Bullying é um dos assuntos que levanta grandes discussões atualmente em um ambiente escolar. E é interessante a forma descuidada e até estúpida que alguns “adultos” tocam nesta questão, algo que fica claro em determinado momento de “Extraordinário”, em que uma mãe tenta defender as atitudes reprováveis do filho dizendo que tudo não passa de uma brincadeira, e que não se pode mais “brincar” e que o mundo está “chato”. A conclusão de tal cena não poderia ser mais reveladora, a criança (que praticou bullying) além de mostrar uma maturidade e sensibilidade maior do que a da mãe, ainda demonstrou claramente possuir problemas emocionais. É preciso conversar com nossos filhos.

Sobre a trama, Auggie Pullman (Jacob Trembley) nasceu com uma deformidade facial, sempre foi educado em casa por sua obstinada mãe (Julia Roberts), que decide que aos 10 anos o menino já tem idade o suficiente para ir à escola. Essa decisão afeta a todos no lar, o pai (Owen Wilson), a irmã mais velha Via (Izabela Vidovic) e principalmente o menino, que vai ter que encarar seus medos e principalmente os maus tratos dos colegas.

Baseado em um livro homônimo (não li), o grande problema de “Extraordinário” é não se arriscar. Mesmo tocando em um assunto delicado como bullying, o filme quando resolve bater na tecla do tema, soa em momentos didático e esquemático. Além disso o roteiro e direção não resistem e se rendem a algumas alternativas mais fáceis pra emocionar (a subtrama com a cadelinha, desnecessária). Mas é interessante a forma de dividir a trama através de pontos de vistas de diferentes personagens pra não deixar tudo pra Auggie, mesmo assim o filme sabota alguns destes, como o ponto de vista da jovem Miranda (Danielle R. Russell), que é cortado de maneira abrupta e depois retomado.

Interpretado com grande sensibilidade e por baixo de próteses e maquiagens por Jacob Trembley, vale salientar o carisma da criança em transformar Auggie não apenas em uma pessoa cativante, mas uma figura complexa (mesmo com problemas no roteiro). O capacete de Astronauta não é apenas pra esconder seu rosto, mas é uma válvula de escape pro que está ao seu redor, e sua imaginação não só encanta como quebra qualquer peso de seu sofrimento na escola.

 Apesar do filme focar em seu protagonista, é interessante notar que os jovens com que convive também possuem problemas e angustias próprias, com destaque para Via e Jack Will (Noah Jupe). A primeira até que se conforma a certo ponto com a negligência dos pais em relação a ela (mesmo as vezes não conseguindo esconder seus sentimentos), apesar de em diversos momentos se sentir sozinha, a mesma justifica sempre para si que o irmão tem problemas piores. Já o segundo preocupa-se com o fato de ser amigo de Auggie, e como isso vai afetar seu entrosamento com os outros colegas de classe, e a cena do Halloween deixa isso bem claro. Mas saliento que o filme não se aprofunda em nenhuma dessas questões.

Já a Owen Wilson e Julia Roberts sobram a experiência e o carisma de sempre ao interpretar o Sr. e Sra. Pullman, apesar do ator parecer reprisar maneirismos já vistos em outros filmes como em “Marley & Eu”. Cativante e com uma direção que não arrisca, mas também que não compromete “Extraordinário” é um bom filme, toca em um assunto importante, deixa sua mensagem e pode até te emocionar.