Um escritor paulistano encontra um diário jogado no lixo e transforma em um sucesso literário. Mas, claro que o autor original não vai gostar nada disso e vai buscar vingança. 

Este é o ponto de partida de “Maior que o Mundo”, comédia nonsense ambientada na Rua Augusta. A produção marca a estreia do Roberto Marquez na direção de longas-metragens e traz a Luana Piovani, Maria Flor, Gabi Lopes e o Eriberto Leão no elenco. 

A estreia de “Maior que o Mundo” acontece nos cinemas brasileiros dia 18 de agosto.   

O Cine Set conversou com o trio Eriberto, Luana e Gabi sobre a experiência de realizar a produção e o que o público pode esperar do filme: 

Crédito: Pedro Farkas

Cine Set – Como chegou o convite para você participar do filme e o que mais te chamou a atenção na Kbeto? 

Eriberto Leão – Eu recebi o roteiro e pulei de alegria. Há muito tempo eu esperava assistir um filme como “Maior do que o Mundo”, uma comédia com esta pegada contracultural, da boemia com inteligência peculiar em um universo fantástico e de personagens quase fantásticos. Foi uma história que me pegou de imediato. 

Cine Set – Quero que você fale sobre a relação do Kbeto com a Rua Augusta porque é um local boêmio, onde você encontra de tudo um pouco combinando com a loucura da vida da protagonista. Até mesmo com as transformações vividas pela região desde 2018. 

Eriberto Leão – Quando vemos o Kbeto descendo a Rua Augusta, é possível notar a diferença da época em que gravamos o filme (2018) para os dias de hoje. Tinha aquela liberdade, o contato com as pessoas, ninguém tinha medo de se encontrar, de se tocar. 

Não retornei à região, mas, imagino que já não seja como era antes – espero que volte. Mas, poder regressar ao Baixo Augusta com “Maior que o Mundo” – eu que sou do (Colégio) Dante Alighieri, estudei minha vida inteira no Jardins, morei um tempo na Haddock Lobo – acaba sendo uma grande homenagem à minha juventude. Nesta época, aliás, descobri a literatura da contracultura que tem tudo a ver com esse universo. 

Vejo o filme como uma homenagem à contracultura do Baixo Augusta, aos mestres da literatura como Kerouac, Ginsberg, Burroughs e, claro, ao The Doors e às bandas nacionais de rock. “Maior que o Mundo” é um filme bem Rock N’ Roll. 

Crédito: Pedro Farkas

Cine Set – Além de ser uma história completamente maluca, nonsense, uma coisa que eu gosto muito do filme é que ela não está julgando aquele universo com muito sexo, drogas, festas, bebidas. Como você observa isso diante de um período tão careta como a gente está vivendo? 

Eriberto Leão – Considero o filme bastante atual. O Reinaldo Moraes (roteirista) tem esta maestria de lidar com muitas questões com bastante propriedade sem julgá-la – isso está presente, aliás, no grande clássico dele, Pornopopéia”. 

Neste sentido, “Maior que o Mundo” é muito bem resolvido. Realmente tenho a esperança de que este filme abra uma possiblidade da gente adentrar mais neste universo em que tudo é permitido, mas colocado com uma sabedoria grande do diretor e da equipe para que todo mundo goste. Eu acredito nisto e, se alcançarmos, pode ser um marco. 

Cine Set – Eriberto, você lança agora dia 18 “Maior que o Mundo” e na semana seguinte chega aos cinemas “Assalto na Paulista”. São dois filmes bem diferentes: uma comédia e outro mais ação. O que você busca nas suas escolhas para o cinema? 

Eriberto Leão – Isso acontece no roteiro: quando leio o roteiro de um filme que gostaria de assistir, eu digo que estou dentro. Também levo em consideração se sinto que vou conseguir dar vida a este personagem. 

Sobre estes dois filmes, eu li os roteiros e me apaixonei por ambos – são totalmente diferentes, o que me agrada muito. Primeiro fui convidado para “Maior que o Mundo” e, depois, para “Assalto na Paulista”. Era um outro desafio, experiência, um universo diferente.   

