8 de janeiro de 2017.

Quando Jimmy Fallon começou o show em Los Angeles naquela noite, o mundo inteiro já se questionava se “La La Land” teria algum rival de peso na temporada de premiações. As discussões sobre se Casey Affleck merecia receber a estatueta do Oscar pelo favoritismo absoluto com que surgia em Melhor Ator e  se Emma Stone era a franca favorita em Melhor Atriz apesar de uma leve ameaça da francesa Isabelle Huppert pipocavam direto. Ou seja, falava-se de filmes.

7 de janeiro de 2018.

Quando Seth Meyers começar o show em Los Angeles nesta noite, o mundo inteiro ainda não sabe exatamente o que vai acontecer. Suspeita-se um ligeiro favoritismo de “A Forma da Água” e Lady Bird” com “The Post” e “Corra!” vindo com reais chances de vitória. Gary Oldman, Frances McDormand e James Francos parecem os candidatos mais fortes nas atuações com um duelo interessante entre Saoirse Ronan e Margot Robbie. Acima de tudo, porém, o assunto não são os filmes.

O Globo de Ouro 2018 terá a missão de recolocar Hollywood de volta ao cinema e menos nas páginas policiais. A tarefa, no entanto, será dificílima.

Os últimos meses foram cheios de notícias chocantes vindas da meca da indústria americana. Carreiras de gente como Harvey Weinstein, Kevin Spacey e Dustin Hoffman foram jogadas na lata do lixo. A cultura de estupros, abusos, assédios sexuais e machismo veio à tona de maneira sem precedentes através de declarações corajosas de estrelas como Angelina Jolie, Gwyneth Paltrow, Ashley Judd, Jennifer Lawrence e tantos outras vítimas anônimas.

Igual Hollywood, a temporada de premiações sentiu o impacto da bomba: a expectativa para o Globo de Ouro não está necessariamente em quem sairá vencedor de determinada categoria. O que mais se anseia é saber se as estrelas vestirão preto como protesto e o que ouviremos dos discursos dos vencedores (imagina Meryl Streep ganhando por “The Post” ou Elizabeth Moss por “The Handmaid´s Tale” ou até mesmo Christopher Plummer em “Todo o Dinheiro do Mundo”) e de Oprah Winfrey ao receber o Cecil B. DeMille.

Será, sem dúvida nenhuma, a cerimônia mais politizada dos últimos anos e com falas extremamente contundentes contra o machismo e também a Donald Trump.

Os filmes? Estes seguirão em segundo plano.
Pelas circunstâncias especiais, ainda bem.