Ainda o gênero mais popular do cinema, a ação continua à toda em filmes de inspiração fantasiosa e medieval – vide os remakes anabolizados de clássicos infantis, como Branca de Neve e João e Maria, ou o sucesso das sagas distópicas para adolescentes, como Jogos Vorazes. Os filmes de ação “convencional”, por sua vez, inspirados nos clássicos de Bruce Willis, Sylvester Stallone, Chuck Norris e afins, andam mal das pernas – a fórmula da guerra urbana contra os inimigos da América é anacrônica há pelo menos vinte anos, e este Invasão a Londres não faz nada para melhorar as coisas (supondo que isso seja possível).

Porém, enquanto o próprio Sly sabe reformatar o gênero para as plateias atuais, pegando elementos de filmes marrentos, como Velozes e Furiosos (2001), e estilosos, como Drive (2011), para rechear sua série Os Mercenários, o novo filme do iraniano Babak Najafi (Easy Money II: Hard to Kill), como o antecessor Invasão à Casa Branca (2013), é uma volta à pancadaria mais rasteira e descerebrada, em que nem as elaboradas cenas de devastação da capital inglesa valem o dinheiro, se você não for um aficcionado por filmes de ação.

Só um órfão de Norris ou Steven Seagal, por exemplo, conseguiria engolir a atuação banal e desajeitada de Gerard Butler, um quase-galã e quase-herói de ação que, tirando o trabalho em 300 e em comédias românticas aqui e ali, continua solidamente relegado a produções B. Ou o retrato estereotipado e ofensivo das populações árabes, encarnadas no vilão Aamir Barkawi, vivido pelo israelense Alon Abutbul (note-se que o diretor Najafi é iraniano); ou, ainda, o tom explícito de recrutamento do filme, com um herói cuja formação militar o torna praticamente invencível, levando-o a participar de um videogame da vida real, onde ele mata inimigos de qualquer arma com facas e pedaços de madeira, além de cunhar frases de efeito sobre a supremacia militar americana.

Depois dos acontecimentos de Invasão à Casa Branca, Mike Banning (Butler) planeja se aposentar da função de segurança pessoal do presidente americano (Aaron Eckhart, um ótimo ator que não fez mais nada desde Reencontrando a Felicidade, em 2010 – não espere nada dele nesse filme também). A morte do premiê inglês, porém, obriga os líderes do Ocidente a comparecer ao funeral em Londres, criando a isca perfeita para uma série de atentados capitaneados por Barkawi, um traficante de armas paquistanês que teve a própria filha e familiares mortos num brutal ataque de drones americanos anos antes.

Pela história, percebe-se qual a única atualidade de Invasão a Londres em relação à época de Seagal, Norris e companhia: a canhestra tentativa de inserir uma discussão sobre o uso de dispositivos remotos na guerra, algo que passa e vai embora pelo filme sem qualquer relevância para a ação. A própria parte dos tiroteios e explosões também é pouco interessante, não conseguindo ser nem tão divertida quanto a da série Mercenários, que era convincentemente absurda e escrachada, nem tão impressionante quanto as cenas de destruição de Terremoto: A Falha de San Andreas (2015) – que, similarmente pobre no enredo, ao menos deliciava com as imagens da catástrofe.

Nesse meio-caminho competente, marginalmente divertido e à prova de riscos, fica o resto do elenco: Morgan Freeman, como o vice-presidente Allan Trumbull, apenas exercita o velho carisma; e bons atores como Jackie Earle Haley (Watchmen), Melissa Leo (O Vencedor) e Angela Bassett (da série American Horror Story) são desperdiçados em papéis protocolares. A música de Trevor Morris, que também escreveu a trilha do primeiro Invasão, é a típica mistura de ênfases óbvias e sentimentalismo que o filme, afinal, merece. Uma pedida decente para quem coloca Stallone Cobra (1986) ou Braddock: O Super Comando (1984) entre as melhores coisas do cinema – e um exercício de frustração para o resto de nós.