Crédito: Pedro Farkas

Cine Set – Como chegou o convite para você participar do filme e o que mais te chamou a atenção na Audra? 

Gabi Lopes – O convite chegou através de uma produtora de elenco, a Erika Slama, Ela tinha dito que o papel era a minha cara e sugeriu o meu nome. Quando ela falou isso e li o texto, eu falei: “como assim?” (risos). A Erika, então, explicou que era pelo fato de eu gostar de me desafiar, de fazer todo tipo de papel, não ter medo e se jogar em cada trabalho. Marcamos o teste para a leitura. A Tatiana Quintella (produtora executiva) e Roberto Marquez (diretor) viram e gostaram. A Audra acabou sendo um grande presente para mim. 

Cine Set – A produtora falou que te via neste papel. Você concordou com ela na primeira leitura da personagem? 

Gabi Lopes – Eu concordei muito! Estou há muitos anos no mercado e já fiz muito papel com o que a Gabi é de fato: mais menina, natural, tranquila – algo que eu amo também. Só que chega um momento que é gostoso mudar. Daí, quando comecei a ler o roteiro todo, notei de imediato ser um filme inteligente, intenso. Fui já me apaixonando pelo próprio universo da história em si. Quando vi a Audra, eu entendi o que a Erika quis dizer relacionado ao desafio que a personagem traria a mim.   

Cine Set – Além de ser uma história completamente maluca, nonsense, uma coisa que eu gosto muito do filme é que ele não está julgando aquele universo com muito sexo, drogas, festas, bebidas nem os personagens. Como você observa isso diante de um período tão conservador como a gente está vivendo? 

Gabi Lopes – “Maior que o Mundo” não julga; ele coloca o conteúdo a sua disposição para que você fique livre para pensar, questionar, entender. Tive a mesma impressão que você quando conheci a Audra, observando a pessoa intensa, catártica e diferente. Se você for ver as pessoas bem jovens, não há toda esta maturidade, consciência tão pré-estabelecida, desenvolvida, logo, você não acha que é errante. Quem erra é a última pessoa a reconhecer o erro.  

Também acho interessante que os próprios personagens também não se julgam.  Considero que “Maior que o Mundo” é sim um filme de personagens errantes, iguais todos nós, seres humanos. Isso é interessante porque foge dos estereótipos criando um universo muito próprio. 

Cine Set – Sua personagem está no meio de um triângulo amoroso incomum entre um pai vivido pelo Eriberto Leão e a filha interpretada pela Maria Flor. Como você acha que ela se encaixa no meio dos dois? A vê gostando de um dos dois ou apenas estava na curtição? 

Gabi Lopes – Sem dúvida, é uma situação delicada. Enquanto Gabi, fiz o possível para não julgar e apenas trazer aquela história. É complexo e não consigo te dizer com precisão, seja como atriz ou personagem, quem ela gosta mais. Porque eu tenho uma sensação de que falta amor próprio para ela e, quando não se tem isso, você não consegue amar ninguém nem sabe o valor do amor ao certo. Sei que parece clichê e piegas, mas, é a realidade. 

Sinto que a Audra não ama; ela vem de um lugar muito efêmero e fluída, onde qualquer local em que estiver e com quem estiver está ótimo. Acho que ela gosta sim da namorada João (Maria Flor), mas, ao mesmo tempo, também se envolve demais com o pai. 

A Audra, no fim das contas, está vivendo muito o presente e não conhece tanto assim o valor da ética (risos). 

Crédito: Pedro Farkas

Cine Set – Inevitável perguntar sobre a sequência do menáge entre a sua personagem, da Luana Piovani e do Eriberto, atores com os quais você já teve a oportunidade de contracenar em trabalhos anteriores. Como foi este momento para você? E os cuidados que vocês tiveram ao fazer a cena?  

Gabi Lopes – A Luana já viveu a minha mãe em “A Mulher do Meu Marido” e o Eriberto foi o Mestre Gael na “Malhação: Sonhos”. Quando soube que esta cena seria com os dois, não pude ter presente melhor. Isso porque, para fazer cenas de sexo, precisa se ter um grau de intimidade, afinal, um corpo vai encostar no outro, logo, é uma situação delicada. Eu já fiz muitas cenas de sexo e sei como precisa ter um grau de cuidado maior. 

