Depois de se firmar entre as grandes franquias de animação da última década, A Era do Gelo chega ao quinto capítulo acusando o cansaço. Um bom começo, um miolo mediano e um esfuziante quarto episódio depois, e os simpáticos animais pré-históricos criados pelo estúdio Blue Sky (com o brasileiro Carlos Saldanha à frente) ainda divertem, mas já não trazem nada de novo para o gênero – nem, talvez, dentro da saga em si.

Depois de lidar com piratas no último filme, a preguiça Sid (voz de John Leguizamo nos EUA/Tadeu Mello no Brasil), o mamute Manny (Ray Romano/Diogo Vilela) e o tigre-de-dentes-de-sabre Diego (Denis Leary/Márcio Garcia) agora têm de enfrentar a queda de um enorme meteoro, lançado à Terra pelo esquilo Scrat – grande alívio cômico da saga –, que ameaça varrer os mamíferos da mesma forma como fez com os dinossauros. Ao mesmo tempo, Manny vê com apreensão a partida da filha Amora (Keke Palmer), que está de casamento marcado com Julian (Adam DeVine), um mamute simpático, mas atrapalhado, que não lhe agrada como genro.

Tensão familiar e uma ameaça vinda do espaço: duas premissas não muito originais, e o desenvolvimento de ambas, ao longo do filme, padece dessa mesma e incômoda familiaridade. Pelo menos, a trama envolvendo Manny e família fica em segundo plano: é o combate ao meteoro que importa, e ele inspira tudo o que interessa no filme, sobretudo as gags envolvendo a doninha alucinada Buck (Simon Pegg) e os gambás Crash e Eddie (Sean William Scott). O humor de O Big Bang, por sinal, é o ponto forte: se o enredo de aventura é apenas correto, convencional, e o imbróglio familiar não convence, os insistentes respiros cômicos da obra mantêm aceso o interesse, e acertam na graça como poucas outras franquias conseguem. Você poderia argumentar que já viu parecido em todos os filmes da série – com razão –, mas a capacidade de Saldanha e equipe de arrancar risadas continua a contar pontos para ela.

Visualmente, o filme continua a explorar a nova paleta supercolorida iniciada no quarto capítulo, mesmo sem repetir o deslumbre visual daquela obra. O cenário de Geotopia, onde vive um grupo de hippies pré-históricos capitaneados por Shangri-Lhama (Jesse Tyler Ferguson), que conseguem manter a juventude graças aos efeitos magnéticos do último meteoro a atingir o planeta, é o melhor exemplo. Infelizmente, a mesma atenção não foi dispensada ao 3D: mal se percebe a profundidade dos cenários com o efeito.

Um aspecto de O Big Bang que sobressai positivamente em meio a toda a repetição é o didático: não no mau sentido, de explicar tudo ao espectador, sem deixar espaço para sutilezas (e que, aliás, existe), mas aquele mais nobre, de ensinar mesmo: por meio das trapalhadas de Scrat e do raciocínio amalucado de Buck, o desenho apresenta aos pequenos drops sobre o surgimento do universo, a existência ou não de uma força maior, o funcionamento da atração magnética e que-tais. O físico Neil DeGrasse Tyson, da série Cosmos, faz inclusive pequenas aparições como o personagem Neil DeBuck Weasel, um dos sujeitos que habitam a mente de Buck e o tornam tão esperto – e dado a maluquices. Por sinal, o herói doninha divide com Manny o posto de protagonista do filme, relegando Sid e Diego ao segundo plano (Diego, aliás, mal aparece) – e, se Buck carrega a melhor trama do filme, os outros novos personagens também refletem a insipidez da história de Manny: a família de dromeossauros Gavin, Gertie e Roger, que vive um conflito similar de aceitação entre pai e filho.

Sem muito a oferecer na missão de empolgar o espectador, A Era do Gelo: O Big Bang ao menos é divertido, simpático e, para grande parte dos espectadores, confortavelmente familiar. Infelizmente, para a Blue Sky, pode-se exigir muito mais de um filme, e A Era do Gelo arrisca-se a virar uma franquia vazia de sentido. A Pixar já anunciou a intenção de renovar o seu universo nos próximos anos. Talvez seja a hora de se despedir de Scrat e companhia…