Pode não parecer à primeira vista, mas o terror e a comédia são dois gêneros cinematográficos bastante próximos. Afinal, basta um “defeito” especial ou uma performance ruim de um ator para transformar o que deveria ser assustador em algo engraçado.

Alguns cineastas, conscientes dessa proximidade, tentaram contar histórias reunindo elementos de ambos os gêneros. No entanto, isso é muito difícil de fazer. A boa comédia de terror é aquela em que o humor não rouba a intensidade do medo ou vice-versa. O filme precisa assustar e fazer rir alternadamente para ser bem sucedido. A balança até pode pender mais para um dos lados, mas ambos os gêneros precisam ter força, ou a experiência resulta em frustração.

Dito isso, vamos agora relembrar algumas comédias de terror que marcaram a história do cinema. De novo, não quis aqui relembrar clássicos como Os Caça-Fantasmas (1984), O Jovem Frankenstein (1974) ou o mais recente Todo Mundo Quase Morto (2004). São filmes excelentes, mas muito conhecidos e sempre dão as caras em listas como essa. Ao invés disso, vamos falar sobre…


Plano 9 do Espaço Sideral (1959)

Esse filme entrou para a história por ser considerado o pior de todos os tempos. Em minha opinião, esse título é uma besteira. Já vi filmes muito piores e bem menos divertidos do que esse. A produção do lendário Ed Wood não é realmente um grande filme, mas tem uma energia maluca e nunca falha em despertar algumas risadas. A história da mais estranha invasão alienígena de todos os tempos tem uma ponta deprimente do, à época, já falecido Bela Lugosi, erros de continuidade inesquecíveis e “defeitos” especiais que divertem, embora não pelas razões que Wood pretendia. Sinceramente, prefiro ver Plano 9 do que qualquer Transformers, me divirto mais.


A Dança dos Vampiros (1967)

Roman Polanski e Jack McGowran interpretam dois intrépidos matadores de vampiros – bem, McGowran é intrépido, Polanski é super medroso – que enfrentam uma horda de sanguessugas e precisam resgatar uma donzela em perigo (a belíssima Sharon Tate, que viria a se tornar esposa de Polanski). É uma tiração de sarro com os filmes ingleses de vampiro da Hammer, conduzida pela visão sempre diferenciada de Polanski, que também dirige. Até existem alguns momentos assustadores em A Dança dos Vampiros, como a cena do rapto da personagem de Tate. Mas o tom geral é de galhofa, num filme ainda hoje ao mesmo tempo bizarro e criativo.


Piranha (1978)

O cineasta Joe Dante sempre foi meio brincalhão, e nenhum dos seus filmes é completamente sério. Piranha é da escola de Roger Corman, o pai do cinema B americano. Na verdade é uma paródia de Tubarão (1975) – inclusive, de todos os imitadores, Piranha acabou se tornando o preferido de Steven Spielberg, diretor de Tubarão, e Dante acabou trabalhando sobre a batuta do bem sucedido cineasta em alguns projetos. Aqui rimos dos clichês dramáticos e do banho de sangue gratuito – a cena do ataque das piranhas aos pobres banhistas ainda é divertidíssima – mas há alguns sustos aqui e ali, como na ótima cena de abertura. Naqueles minutos iniciais, até parece que Piranha vai ser um filme de terror sério. Mas só parece.

Foi recentemente refilmado, com o tom de autoparódia aumentado em cerca de 1000%.


Noite dos Arrepios (1986)

Este clássico oitentista do diretor e roteirista Fred Dekker mistura tudo no liquidificador: invasores alienígenas, um prólogo em preto-e-branco com um assassino psicótico, personagens adolescentes, parasitas e zumbis. O resultado é divertidíssimo: afinal, é o único filme da história do cinema com a clássica frase “Garotas, seus acompanhantes para o baile chegaram. A má notícia é que estão mortos!”. E o detetive interpretado pelo canastrão Tom Atkins é um herói que merece seu lugar na história do cinema trash.


Fome Animal (1992)

Antes da magnificência de O Senhor dos Anéis, do remake de King Kong feito por paixão e da enrolação e autoindulgência de O Hobbit, Peter Jackson era um cineasta que fazia filmes trash na Nova Zelândia. Essa é a sua obra-prima dos filmes B: na trama, o herói é dominado pela mãe maluca, e ela é mordida por um macaco de Sumatra e vira um monstro faminto. E só resta a ele combater os mortos-vivos e demais criaturas que o atacam. O clímax do filme é uma verdadeira orgia de risos e sangue – consta-se que a cena final do filme usou cerca de 300 litros de sangue cenográfico. Nada de efeitos por computador: em Fome Animal todo mundo, inclusive o espectador, se sente lambuzado de vermelho e se diverte no processo.

MENÇÕES HONROSAS:

Felizmente existe um bom número de comédias de terror. Assista a O Fantasma do Paraíso (1974), The Rocky Horror Picture Show (1975) e A Pequena Loja dos Horrores (1986) caso queira cantar entre as risadas; e não se esqueça de Palhaços Assassinos (1988), Gremlins (1984), A Coisa (1985), Aracnofobia (1990), Os Fantasmas se Divertem (1988), dos filmes do Chucky e de Zumbilândia (2009).