara, ele me pareceu pretensioso. Mas estranhamente não saiu da minha cabeça. Já o revi muitas vezes, e sinto que ainda não o esgotei. Muito mais do que um excelente filme sensorial, com domínio sobre cores, texturas, formas, Sob a Pele traz sensibilidade, apresentando o ponto de vista de uma extraterrestre que nos faz olhar para nós mesmos, sobre como a raça humana parece estar regredindo em suas relações humanas. Melhor som da década, e um dos melhores sons de sei lá quantos anos. Jonathan Glazer conseguiu o raro resultado que é realizar um filme que desenvolve a linguagem audiovisual, é muito bem-sucedido tecnicamente, e ainda funciona poderosamente como drama. E tem Scarlett Johansson num de seus melhores momentos.

Menção honrosa: Lee Chang-dong, por Em Chamas

HENRIQUE FILHO

Darren Aronofsky, por “mãe!”: Quando lançado, “mãe!” dividiu opiniões de maneira fervorosa. Teve gente que detestou com todas as forças e teve um pessoal aí – me incluo nessa turma – que achou o filme um trabalho memorável e que merecia mais reconhecimento. A verdade é que o trabalho de Darren causa repulsa e nojo – propositalmente – um filme que mergulha quem assiste em uma trama perturbadora, claustrofóbica cheia de simbolismos e reflexões. Uma experiência que não tenho muita vontade de repetir, mas que fixou diversas imagens que, com certeza, carregarei para sempre em minha mente. Aronofsky comanda um palco e brinca com sua protagonista de maneira cruel e impiedosa. No fim, ele quer te tirar da sua zona de conforto e consegue.

IVANILDO PEREIRA

Paul Thomas Anderson, por “O Mestre”: o meu eleito não demorou muito para vir à minha mente: para mim, o grande diretor da década de 2010 foi o norte-americano Paul Thomas Anderson. Ele fez três filmes neste período, duas obras-primas, O Mestre (2012) e Trama Fantasma (2017); e um muito bom, Vício Inerente (2014). E os três filmes possuem tons muito diferentes: Trama tem classe e parece um filme dos anos 1940, já Vício é uma viagem lisérgica em forma de filme, e O Mestre… Bem, esse é um filme realmente sem paralelo. E mesmo estando neste patamar, ainda não me parece que PTA chegou ao auge. Fico muito ansioso para ver o que mais ele fará nos anos à frente.

LUCAS PISTILLI

Agnès Varda e JR, por “Visages Villages”: poucos filmes mexeram comigo nessa década como Visages Villages. Pode ter sido o efeito de tê-lo visto em Cannes com Agnes Varda na plateia? Pode, mas o fato é que, junto com o artista plástico JR, ela criou uma obra cheia de amor e memória que – a despeito de seu filme posterior, o derradeiro Varda por Agnès – serve como a perfeita síntese de sua obra.

NATASHA MOURA

Lynne Ramsay, por “Precisamos Falar Sobre Kevin”: não é segredo a minha admiração ao trabalho de Lynne Ramsay e o crime que é o pouco reconhecimento dado a essa mulher. Escolho “Precisamos Falar sobre o Kevin”, mas poderia ser por qualquer outro filme de uma filmografia quase impecável. Com uma técnica excepcional e o completo domínio da suar arte, é digna do título de melhor. E, ainda, representativa às cineastas ignoradas ano após ano pela indústria.

PÂMELA EURÍDICE

Denis Villeneuve, por “Blade Runner 2049”: pensei muito em colocar Damien Chazelle, sem dúvida ele é um dos grandes diretores da década. Villeneuve, no entanto, fez uma proeza que poucos conseguiram até o momento: ele dirigiu a sequência de um clássico e conseguiu colocá-lo em pé de igualdade – e as vezes de superioridade – com o material original, por conta disso, ele recebe este posto.

REBECA ALMEIDA

alejandro gonzalez inarritu oscar 2015

Alejandro González Iñarritu, por “O Regresso”: com muita dificuldade para fazer minha escolha de melhor direção decidi destacar O Regresso por acreditar que, assim como tantos filmes que cito abaixo, ele apresenta grandes méritos em diversos elementos. Entretanto, o trabalho de Iñarritu tem o benefício de manter uma trama bem construída, interessante e que explora ao máximo aquilo que tem ao alcance como as geniais atuações do Tom Hardy e DiCaprio.

Menções honrosas: Martin Scorsese por ‘O Lobo de Wall Street’, Wes Anderson por ‘O Grande Hotel Budapeste’, Damien Chazelle por ‘Whiplash’, Jordan Peele por ‘Nós’, Barry Jenkins por ‘Moonlight, Denis Villeneuve por ‘A Chegada, George Miller por ‘Mad Max: Estrada para Fúria’.

SUSY FREITAS

Richard Linklater, por “Boyhood”: “Boyhood é uma paciente costura de Richard Linklater ao longo de 12 anos, sendo minha escolha de melhor trabalho de direção da década. O longa já teria seu mérito na curiosidade do tempo de produção, mas com ele o diretor apresenta o ápice da capacidade de engajamento de equipe em consonância com a sensibilidade e naturalismo que marca seu senso de autoria no cinema indie americano. Acontecimentos essenciais da vida comum estão presentes, como brigas entre irmãos, a descoberta do sexo ou as mudanças na relação com os pais quando uma criança passa a adolescente e depois a adulto; porém, em cada um deles há uma amplificação sutil da beleza de cada descoberta, das banais às profundas, e com isso o diretor mostra como seu minimalismo trabalha à serviço de um dizer muita coisa ao espectador.

Menções honrosas: David Fincher (A rede social, 2010); Lynne Ramsay (Precisamos falar sobre o Kevin, 2011); Paul Thomas Anderson (O mestre, 2012); George Miller (Mad Max: Estrada da Fúria, 2015); David Lynch (Twin Peaks: o retorno, 2017).

WALTER FRANCO

Thomas Vinterberg, por “A Caça”: Thomas Vinterberg sempre foi um nome de peso no cinema mundial e provou isso mais uma vez em 2012 ao realizar A Caça. Protagonizado por Mads Mikkelsen, Vintenberg consegue tocar em temas delicados com um toque naturalístico bastante próximo do realizador dinamarquês. Acompanhando o peso da culpa por algo que não fez, o personagem de Mads passa por um dos mais complicados julgamentos morais, perdendo amigos e família, tudo isso enquanto acompanhamos ao mesmo tempo o quão frágil são essas relações, como nos separamos por convenções que não fazem sentido e como a culpa, por mais que seja desculpada, continua a pesar nos ombros pela eternidade. A cena da igreja e a cena final na caçada são facilmente os melhores momentos já filmados nesta década.

Menções honrosas: Bong Joon-ho (Parasita), Gabriel Mascaro (Boi Neon), O Som ao Redor (Kleber Mendonça Filho) Sem Rastros (Debra Granik) e Damien Chazelle (Whiplash).