Logo, quando vi que eram pessoas que tinha maior intimidade, fiquei mais segura. O Eriberto é um gentleman, uma pessoa incrível. A Luana é uma das pessoas mais generosas que conheço. Me senti muito acolhida. Nunca havia passado por uma situação destas nem no cinema nem na vida real, então, eu não sabia como agir.  

A direção acabou sendo incrível, fazendo toda uma organização para fluir a cena. A Tati Quintella também estava no set e, junto com a Luana, perguntavam quem precisava ou não estar no set durante a gravação. Foi incrível o respeito de todo mundo para rodar este tipo de cena. Não sei se este cuidado todo sempre acontece, mas, em “Maior que o Mundo” tivemos esta sorte. Deve ser mais difícil na vida real do que ali (risos). 

É tanta adrenalina, não pode esquecer o texto e as marcações que você basicamente não sente nada, o que torna tudo muito técnico.  

Cine Set – Você tem uma carreira múltipla – tem até uma matéria que destaca você ser uma pessoa de 7 CNPJs –, mas, destes ramos de atividade, eu quero falar sobre Young Republic Films, a sua produtora.de audiovisual. O que você busca nesta produtora e quais desejos para o seu futuro no cinema, nas séries? De que maneira “Maior do que o Mundo” se encaixa nisso tudo?  

Gabi Lopes Enquanto seres humanos, todos somos múltiplos: você não gosta de apenas um gênero musical, um tipo de filme. O problema é que a sociedade quer nos colocar em caixas. Daí, surgem aquelas velhas situações: “a fulana é atriz, logo, só pode ser atriz porque se tentar ser outra coisa será menos atriz”. Este foi o maior preconceito que sofri desde o meu início na carreira de ação há 20 anos – sou influenciadora há 12 anos e empresário há 8. Hoje, porém, já consigo me aceitar como uma pessoa que tem multiplicidade de carreiras mesmo. Vou levando cada hora mais uma bagagem.  

Sobre a produtora, pensei que, por ser atriz, seria bom também ter esta autonomia de realizar os meus projetos. Há um debate grande hoje na indústria sobre atores que se produzem até pelas dificuldades de se fazer cinema. Logo, ficar refém do que outros produzem para você se encaixar, faz com que se corra o risco de fazer poucos trabalhos. A Young Republic Films nasce dentro deste pensamento.  

Cine Set – “Maior que o Mundo” fala de plágio. Gostaria de saber se você já enfrentou algo do tipo. Qual foi a sua reação? 

Gabi Lopes – Isso está acontecendo comigo. Lancei meu curso recentemente e já estou vendo muitas pessoas com o mesmo conteúdo que o meu. Daí, penso que sim tem o aspecto ruim do plágio, mas, há também o lado bom de ser um sinal de sucesso.  

A diferença que o Kbeto só teve um pouco mais de oportunidade para conseguir lançar aquele livro do que o plagiado vivido pelo Altair Venturini, mas, esta sorte tem um pouco de trapaça por ter pegado o que não é dele sem autorização. 

Crédito: Pedro Farkas

 

Cine Set – Como chegou o convite para você participar do filme e o que mais te chamou a atenção na Mina? 

Luana Piovani – O convite chegou através da produtora e grande amiga minha, a Tatiana Quintella, com quem já fiz três filmes; Ela me ligou falando que tinha um filme de baixo orçamento, meio underground. A Tatiana já havia lido o roteiro e gostado muito. Na hora, eu já falei: ‘ih, baixo orçamento não tem cachê, underground deve ser tudo uma putaria, uma grande loucura’, logo, não dei muita atenção.  

Depois de 15, 20 dias, pegando uma ponte aérea, me lembrei do roteiro e peguei para ler. No meio do voo, eu estava querendo me desintegrar, desaparecer daquele avião para ligar para a Tati e saber se ela havia ou não chamado alguém para o personagem. Afinal, eu queria fazer a Mina mais do que tudo na vida. 

