Direitos Humanos + Educação + Audiovisual = Inventar com Diferença.

Através da mistura desses três elementos, o projeto da Secretaria Nacional de Direitos Humanos em parceria com a Universidade Federal Fluminense (UFF) busca levar o debate de assuntos relativos ao órgão para colégios do país inteiro. Presente em sete escolas da rede pública de Manaus desde fevereiro deste ano, o “Inventar com Diferença” está sendo gerido na cidade pelo produtor audiovisual Allan Gomes. Em todo Brasil, 500 docentes de 300 escolas públicas participam da iniciativa.

“A ideia é introduzir o audiovisual como ferramenta pedagógica nas escolas através da discussão sobre os Direitos Humanos. O projeto não visa necessariamente estimular a produção; o foco está na questão de sensibilização do olhar e no uso dessas obras como ferramentas de conhecimento de outras realidades. Pretendemos que os alunos entendam o cinema como uma ponte para o outro”, afirma Allan. Para o produtor audiovisual, a proposta do “Inventar com Diferença” conseguiu ser bem aceita nos colégios onde a atividade está sendo realizada em Manaus com 70% dos alunos participando desde o início do projeto. Antes de chegar em sala de aula, os professores participaram de uma oficina de vídeo, além de terem acesso ao material pedagógico da iniciativa.

Ao longo de 12 semanas, estudantes e professores passam por etapas de exercícios práticos com câmeras para a criação de pequenos filmes ou experiências com fotos, além do debate de obras audiovisuais com a discussão girando em torno das questões dos Direitos Humanos. Entre as obras exibidas nos colégios de Manaus estão curtas locais como “A Profecia de Elizon” (de Aldemar Matias) e sucessos da produção nacional como “A Máquina” (de João Falcão).

O término das atividades do “Inventar com Diferença” neste semestre irá colocar os estudantes de Manaus em contato com jovens de outros locais do Brasil. “Prevemos a realização de um filme-carta, onde os alunos do projeto escolhem uma das 250 escolas do país que estão recebendo o projeto e direcionam um trabalho de vídeo apresentando a si e sua comunidade”, explica Allan. O material será enviado para a coordenação do projeto e para a UFF que serão responsáveis por essa intermediação. Além disso, o vídeo será exibido na 9ª Mostra Cinema e Direitos Humanos no Hemisfério Sul deste ano.

Audiovisual como poder crítico e cinema em Manaus

Com passagem pelo Coletivo Difusão, Núcleo de Antropologia Visual (NAVI – UFAM) e assistente de direção do curta-metragem “Assim” (de Keila Serruya), Allan Gomes se tornou uma das principais figuras do audiovisual no Amazonas. Para ele, não é apenas nas escolas que o pensamento crítico sobre filmes, clipes, videodanças, webséries precisa evoluir. “Falta-nos entender esse audiovisual justamente enquanto ferramenta, combater o senso comum de que é apenas entretenimento e se submeter a modelos hegemônicos como Hollywood e Globo. Acredito que quanto mais iniciativas como o “Inventar com Diferença” proliferarem, mais daremos passos em direção a essa mudança”.

O estímulo às atividades cineclubistas, amparo aos projetos das universidades voltados ao setor, desenvolvimento de atividades que estimulam o debate sobre o audiovisual nas escolas são vistas por Allan como saídas para o pensamento crítico e a carência de atividades voltadas para o setor em regiões de Manaus onde o cinema pouco encontra espaço. Das sete escolas participantes do “Inventar com Diferença” em Manaus, quatro são da Zona Leste da capital, área onde não há salas de exibição cinematográficas. “Não acredito que o motivo de estarmos nestes locais seja por causa disso, o que não tira o mérito de estarmos lá. Nós, ao iniciarmos o projeto, contamos basicamente com o engajamento dos professores e da gestão das escolas, coincidentemente as escolas nessas zonas apresentaram maior abertura para o projeto”. salienta o produtor audiovisual.

Allan Gomes considera que o modelo das salas de cinema está ultrapassado. “A fruição do audiovisual já se fragmentou a tal ponto que insistirmos num único modo soa atrasado. Enquanto a molecada mais jovem pira consumindo vídeos por celular, acessando no You Tube, enfim, encontrando seus próprios meios de interagir com o audiovisual, a gente ainda está a mercê da distribuição das grandes empresas. Não adianta continuarmos aumentando o número de salas se ainda estamos submetidos ao modelo das principais distribuidoras que fazem chegar a essas salas apenas um pequeno número de produções”.

VEJA AS ESCOLAS PARTICIPANTES DO PROJETO “INVENTAR COM DIFERENÇA” EM MANAUS

Escola Municipal Deputado Ulysses Guimarães – Bairro Amazonino Mendes – Zona Leste de Manaus

Escola Municipal Dom Jackson Damasceno – Bairro Jorge Teixeira – Zona Leste de Manaus

Escola Estadual Diana Pinheiro – Bairro Santa Luzia – Zona Sul de Manaus

Escola Municipal Carolina Perolina – Bairro São José – Zona Leste de Manaus

Escola Estadual Major Silva Coutinho – Bairro Petrópolis – Zona Sul de Manaus

Escola Estadual Marquês de Santa Cruz – Bairro São Raimundo – Zona Sul de Manaus

Escola Estadual Vasco Vasques – Bairro Jorge Teixeira – Zona Leste de Manaus