Muito já se discutiu sobre uma suposta dominância de um meio de comunicação sobre outros. Já houve o tempo em que se pensava que a televisão seria o fim do rádio ou que a internet levaria o livro impresso à extinção. A história mostra que, longe de se atacarem, os meios e suas características, em grande parte, fizeram as pazes e um seguiu influenciando o outro. Pensar essas relações é um ponto de partida digno para conseguir raciocinar algo válido depois de assistir ao filme “Giovanni Improtta”.

O longa é baseado no livro “Prendam Giovanni Improtta”, escrito nos anos 1970 por Aguinaldo Silva. Por sua vez, ele aproveitou o personagem-título na novela que escreveu décadas depois, “Senhora do Destino”, exibida na Rede Globo em 2004. O filme foca na ascensão de Giovanni, um bicheiro, que busca aceitação social e a regularização de seu negócio através da legalização dos cassinos, envolvendo-se em “altas confusões” (no melhor estilo chamada da “Sessão da Tarde”!).

A popularidade televisiva alcançada por Giovanni, interpretado por José Wilker, impulsionou a carreira do bicheiro carioca para o cinema. Trata-se de mais um que segue a tendência de produções cinematográficas nacionais, fortemente influenciadas pela temática e estética televisiva. Infelizmente, o ressoar do personagem nas diferentes mídias ensina uma lição há muito aprendida pelo cinema blockbuster norte-americano: não adianta fazer uma mera transposição de um produto para televisão, web, cinema; é preciso sempre adapta-lo ao meio; caso contrário, isso tem tudo para dar errado.

E no caso de “Giovanni Improtta”, tudo dá errado mesmo. A profusão de personagens e sub-tramas que eventualmente se entrelaçam é comum às novelas, mas não cabe no tempo de projeção do filme e o torna muito confuso. Dessa maneira, bons atores como Milton Gonçalves, Hugo Carvana, Andrea Beltrão e companhia sofrem em meio a um roteiro mal desenvolvido.

As cenas cômicas dão uma sensação de deja vu que só quem assiste a “Zorra Total” deve sentir, fazendo com que até mesmo os espectadores fãs de novela estranhem o timing da comédia na tela grande. Afinal, uma coisa é você ouvir os erros de português de Giovanni uma ou outra vez ao dia no decorrer de meses; outra coisa é você sofrer uma overdose de expressões como “felomenal” em 101 minutos! O resultado dessa inter-relação mal sucedida entre cinema e televisão pode ser sumarizado em uma frase: esse filme não tem graça.

Mais confuso que a trama em si é ver que José Wilker dirigiu esse filme. O ator, que estreia na direção com “Giovanni Improtta”, decepciona ao não conseguir equilibrar seu inegável talento (desperdiçado nesse filme) e sua veia popular muito bem treinada como um ator “global”. Ainda assim, não seria surpresa ver “Giovanni Improtta” tendo um bom índice de público (até agora já foram cerca de 65 mil espectadores), uma vez que os mais recentes filmes nacionais de sucesso seguem à risca o apelo popular e a aproximação com produtos televisivos, em especial as novelas, aliados ao bom e velho marketing.

Com “Giovanni Improtta”, o padrão Globo de filmes de sucesso dá um tiro no próprio pé; ao invés de adaptar-se à proposta de aproximar televisão e cinema, “Giovanni Improtta” acaba reunindo o que há de pior em ambos. Não que os filmes anteriores da Globo fossem ótimos, mas mesmo neles se via um cuidado maior que no longa de estreia de Wilker. E assim as salas de cinema de Manaus recebem mais um filme nacional esquecível, enquanto tantas outras produções brazucas muito melhores passam bem longe daqui.

Nota: 3,5