A relação fraternal sempre foi uma temática bastante abordada em diversos setores artísticos. Nem sempre de forma agradável, vide o exemplo de Caim e Abel e todas as propostas que se originaram da tragédia bíblica. Mesmo assim, há ainda relações amistosas que embalam o cinema e conquistam pela união como é o caso dos irmãos Baudelaire e as Bennet. Dentre essas relações, destacaremos o jogo de gato e rato das irmãs Feller e porquê muitas vezes as querelas entre irmãos se resolvem apenas quando tudo está “Em Seu Lugar”.

Em 2005, Curtis Hanson, diretor de obras cinematográficas com ótimo aceite entre o público e a crítica como “A Mão que Balança o Berço” (1992), “Los Angeles – Cidade Proibida” (1997) e “Garotos Incríveis” (2000), trouxe ao cinema a adaptação do livro homônimo de Jennifer Weiner que apresenta duas irmãs cujo único aspecto em comum é possuir o mesmo número de calçado.

A proposta do filme parece estar ligada a mais uma comédia romântica estadunidense, seja pelo título, o trailer, a sinopse e até mesmo pelo pôster promocional do filme que destaca as belas curvas de Cameron Diaz e o olhar inquisidor e incômodo de Toni Collette. Entretanto, ao longo da trama a entrega das atrizes aos personagens, a construção de seus arcos e o aprofundamento dos relacionamentos individuais das irmãs e entre si, confere a trama, mesmo que com muitos aspectos clichês, um belíssimo drama familiar calcado nas relações de percas, ausências e reconciliações.


Por que um sapato é tão importante para uma mulher?

“Em Seu Lugar” é um nome usual para mulheres que diferente de Marilyn Monroe e Satine (Nicole Kidman) tem como melhores amigos, os sapatos.  Por que um sapato é tão importante para uma mulher? O longa-metragem se inicia apresentando algumas respostas para essa pergunta.

Para Maggie Feller (Cameron Diaz), o sapato é uma ferramenta de sedução. Usado para impressionar e demonstrar uma relação de auto poder e transpassar a confiança feminina. Para causar escândalo e paixão. É praticamente uma verdade universal que o salto feminino altera a estrutura física da mulher, melhorando não apenas a estética visual, mas estimulando a própria autoestima, Maggie procura ressaltar isso durante todo o filme.

Já para Rosie Feller, os sapatos lhe dão a segurança que só encontra nos livros, nas calcinhas de algodão, em sua carreira de advogada que está em busca de encontrar brechas, mas nunca de seguir o sue próprio destino como protagonista da própria vida.  Por que tudo isso é importante para entender a relação das mulheres com os sapatos? Porque isso diz muito de quem são as irmãs. Rosie trata seus sapatos com uma adoração virginal quase a mesma que tem com os homens. Quanto a Maggie, os usa para esconder as dificuldades intelectuais e seduzir o que almeja.

“Quando fico deprimida, eu gosto de me agradar. As roupas não me caem bem. A comida só me faz engordar. Os sapatos não”.


Design de Produção e Fotografia

Os planos utilizados procuram dar destaque às irmãs, utilizando uma cenografia com objetos e cores que valorizem as irmãs individualmente e rememorem características de suas personalidades. Uma das cenas é a que estão em uma lanchonete. Num início da cena as duas conversam animosamente, a fotografia deixa as duas no mesmo plano, compartilhando-o. Quando as duas começam a se desentender, as personagens são divididas em quadros diferentes, mostrando um trabalho unificado entre a fotografia e o design de produção.


As mulheres “Em Seu Lugar”

Outro destaque na produção do filme é Shirley MacLaine que recebe a incumbência de ser a avó Ella, que as duas irmãs consideravam falecida. A veterana dar um novo gás ao filme, trazendo uma ambientação diferente e um ritmo, também. Conferindo mais dramaticidade aos arcos individuais da trama. Não chega a ofuscar as protagonistas, mas assume o status de coadjuvante de luxo.

As mulheres são a força motriz que conduz a trama cinematográfica, a forma como elas enxergam a vida e lidam com suas relações denota uma das principais características do filme e que contrapõe as produções anteriores do diretor.

“Em Seu Lugar” vai além do drama entre duas irmãs que possuem o mesmo número de calçado e, aqui também se inclui o clichê montado em torno de filmes que abordam aspectos considerados fúteis do universo feminino. É uma viagem de descoberta, daqueles que ainda estão perdidos na vida adulta e precisam de um norteamento, e, até mesmo de pessoas que já se consideram ter chegado ao ponto mais elevado de sua vida. Sempre estamos em busca de algo, afinal como afirma Shakespeare em “Noite de Reis”, só alcançamos a perfeição após a morte. Enquanto ela não chega, há sempre oportunidade de dar uma nova chance a vida e a “Em Seu Lugar”.