A chance de conhecer filmes de diversos países e assistir obras esperadas em primeira mão se tornou no maior atrativo da Mostra Internacional de São Paulo. Criada pelo crítico Leon Cakoff, o evento chega a 37ª edição com mais de 360 longas e curtas-metragens sendo exibidos na capital paulistana.

O Cine Set participa desse grande evento pela primeira vez e traz a análise de alguns dos principais filmes exibidos na Mostra de SP.

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Depois da Chuva

Retratar como o conturbado período de redemocratização mexeu com os jovens brasileiros é a principal qualidade deste filme baiano. Afinal de contas, sentir o interesse político daqueles garotos em discussões sobre as eleições de um grêmio estudantil e o idealismo rebelde vazio do protagonista caem bem como reflexo deste atual momento de ebulição social no Brasil. “Depois da Chuva” traz ainda um direção competente da dupla Cláudio Marques e Marília Hughes, além de uma trilha sonora roqueira da melhor qualidade. /NOTA:7,0

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Wajma

O Afeganistão ficou marcado na memória coletiva após os atentados de 11 de setembro como um país repressor e atrasado. “Wajma” ajuda a enxergar a região após a invasão americana. Com várias cenas gravadas ao ar livre, é possível perceber os contrastes entre o período do Taleban (pobreza na área urbana e mulheres de burca) e as mudanças trazidas pelo Ocidente (produtos marcas do capitalismo e maquiagem como item de beleza). Já a história do filme traz um roteiro básico (jovem engravida inesperadamente e precisa lidar sozinha com as consequências) que ganha força com a chegada do violento pai revoltado com a possível desonra. /NOTA:7,0

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De Menor

Vencedor do prêmio do júri do Festival do Rio, “De Menor” poderia ser um interessante estudo sobre a entrada do jovem do mundo do crime e a incapacidade do poder público em recuperar estes garotos. Infelizmente, a obra não decide qual rumo tomar e vai apostando em diferentes linhas narrativas. Entre as situações de abandono nas famílias pobres e de classe média passando pelo centros sócio-educativos até chegar à própria Justiça, o longa transita por várias áreas, explorando-as de forma rápida. Destaque fica para a atuação da jovem e talentosa atriz Rita Batata. /NOTA:6,5

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Inside Llewyn Davis

Cotado para Oscar 2014, o novo filme dos irmãos Coen acerta nos personagens/situações cômicas e falha no drama. A história de um talentoso cantor folk com pouco espaço no mercado da música traz uma atuação excelente de Oscar Isaac, além de boas participações de Carey Mulligan, F. Murray Abraham e John Goodman. O humor fino e negro tão constante na carreira da dupla responsável por “Fargo” e “Onde os Fracos Não Têm Vez” domina a primeira e melhor parte da obra, criando situações hilárias (cadê o escroto? é a melhar de todos). Porém, “Inside Llewyn Davis cai quando busca fazer uma crítica ao mercado do showbusiness e a arte tratada como comércio. Sem inspiração, a parte final acaba sendo clichê atrás de clichê. Diverte, mas, longe da melhor fase dos Coen. /NOTA:7,5

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Conversas com JH

A discussão sobre as biografias autorizadas ou não chega aos cinemas com este documentário sobre a polêmica do livro do ex-presidente da Fifa, João Havelange. Durante a projeção, acompanhamos as negociações entre o cartola e o autor/diretor da publicação, o jornalista Ernesto Rodrigues, para liberar trechos considerados polêmicos. “Conversas com JH” decepciona devido ao zelo em preservar o polêmico dirigente, seja em dizer que ele foi o brasileiro mais poderoso do século XX ou entrevistados pouco críticos como, por exemplo, Carlos Alberto Parreira e Pelé. Salva-se apenas a reprodução das discussões que revelam um sujeito egocêntrico e com atitudes ditatoriais. /NOTA:6,0

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Miss Violence

A sequência inicial de “Miss Violence” traz danças, família reunida, fotografias, aniversário, bolo. No fim, uma garota se mata após pular da sacada do apartamento onde mora. Dessa forma, o filme grego aponta o clima do que veremos dali por diante: um ambiente doentio em que segredos vão sendo revelados aos poucos. O diretor Alexandros Avranas traz elementos do cinema de Michael Haneke e coloca a violência inserida em um local com aparências normais, levando os personagens ao extremo do desespero. Com as sombras rodeando cada canto da residência e as paredes, portas sendo elementos essenciais para a formação daquele local doentio, a obra ainda traz um dos protagonistas mais asquerosos da história da sétima arte. Imperdível para quem tiver estômago forte. /NOTA:8,0

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Pelo Malo

Fanatismo religioso, desemprego, caos no trânsito, tráfico de drogas, violência, moradias precárias e assédio sexual. Não, não estamos falando da realidade brasileira. Esta é a Venezuela mostrada em “Pelo Malo”. Dirigido Mariana Rondón, o longa traz o panorama do país vizinho como o principal elemento de qualidade. Somente após a revelação do temor da mãe do protagonista, a obra cresce em relação aos personagens. A atuação de Samantha Castillo e do jovem Samuel Lange seguram a produção. /NOTA:7,0

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Entre Nós

A beleza da fotografia do novo filme de Paulo Morelli contribuiu para que o resultado final de “Entre Nós” seja razoável. Isso porque a história se perde em diversas subtramas, demorando para apostar na interação entre os amigos. Tanto é que as duas melhores cenas acontecem próximo ao fim: a abertura das cartas e o jantar. Boas atuações de Caio Blat e Maria Ribeiro compensam a fraqueza de Carolina Dieckmann e Paulinho Vilhena. /NOTA:6,5

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Ilo,Ilo

O prêmio da Câmera de Ouro do Festival de Cannes ao diretor Anthony Chen por “Ilo, Ilo” chama a atenção para este filme. O fato de ser uma produção de Cingapura alimenta ainda mais a curiosidade. Porém, com o decorrer da história, se percebe que a fama não faz jus à obra. Com uma história simples de amizade entre um garoto e a empregada doméstica, o longa apenas difere das tradicionais comédias dramáticas americanas por não utilizar a trilha sonora para conduzir o espectador. /NOTA:6,5

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Revelando Sebastião Salgado

Teoricamente, quem dirige este documentário é Betse de Paula. Porém, na prática, quem realmente comanda tudo é o celebrado fotógrafo: Sebastião Salgado fala e mostra o que quer, apresentando a forma como trabalha e pensamentos sobre a profissão sem grande intervenção da cineasta ou da equipe. Como é um grande contador de histórias e as possui aos montes, faz a obra fluir satisfatoriamente. Entretanto, ao término da projeção, fica a impressão de que mais poderia ser extraído do que o apresentado. /NOTA:6,5