O curta de estreia de Matheus Mota, Folhas Brancas, exibido na III Mostra do Cinema Amazonense, tem um apuro técnico vigoroso, incomum para realizadores estreantes, o que desde já o coloca numa posição promissora dentro da produção local. A fotografia caprichada, o som elaborado com mais cuidado do que o habitual no cinema amazonense, e, principalmente, o à-vontade com os códigos narrativos típicos do cinema americano revelam um realizador consciente e obstinado, capaz de criar boas expectativas para seus trabalhos futuros.

Infelizmente, uma boa parte das qualidades citadas explica a frustração com os resultados artísticos do curta, que traz a história de Jorge (Assis Souza), um homem à beira do esquecimento completo provocado pelo Mal de Alzheimer, e seu filho, Marcos (Paul Brown), que se esforça para lhe dar conforto. Técnica, nesse contexto mais íntimo e emocional, não vem muito ao caso, e as tentativas de Matheus de elaborar seus materiais com os recursos do cinema, criando duas narrativas paralelas em tempos diferentes, não-lineares, só serve para deixar a trama estilizada demais e emocionalmente distante.

Há mais problemas: o excesso de diálogos, que ainda sofrem do mal comum a quase toda a produção amazonense de serem didáticos e expositivos demais. Os voice-overs de Jorge, as conversas de Marcos com cuidadoras e enfermeiras, a ida de pai e filho ao médico mais para o final, todos esses momentos martelam a existência do Alzheimer na vida de Jorge, quando isso já tinha ficado claro em imagens e situações. É um defeito que claramente seria menos exacerbado se Matheus não construísse a sua história num arabesco não-linear, tendo que reexplicar certas situações para não confundir o espectador. Suponho que essa construção cheia de artifícios narrativos hollywoodianos (com algo das novelas da Globo também) seja a linguagem que Matheus conhece melhor, mas, mais uma vez, não foi a escolha mais adequada para uma trama tão íntima.

Os dois protagonistas se saem bem, com performances contidas que seguram o excesso dramático de certas sequências e da trilha sonora, mas a empostação teatral, que os diálogos palavrosos e didáticos do roteiro não ajudam, também precisa ser trabalhada com mais atenção por Matheus em filmes futuros.

Fica, então, uma primeira tentativa com vários sinais promissores de seu realizador, mas que ainda não formou um todo coerente e satisfatório.  Talvez não tenha sido o material mais talhado para a formação atual de Matheus Mota, mas a ambição também não foi pouca: um retrato delicado de uma doença pouco discutida e compreendida, assim como do amor entre pai e filho. Mesmo nesse nível apenas promissor, Folhas Brancas é uma estreia bastante interessante para o cinema amazonense.