Achei a história muito boa: um anão de circo assassino! Vamos tirar o anão de circo do mesmo lugar de sempre, gente! Vamos ser criativo, né pessoal! Ainda tinha aquela mulher ninfomaníaca dele, louca, maravilhosa! Tem aquelas cenas dantescas de um homem andando sobre o outro. Amei, amei e ainda mais fazendo a Mina que não tem a fuça da Luana Piovani. 

Cine Set – Aproveitando tenho que falar do visual. Porque isso quando a gente vê causa uma estranheza natural, mas, que diz muito tanto sobre a personagem como do próprio universo da história. De que forma você chegou àquele resultado? Qual o impacto que você observa para a construção da personagem? E no dia a dia atrapalhou não ter a sobrancelha? 

Luana Piovani – Quando eu li o roteiro e entendi que “Maior que o Mundo” era completamente underground e das pessoas que estavam sendo faladas, eu compreendi que não poderia fazê-lo com o meu perfil. Precisaria ser um perfil mesmo mais Baixa Augusta. Foi, então, que comecei a me divertir porque nunca pude fazer isso na minha vida. 

Comecei a digerir as coisas e eles foram gostando. Sugeriram o piercing no nariz e eu amei. Fui pirando também e daí veio a franja micro, apagar a sobrancelha, cortar uma costeleta; fui pirando. 

Crédito: Pedro Farkas

Cine Set – Além de ser uma história completamente maluca, nonsense, uma coisa que eu gosto muito do filme é que ela não está julgando aquele universo com muito sexo, drogas, festas, bebidas. Como você observa isso diante de um período tão careta como a gente está vivendo? 

Luana Piovani – Fico muito feliz, pois, esta é uma das funções da arte, ou seja, movimentar as pessoas e fazer com que elas, após assistir ao filme, olhem para a realidade ao seu redor. De fato, não há julgamento delas, pois, estamos contando a história destas pessoas e elas são assim. E o bom de ser underground é que você não precisa dar aquela lição de moral. 

Cine Set – Inevitável perguntar sobre a sequência do menáge entre Kbeto, Audra e Mina. Como foi este momento para você? E os cuidados que vocês tiveram ao fazer a cena, especialmente, no auge do #MeToo? 

Luana Piovani – Acho curiosa esta curiosidade. Todas as entrevistas que estou dando, as pessoas perguntam sobre isso. Eu sempre me defendi, nunca precisei de alguém para fazer isso em todos os perrengues que já passei na minha vida e sempre critiquei o que achava que fosse preciso.  

O #MeToo acaba sendo importante para as pessoas que não têm coragem de denunciar ou de se colocar. Nunca precisei de movimento nenhum para representar porra nenhuma da minha; eu sempre fui lá e fiz.  

Eu não estava com medo de fazer a cena, pois, sabia que não passaria do ponto de onde não quisesse fazer. Quem manda sou eu. O Roberto (diretor) falou sobre o momento ser uma passagem do filme. Sexo existe na vida das pessoas e eles trepam. Fiquei muito tranquila; ninguém estava me obrigando a nada e todo mundo estava querendo fazer logo, afinal, quanto antes começa, mais cedo acaba.  

Cine Set – “Maior que o Mundo” foi feito em 2018 e sendo lançado somente agora. E neste meio tempo você se mudou para Portugal. Você tem planos para voltar ao cinema brasileiro ou o seu foco, a sua carreira até mesmo no cinema será em Portugal? 

Luana Piovani – Espero que vários convites para o cinema brasileiro continuem chegando até mim. Amo fazer o nosso cinema com sua produção primorosa. Tenho muito orgulho dos nossos diretores, roteiristas e da forma como contamos histórias, mas, infelizmente, até agora, não tenho nenhum convite. O momento também não parece muito propício, pois, há uma preferência por séries em streamings.  

Agora, depois da pandemia e com a Ancine travada do jeito que está, não acho que a indústria cinematográfica no Brasil está tão servida assim. De qualquer forma, quero sim e aguardo com ansiedade novos projetos. Sobre Portugal, desejo sim contar boas histórias por lá também.