A velocidade do mercado tecnológico e das redes sociais ainda é um mistério para o homem moderno. Seguimos como uma manada pelos Facebooks, Twitters da vida sem saber direito para onde vamos, mas pobre coitado daquele que não estiver inserido. Crianças, adolescentes, adultos e idosos estão todos nessa independente de nacionalidades, classes sociais e econômicas, religião. Isso não significa que a relação seja pacífica, sendo os atritos a tônica do negócio. Certo ou errado nesse universo estão em linhas tênues demais e não esclarecidas para serem definidas.

Como não poderia deixar de ser, o cinema busca fazer esse trabalho de compreensão e discutir para onde estamos indo e os reflexos nas relações humanas. “Medianeras”, “A Rede Social” e “Ela” são exemplares de abordagens ricas e claras por partes dos realizadores sobre o que pretendem debater. Apesar de querer passar uma sensação de domínio sobre o universo online, “Homens, Mulheres e Filhos” aparenta estar perdido e atira para todos os lados sem saber exatamente o que dizer.

Muito da sensação de desencontro com o que realmente se pretende discutir em “Homens, Mulheres e Filhos” está na gama de histórias desenvolvidas pelo roteiro. Temos um casal (Adam Sandler e Rosemarie DeWitt) entediado com a rotina e que busca em encontros com desconhecidos na Internet um novo fôlego, enquanto o filho deles tem como hobby acessar vídeos pornográficos. Há um rapaz traumatizado (Ansel Elgort) com a fuga da mãe, o qual encontra a chance de ser feliz ao lado de uma menina (Kaitlyn Dever) superprotegida pela genitora (Jennifer Garner). Outra mãe (Judy Greer) tira fotos sensuais da filha (Olivia Crocicchia) para conseguir viabilizar a carreira de modelo ou atriz em Los Angeles. Sobra espaço para contar a história de uma adolescente com sintomas de anorexia (Elena Kampouris) prestes a perder a virgindade. Todos eles vivem em uma cidade de médio porte dos EUA e se relacionam a partir da vida escolar dos jovens.

Pela quantidade enorme de tramas, percebe-se a intenção do diretor Jason Reitman (em má fase desde o excelente “Amor Sem Escalas”) em fazer um retrato amplo da sociedade americana e o impacto trazido pela tecnologia na vida dessas pessoas. A pretensão acaba sendo um tiro pela culatra, pois, como sempre acontece, há histórias mais desenvolvidas e interessantes que outras. Se a trama de Adam Sandler (por incrível que pareça, ele até manda bem no filme mesmo sem chegar no nível de “Reine Sobre Mim”) envolve o público pela construção cuidadosa da monotonia do casal seja pelas roupas e maquiagens sem vida até o tom de voz arrastado do casal, o drama da mãe que divulga fotos seminuas da filha em um site fica pelo meio do caminho por simplesmente não ter tempo para ser elaborada, gerando um final canhestro que você fica se perguntando “jura que só agora ela percebeu isso?”. Para piorar, Reitman ainda traz uma série de figuras clichês como a jovem anoréxica, o rapaz sensível abalado por uma perda familiar e, claro, a mãe controladora ao extremo capaz de exterminar a intimidade da própria filha com atitudes quase psicóticas vividas por Jennifer Garner no pior papel da carreira (sim, pior que Elektra). Isso é um golpe de misericórdia para uma produção que visa ser a mais real possível.

O esquemático roteiro de “Homens, Mulheres e Filhos” também pouco contribui para uma densidade maior sobre o tema. Todos os adolescentes apresentados são sujeitos que buscam nas redes sociais uma nova identidade para fugir de quem eles realmente são seja através de fotos reveladoras ou como um avatar, enquanto os adultos se sentem fora desse universo e o experimentam como desbravadores. Evidente que a realidade traz muitos casos como esses, mas, acreditar que todos são assim é utópico. O tom épico adotado no filme quando as situações chaves dos personagens se desenrolam no mesmo momento ou noite com uma montagem intercalando os trechos, sendo a trilha sonora utilizada para criar as conexões dão um efeito artificial e forçado para o projeto. Por fim, a narração em off feita por Emma Thompson entrega características ou fatos importantes sobre aquelas pessoas que poderiam ser insinuadas ao espectador, o que traria maior riqueza ao filme.

“Homens, Mulheres e Filhos”, assim como nós, parece perdido no que representa as redes sociais no cotidiano das pessoas. Em certo momento, o filme busca associar essa dependência com os ataques de 11 de setembro de 2001 quando as pessoas pelo medo sentiram a necessidade de estar conectadas, o que mostra uma visão fechada demais para um consumo em escala global da tecnologia e gera a indagação se a nossa história seria outra se não fosse os atentados. Outra neura de Reitman é enxergar nesses aparelhos a causa ou o efeito de uma sociedade infeliz, o que soa ingênuo, afinal de contas, casais infelizes, mães liberais ou controladoras, filhos traumatizados existem desde que o mundo está aqui.

Sem a ironia de “Beleza Americana” para tratar da classe média dos EUA ou a poesia de “Ela” na convivência com o mundo tecnológico, Jason Reitman cria em “Homens, Mulheres e Filhos” uma obra sisuda cheia de pretensão, sendo a viagem da nave espacial Voyager símbolo disso. Ao citar a pequenez humana perante o vasto Universo, o cineasta e roteirista apela para algo fora do âmbito da discussão proposta pelo filme, possível de ser inserida em qualquer drama existencial barato e somente confirma o quanto as redes sociais e o mundo virtual ainda nos é desconhecido e assustador.

NOTA: 5,5