Não é segredo que dinossauros são criaturas que habitam o imaginário das pessoas desde a descoberta dos primeiros fósseis. A variedade de tamanhos, hábitos e, principalmente, a aparência desses animais sempre despertaram o fascínio e a imaginação de muita gente.

Claro que o cinema com seu poder de criação é um palco perfeito para que essas criaturas sejam representadas. É possível vê-las em aventuras como “King Kong” ou até mesmo “Jurassic Park” que como franquia de sucesso ganhou agora seu quinto filme depois de 25 anos da estreia do primeiro longa dirigido por Steven Spielberg.

A franquia é como uma ida a uma atração de parque de diversões: uma montanha-russa de emoções com personagens correndo depois de algum incidente e outros sendo devorados eventualmente. Na tentativa de trazer novidades para o público atual, a série foi até rebatizada para “Jurassic World”, mas aí que mora a ironia: os filmes nunca saíram de suas ‘ilhas’ de conforto, nunca ousaram. Pior: ficaram cada vez mais auto-referentes.

Temos de tudo: produções ruins (“Mundo Perdido”), medianos (“Jurassic Park III”) ou divertidos (“Jurassic World”). Nunca, claro, sem superar o original. “O Reino Ameaçado” até chegou com a promessa de revolucionar, mas, não deu.

VIDA PRÓPRIA? #SQN

Estrelado mais uma vez por Chris Pratt e Bryce Howard Dallas, o filme já começa mostrando a que veio logo na cena de abertura, em uma bela sequência, que acaba com aquilo que sempre caracterizou os filmes: um acidente levando a uma catástrofe futura.

A Isla Nublar está a entrar em colapso, o vulcão inativo da ilha volta cuspir lava e promete eliminar as formas de vida local, ou seja, os dinossauros estão prestes a encarar a extinção mais uma vez. Claire (Howard) e Owen (Pratt), resolvem ir até a ilha em uma missão de resgate, transferir os animais do local para um santuário com a ajuda de uma antigo sócio (James Cromwell) do saudoso Sr.Hammond, mas algo não está certo e a Velociraptor Blue é uma das chaves do mistério.

De fato, sob a batuta de J. A. Bayona, o filme ganhou um apuro visual acima da média, além de um peso emocional – até os dinossauros choram aqui. Isso é algo que não víamos desde (adivinha?) o primeiro filme. Porém, as auto-referências a todo momento atrapalham “O Reino Ameaçado” constantemente.

Toda a sequência da cozinha e o espelho retrovisor são exemplos de como o pedágio a “Jurassic Park” continua caro demais para a franquia. Fora que os antagonistas são sempre os mesmos: empresários gananciosos incapazes de entender o risco trazido pelos dinossauros. O vilão vivido por Rafe Spall só não é um desastre por conta de seu carisma para viver personagens do tipo.

Claire, pelo menos, abandonou o salto alto e o diretor mostra sua evolução em suas atitudes. De gerente a ativista, o close na bota não podia ser mais claro. Owen, não muda seus hábitos (observe o momento do reencontro com Claire), mas pelo menos está mais à vontade. Em relação aos personagens novos, o interpretado por Justice Smith é quase irritante, mas não compromete: se você gosta de gritos como forma de humor, vai se divertir à beça. Já  Zia (Daniela Pineda) mostra todo o seu fascínio e encantamento ao ver pela primeira vez um braquiossauro (lembrou do primeiro filme? Poisé), uma personagem decidida, corajosa e apaixonada pelo que faz e com iniciativa, isso fica claro em suas tomadas rápidas de decisão.

Falando no braquiossauro, o dinossauro pescoçudo protagoniza também um outro momento, em meio a fumaça do vulcão fica em pé, fazendo a mesma pose que o deixou icônico no primeiro filme, simbolismo claro, além de triste de que um ciclo chegou ao fim.

TRÊS SUBGÊNEROS EM UM SÓ FILME

Podemos dividir “Jurassic World: O Reino Ameaçado” perfeitamente em três subgêneros;. filme-catástrofe, de horror e de fantasia. O que poderia causar certa confusão acaba sendo muito bem administrado por Bayona ao deixar os atos bem distintos entre si e, principalmente, ao não misturá-los.

O diretor espanhol conhecido pelo drama “O Impossível” ao estourar a ilha ao fim do primeiro ato demonstra muito bem sua experiência com esse tipo de cinema ao apresentar toda a vasta gama de espécies em uma destruição caótica na medida certa.

Além de ter que escapar da lava, os personagens precisam tomar cuidado para não serem pisoteados por gigantes desembestados ou devorados de repente por carnívoros que não se importam de fazer uma última refeição antes de partir. Essa é a sequência mais original e bonita do filme.

O segundo filme seria mais identificado com o gênero de horror com uma mansão assombrada por dinossauros. Nela, somos apresentados o vilão, o Indoraptor, rosnando para lua cheia, como se fosse um dragão no alto de um castelo, pronto para iniciar a matança. O diretor aqui brinca com sombras e reflexos, além de expectativas de quem assiste, como, por exemplo, ao pensarmos que um personagem está prestes a ser atacado por um dinossauro, mas é vitimado por outro. Já no último ato, vemos o filme se entregar de vez a fantasia, graças as consequências do segundo, como um T-Rex encarando o rei do reino animal atual, além da narração em off, como se um conto de fadas tivesse sido contado.

A trilha de Michael Giacchino é bela e pontual e entra sempre nos momentos certos. Seja para nos lembrar do passado, onde remete as notas da trilha original de Williams ou criar tensão, quando o novo dinossauro carnívoro invade um quarto com uma criança assustada (Isabella Sermon).

Ao optar dar prioridade aos animatrônicos, Bayona fez o filme ganhar muito visualmente.  A fotografia de Oscar Faura, além do design de produção deslumbrante de Andy Nicholson entregam momentos que poderiam tranquilamente ser emoldurados e pendurados na parede.

É inegável que “Jurassic World: O Reino Ameaçado” seja um filme bonito, bem feito e que prende a atenção devido ao visual apresentado nas boas sequências de ação. Uma pena que se perca em um roteiro (escrito por Colin Trevorrow) repetitivo, deixando a impressão de ser um filme novo, mas com material reciclado.

Pelo menos, o final deixa um futuro em aberto para uma franquia que estava sem ideias. Que o próximo se livre do passado e pensem em coisas novas daqui para frente.