Assim como Breno Silveira (À Beira do Caminho, 2 Filhos de Francisco), José Eduardo Belmonte é um cineasta genuinamente interessado nos pequenos dramas humanos. Em seus melhores filmes – Meu Mundo em Perigo (2007), Se Nada Mais Der Certo (2009) –, perdas, separações e dores levam seus personagens a furiosos embates e a à reinvenção de si mesmos, sem propor teses, traçar panoramas, acusar qualquer coisa que não a dimensão humana, vulnerável, fragilizada deles próprios.

Pois o diretor resolveu levar esse material delicado para uma comédia acessível, encabeçada por astros globais e com um título que não fica nada a dever às comédias românticas chinfrins que são desovadas aos montes no Dia dos Namorados e no Natal. E, apesar de não alcançar as alturas, por vezes magistrais, daqueles dois filmes, Belmonte produz um exemplar de dramédia brasileiro delicado e cheio de empatia, ainda que um pouco ligeiro e superficial: Entre Idas e Vindas (sim, é esse o nome).

Com um elenco bem urdido – além de Ingrid Guimarães e Fábio Assunção, temos ainda Alice Braga (Cidade Baixa), Rosanne Mulholland (Falsa Loura), e Caroline Abras (Se Nada Mais Der Certo), além do próprio filho de Fábio, João –, a obra coloca seus personagens numa viagem que parece leve e sem muitos sobressaltos vista de fora, mas que é um verdadeiro turbilhão para três dos presentes (Ingrid, Fábio e Alice).

Sim, é um road movie, gênero em que o cinema brasileiro tem vários bons exemplares – Central do Brasil, Cinema, Aspirinas e Urubus, o já citado À Beira do Caminho e o pai de todos, Bye Bye, Brasil –, e o filme de Belmonte faz uma contribuição singela a essa tradição. Na trama, as quatro mulheres são atendentes de telemarketing que saem num motorhome pelas praias brasileiras, para celebrar a despedida de solteira de Sandra, personagem de Alice, mas a ideia dá errado ainda no começo, quando o noivo de Sandra confessa que a traiu. Enquanto ela entra em crise, decidindo se vai ou não prosseguir com o casamento, Amanda (Ingrid), Krisse (Rosanne) e Cillie (Caroline) se deparam no caminho com Afonso (Fábio) e Benedito (João). Pai e filho ficaram encalhados na estrada rumo a São Paulo, onde iriam encontrar a mãe de João, que o abandonou quando o garoto tinha apenas cinco anos. A chegada dos rapazes afeta consideravelmente a vida das moças – uma premissa aparentemente machista, mas desenvolvida com destreza e sensibilidade pelo diretor, que também mostra um talento à parte para os diálogos, escritos em parceria com Cláudia Jouvin.

O desenvolvimento dos personagens é o que mais cativa em Entre Idas e Vindas. Apesar da atmosfera leve, e dos bons momentos cômicos criados pelas atrizes (Ingrid já é fichinha, mas Caroline Abras também é uma comedienne eficiente; ainda há uma boa ponta de Letícia Lima, ex-Porta dos Fundos – só Milhem Cortaz, colaborador de longa data do diretor, exagera no tom), tratam-se de pessoas em fuga, com histórias mal-resolvidas no passado e excesso de receios no presente. A relação que se constrói entre Amanda, que é uma espécie de líder do grupo, guiando o motorhome e tentado aconselhar as amigas, mas ela própria refém de uma ruptura traumática no passado, e Afonso, um professor universitário que é amoroso com o filho e tenta se manter positivo, mas vive perplexo com o abandono da ex-mulher, pode não ser original, mas captura o espectador e até comove – o que poderia descrever o filme todo.

Infelizmente, Entre Idas e Vindas não cumpre a contento todas as promessas – há uma subtrama interessante, em que Benedito se apaixona por Krisse, mas ela mal é lembrada ao longo da história; as personagens de Rosanne e Caroline são subaproveitadas, Caroline em particular servindo apenas como um alívio cômico; e, talvez, a própria falta de pretensão do filme também pese, impedindo que a trama ouse mais, explore mais a fundo os traumas dos personagens.

A evidente vontade de agradar, porém, não compromete o resultado: um filme simples (o que é algo bastante complicado de se alcançar), cativante e, no melhor sentido, leve, com personagens de carne e osso e um time coeso de atores, tornando densas e emocionantes essas pequenas histórias pessoais, dir-se-ia banais – humanas, enfim.