O Oscar 2014 terá que se explicar com a história. Quando olharmos no futuro para a premiação deste ano, ficará a pergunta: por que diabos “Gravidade” vence sete prêmios e perde o principal? A incoerência mostra o conservadorismo da Academia de Ciências Cinematográficas de Hollywood em rever (pre)conceitos.

Se os prêmios técnicos como edição de som e efeitos visuais eram quase obrigatórios, “Gravidade” foi além ao conquistar importantes categorias: Melhor Fotografia, Montagem e Direção para Alfonso Cuáron. Ganhar Melhor Filme seria o caminho natural. Porém, uma ficção científica levar o Oscar? Um blockbuster de 90 minutos? Uma obra sem um roteiro forte, apoiando-se em um espetáculo visual?

Não, senhores! Isso é demais para a Academia e para muita gente ao redor do mundo. A derrota de “Gravidade” exemplifica bem como o mundo do cinema e boa parte do público ainda encara a ficção científica como gênero menor. Situações semelhantes enfrentam as comédias, obras de terror, filmes de ação e animação, as quais quase nunca conseguem competir em pés de igualdade contra dramas de época.

Com esse contexto, sobrou para “12 Anos de Escravidão”. Quem viu o longa dirigido por Steve McQueen sabe se tratar de uma obra forte e importante ao retratar um capítulo vergonhoso da história dos EUA. A Academia enxergou a possibilidade de ter um ganhador engajado com um toque entre o comercial e o cinema de arte. A vitória, entretanto, é justa como seria com qualquer outro dos indicados a Melhor Filme (exceto “Philomena” e “Trapaça”). Somente não premia aquele considerado realmente o melhor em todos os quesitos.

Matthew McConaughey como Melhor Ator por “Clube de Compras Dallas” serve para coroar um ressurgimento na carreira dele iniciado em “Magic Mike”. Mesmo sendo triste ver Leonardo DiCaprio perder mais uma vez, fica claro que não deve demorar muito para essa estatueta chegar. Já Cate Blanchett apenas confirmou o que já se sabia: trata-se, ao lado de Kate Winslet, da maior atriz da atual geração.

Entre os coadjuvantes, a Academia tratou de revelar uma nova e bela estrela ao consagrar Lupita Nyong’o, tirando o peso de dois Oscars seguidos para uma atriz tão jovem como Jennifer Lawrence. Os votantes ainda fizeram uma espécie de apelo a Jared Leto para que desista da carreira de vocalista no fraco 30 Seconds to Mars e continue nos cinemas.

Se “12 Anos de Escravidão” não chegava a ter concorrentes de peso na disputa pelo Oscar de Roteiro Adaptado, “Ela” conseguiu bater “Trapaça” na categoria dos textos originais. O prêmio para Spike Jonze serviu para compensar a falta de visão da Academia em reconhecer o melhor e mais original filme de todos os indicados à premiação deste ano.

Por fim, não há como negar que a cerimônia foi uma das mais divertidas da história. Isso se deve, acima de tudo, pela comediante e apresentadora Ellen DeGeneres. Achados como as piadas com Jonah Hill, a entrega das pizzas e, claro, o selfie com os astros de Hollywood ficam na história do Oscar.

PONTO ALTO: Maior Selfie da História

PONTO FRACO: Falta de Surpresas na Premiação

MOMENTO MAIS EMOCIONANTE: In Memorium com Eduardo Coutinho e Phillip Seymour Hoffman