Independente de ser ou não fã de cinema, é difícil encontrar uma pessoa que nunca tenha ouvido falar do Oscar. Não qualquer Oscar, mas sim o apelido do prêmio concedido a filmes e equipe técnica durante o The Academy Awards, evento que acontece anualmente nos Estados Unidos.

Hoje o Oscar é tido como uma das premiações mais tradicionais da indústria do cinema, o que gera grandes expectativas e grandes críticas. Por um lado, ganhar um prêmio conhecido mundialmente é uma garantia a mais de popularidade para os filmes, que podem estampar em seus cartazes e capas de DVD a frase “indicado/vencedor do Oscar” e, consequentemente, aumentar as chances de lucro.

Não se pode negar que produções como “O Artista” (Oscar de Melhor Filme em 2011), “Crash – No limite” (Oscar de Melhor Filme em 2004) ou “Meninos não choram” (Oscar de Melhor Atriz em 1999) teriam gerado bem menos curiosidade no público em geral se não fosse pela estatueta. Diretores e atores também passaram a ganhar o devido reconhecimento após serem “validados” pela academia. Que o digam atrizes como Hillary Swank e Jennifer Lawrence que, mesmo talentosas, poderiam estar na mesma situação de Amy Adams, ótima atriz que sempre é deixada de escanteio pela Academia.

Tradição e publicidade: a marca dos filmes do Oscar

Apesar de terem menos auxílio de uma máquina publicitária, os filmes citados (e muitos outros) contaram com um fator não tão positivo do Oscar: o seu conservadorismo. Muitos afirmam que “Crash – No limite” só venceu porque a academia não se sentiu confortável em premiar o romance homossexual “O segredo de Brokeback Mountain”, um filme superior em todos os sentidos. Já “O Artista” é uma produção americana, francesa e britânica, mas que homenageia e exalta descaradamente o cinema americano. Já o tocante drama “Meninos não choram” sequer foi considerado para concorrer a Melhor Filme.

Outro momento que marcou o conservadorismo da academia foi a premiação de “Rocky” (1976), que concorria com “Taxi Driver” naquele ano. Já o razoável “Conduzindo Miss Daisy” (1989) venceu inexplicavelmente os ótimos “Sociedade dos Poetas Mortos”, “Meu pé esquerdo” e “Nascido em 4 de julho”, filmes bem mais contestadores. Outro caso curioso é “Shakespeare Apaixonado” (1998), um filme leve que caiu no esquecimento, mas que venceu a disputa pelo Oscar concorrendo com “Elizabeth” e “O resgate do soldado Ryan”.

Mais que a tradição, o que pesa mesmo no Oscar é o marketing. Os holofotes se voltam então para filmes que contam com total apoio de grandes produtoras e que, no geral, atingem facilmente o lucro graças à publicidade. “Titanic”, “O Senhor dos Anéis: O retorno do rei”, “A Lista de Schindler”, “O Poderoso Chefão” são alguns exemplos nos quais os fatores comercial e artístico resultaram em Oscar de Melhor Filme.

Inevitáveis injustiças

Como se poderia esperar de qualquer premiação, muitas são as injustiças cometidas na história do Oscar. Considerado por muitos o melhor filme da história do cinema, “Cidadão Kane” ganhou apenas um Oscar de Melhor Roteiro Original em 1942. “Laranja mecânica”, clássico de Stanley Kubrick, saiu da cerimônia do Oscar em 1971 de mãos vazias. O hoje icônico diretor Alfred Hitchcock só ganhou um Oscar honorário pelo conjunto da obra.

Na ala do elenco, as injustiças também persistiram fortes. Leonardo Dicaprio, que passou de “rostinho bonito” a um dos atores mais importantes dessa geração, é esnobado pela Academia ano após ano. Em 1998, a esquecível Gwyneth Paltrow ganhou como Melhor Atriz por “Shakespeare apaixonado”, desbancando Fernanda Montenegro (“Central do Brasil”), Meryl Streep (“Um amor verdadeiro), Cate Blanchett (“Elizabeth”) e Emily Watson (“Hillary e Jackie”). E o que dizer de Roberto Benigni vencer como Melhor Ator em 1999 por “A vida é bela”, em detrimento das atuações absurdamente superiores de Edward Norton em “A outra história americana” e Ian McKellen em “Deuses e Monstros”?!

Fora da ala “gringa”

A maior faca de dois gumes do Oscar é, sem dúvida, a categoria de Melhor Filme Estrangeiro. Com a predominância do cinema norte-americano no mercado, quaisquer outras produções fora do circuito gringo sofrem para alcançar o grande público. Nesse contexto, ganhar um Oscar é uma das poucas maneiras de tentar chamar atenção. Filmes não americanos como “Cinema Paradiso” (1989), “A vida é bela” (1998) ou “O tigre e o dragão” (2000) até hoje fazem sucesso na TV aberta, e o fato de serem exibidos ali se deve, em grande parte, aos Oscar que receberam.

Apesar de a estatueta de fato ajudar, ela também evidencia a grande disparidade do mercado cinematográfico. Grandes diretores como Ingmar Bergman, Federico Fellini ou François Truffaut, para citar apenas alguns dos nomes mais significativos do cinema mundial, jamais puderam concorrer ao Oscar “de igual pra igual” com nenhum filme americano, do melhor ao mais esquecível. Sendo o Oscar praticamente uma instituição cultural global, por que não abrir esse espaço?

E então, Oscar pra quê?

Ainda que o Oscar seja merecedor de mais críticas que elogios, ele ainda tem o poder de lembrar ao público o quão mágico os filmes podem ser. Sim, é uma ideia batida, mas ao evocar o glamour, ao ceder ao aspecto simbólico de um prêmio quando tantos concorrentes são merecedores de atenção e ao louvar o red carpet, o Oscar ajuda a imprimir na memória coletiva como o cinema é um mundo a parte, em que espectadores sonham acordados pelo tempo de um filme.

Não importa o quão comercial uma premiação pode ser; manter essa chama acessa já é algo muito importante. Independente de você fazer questão de desligar a TV dia 5 de março, quando o Oscar 2014 será exibido, ou se você já fechou suas apostas de vencedores em algum bolão, é bom saber que há “especialistas” e “pessoas comuns” falando sobre cinema ao redor do mundo por uma noite.