Junto com Guillermo Del Toro e Alejandro González Iñarritu, Alfonso Cuarón forma a trinca dos maiores diretores mexicanos do cinema recente (ou será de todos os tempos?), e dentre os três, o diretor de Gravidade foi o último a receber o reconhecimento devido.

Dono de uma filmografia relativamente pequena de longas-metragens, Cuarón surgiu com um inesperado enorme prestígio por seu trabalho em Gravidade, tornando-se o franco favorito a estatueta de melhor diretor, visto que já recebeu o prêmio do Sindicato dos Diretores e o Globo de Ouro.

Mas todo esse carinho por parte de grandes premiações é uma novidade na carreira deste diretor, que sabe conciliar muito bem duas facetas completamente discrepantes, que é a do diretor dos filmes de arte, focado nos dilemas humanos, com filmes provocantes e complexos, ao mesmo tempo que é um dos maiores nomes atuais quando o assunto é desenvolvimento de novas tecnologias de filmagens, com efeitos visuais cada vez mais arrebatadores.

Antes de fazer o seu primeiro longa, Cuarón realizou três curtas-metragens, ainda na década de 80, e apenas em 1992 lançou Sólo Com Tu Pareja, filme que ficou praticamente restrito ao circuito mexicano.

Depois disso, o diretor realizou dois projetos nos Estados Unidos, A Princesinha (1995) e Grandes Esperanças (1998), que apesar de possuírem alguns defensores, são filmes que passaram batido nos cinemas norte-americanos, e que não mostram todo o potencial que o diretor alcançaria futuramente.

Potencial, aliás, visto com abrangência no primeiro grande filme do diretor: E Sua Mãe Também (2001). Um road movie com Diego Luna e Gael Garcia Bernal bem novinhos, e com uma fúria bestial em suas câmeras, um filme completamente afastado do padrão norte-americano, apresenta a sua história (de dois garotos que convencem uma mulher mais velha a sair em uma viagem sem rumo) sem concessões, mostrando uma maturidade que surpreendeu muita gente.

Três anos depois veio um momento diferente na carreira do diretor, que pra muitos pode ser visto como um deslize, e para outros mais uma prova da versatilidade do diretor, que foi ter dirigido Harry Potter e o Prisioneiro de Askaban (2004). Tenho que admitir que não revi este trabalho, vi no cinema assim que foi lançado, e lembro-me que a minha impressão não foi nada boa, o que me surpreende visto que para muita gente, este é o melhor filme da série antes dos dois últimos.

Nenhum outro filme do diretor, porém, dividiu tanto as opiniões como o seu próximo, o excepcional Filhos da Esperança (2006). Se fôssemos fazer uma lista de filmes subestimados, este certamente seria um dos títulos citados por mim. Tecnicamente impecável, o filme consegue envolver o espectador do início ao fim, e os seus planos-sequências fenomenais hipnotizam, e agregam mais crueza à trama.

Porém, muita gente não concorda, e isso foi refletido no resultado das bilheterias do filme, que obtiveram um resultado extremamente tímido.

Depois deste trabalho, Cuarón se retirou por um período, pra realizar um projeto antigo, Gravidade. Esperou bastante tempo, buscando pacientemente a evolução da tecnologia para filmar da maneira que esperava, esperou a indefinição acerca do elenco, visto que Angelina Jolie e Robert Downey Jr, os atores que inicialmente seriam os protagonistas, não puderam mais fazer o filme.

Sandra Bullock e George Clooney assumiram os papeis, e o filme foi lançado. Lembro-me quando assisti ao primeiro trailer do filme, e… não tem como esquecer aquela sensação. Acredito que não tinha como não se manter excitado para conferir esse filme logo que estreasse.

Mas mesmo assim, confesso que não conseguia cravar que este seria um filme de enorme bilheteria, tendo em vista o que aconteceu com Filhos.

Ainda bem que estava enganado. Gravidade foi um sucesso absoluto de público. Creio que não agradou a todos, principalmente por sua simplicidade excessiva no roteiro, mas creio que há uma unanimidade em relação ao trabalho de direção. Cuarón nos dá uma injeção de adrenalina com suas cenas milimetricamente planejadas, e com um ritmo alucinante, deixando claro que o diretor aprendeu a conciliar como fazer um projeto pessoal com um sucesso financeiro gigantesco.

Mesmo com a forte concorrência de Steve McQueen, David O. Russell e Martin Scorsese, Cuarón desde sempre assumiu a dianteira dos principais prêmios de direção, talvez como uma forma de premiar este diretor versátil, que deixa claro que ainda vai experimentar em diversos caminhos. E espero que este prêmio que o diretor mexicano vai receber no próximo domingo seja um grande estímulo para isso.