A eleição do Conselho Municipal de Cultura de Manaus acontece no próximo dia 14 de julho. A cadeira do audiovisual é disputada por cinco profissionais do setor:  Liliane Maia, Michelle Andrews, Walter Fernandes Jr, Zê Leão e Zeudi Souza.

O Cine Set segue a série de entrevistas com os candidatos, em ordem alfabética, nesta terça-feira (11) com Michelle Andrews:

Cine Set – Como tem sido a sua atuação no audiovisual amazonense nos últimos anos?

Michelle Andrews – Me considero feminista, atuo pelo movimento negro e trabalho no Coletivo Difusão desenvolvendo projetos culturais. Produzi videoclipes, curtas-metragens e, principalmente, pensei na formação das pessoas que estão iniciando essa carreira ou tem afinidade com a área. Junto com parceiros de trabalho, montei o Centro Popular do Audiovisual, onde trabalhamos a parte técnica e discutimos o audiovisual e direitos humanos.

Minha atuação também tem sido em formar platéia para o setor com pessoas críticas que pensam no desenvolvimento tanto relacionado a questões de investimentos quanto apreciadores do conteúdo local. Essa foi minha atuação ao longo dos últimos 10 anos aliada a pensar cultura como um todo, um processo planetário e não apenas como um recorte.

Cine Set – Como você avalia o trabalho do Concultura nos últimos anos?

Michelle Andrews – Para contextualizar, parto da seguinte pergunta: o que é o Concultura? Ele tem 14 anos, o mandato de 2014 a 2017 foi o primeiro momento em que o conselho teve eleições abertas para a comunidade artística e esta é a segunda vez que vai para o pleito. O outro momento era só indicação por associações ou pessoas de influência da cena artística. Tivemos avanços no atual biênio: conseguiram debater as questões da Lei de Incentivo à Cultura Municipal, o Sistema Municipal de Cultura.

Porém, a gente precisa entrar no ritmo de acelerar o metabolismo. Não ouvimos coisas do tipo: ‘o que queremos para o setor criativo de Manaus daqui a 2 anos?’. Dentro do PIB da Cultura, nós, artistas locais, não sabemos onde estamos.

Eu avalio o conselho de forma média. Acredito que poderia ter avançado mais, porém, consigo também fazer uma leitura de conjuntura, de quem foi e é o prefeito, os impasses. Para avançar mais, eu acho que é preciso haver pactos para melhorar o metabolismo da cultura em Manaus.

Cine Set – Para você, quais os maiores problemas enfrentados pelo audiovisual aqui em Manaus?

Michelle Andrews – São infinitos. Temos um problema básico que é não possuir uma espécie de diagnóstico da cena local. O PIB da Cultura é 0,38% do PIB do Brasil, mas, dentro deste valor, quanto Manaus, Amazonas contribui? É necessário o diagnóstico da cena local com a seguinte pergunta: qual é essa cadeia do audiovisual que temos?

Muito do que falo é a partir de um processo de vivência, mas, precisamos pegar a universidade e pactuar, por exemplo, três TCCs para fazer este mapeamento e ter um ponto de partida para saber onde estamos. Além disso, não temos núcleos criativos, banco de projetos do audiovisual, um banco de investidores que estão a fim de apostar em projetos do setor. A exceção fica por conta do âmbito federal com os editais.

Cine Set – Quais são seus planos caso seja eleita conselheira do audiovisual no Concultura?

Michelle Andrews – Antes de tudo, por mais que eu esteja disputando pela cadeira do audiovisual, se eu chegar a ser eleita, terei que pensar como conselheira municipal de cultura.

Entre as meus planos estão: 1) uma política afirmativa de capacitação com elaboração e desenvolvimento de projetos e prestação de contas para os agentes culturais; 2) uma política de diagnóstico tanto para difusão, distribuição do audiovisual quanto do setor criativo; 3) incentivo à pesquisa no setor do audiovisual para identificar o nosso processo de desenvolvimento com o intuito de entender quais os nossos focos e necessidades; 4) fomento ao turismo como política cultural; 5) reflexão do Plano Municipal de Cultura para ver se foram alcançadas as metas listadas na proposta; 6) ampliação das cadeiras ao observar a cultura como um todo indo além das Belas Artes – cinema, teatro, literatura, música – pois temos também a cultura étnica indígena e negra, popular; 7) sugerir uma plataforma livre e colaborativa das ações, da memória e agenda do Conselho.

Além disso, quero interagir com a classe para saber quais são as pautas prioritárias. Acredito que o Conselho é um espaço legítimo para debater as políticas públicas culturais desta cidade.

Cine Set – Como você pretende manter um canal de comunicação com a classe caso seja eleita?

Michelle Andrews – Eu venho de uma criação de formação de redes. A gente tem tecnologias sociais para dialogar. Desde estar mais presente no Fórum do Audiovisual acompanhando, lendo, sugerindo e provocando até apoiar uma maior formação política da classe gerando debates como o Pacto Pela Cultura (evento promovido no sábado (8) no Musa do Largo). Somente com a interação e criação de redes que vamos conseguir manter o diálogo aberto.