Parece que, mesmo em pleno 2015, tratar do tema do Holocausto em um filme continua sendo uma razão suficiente, em si mesma, para atrair olhares, prêmios e reconhecimento. Só isso explicaria, por exemplo, a escolha de “Labirinto de Mentiras” como um dos nove pré-selecionados para concorrer ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro no ano que vem, representando a Alemanha, ao lado de filmes como o favorito “O Filho de Saul”, longa húngaro que, curiosamente, também fala sobre as consequências sombrias do nazismo e da Segunda Guerra Mundial.

Não que “Labirinto de Mentiras” seja inteiramente ruim: ao recontar como se deu o longo processo de abertura do julgamento que buscaria incriminar os envolvidos nas crueldades de Auschwitz, o filme já se mostra relevante ao focar seu olhar em uma parte tão importante da história do povo alemão. O problema é que o diretor Giulio Ricciarelli se limita a isso: produzir um longa esquemático e pouco original, que, no futuro, poderá ser exibido em salas de aula para ajudar a explicar o que aconteceu naquele determinado momento.

Assim, didatismo em excesso e um fraco roteiro acabam prejudicando o filme, impedindo-o de ir além de um mero registro histórico. A jornada do protagonista Johann Radmann (Alexander Fehling, uma das vítimas da cena da taverna em “Bastardos Inglórios”), um jovem promotor ambicioso que salta de pequenos casos de infrações de trânsito às feridas abertas do nazismo na Alemanha, é ingênua em sua quase infalibilidade. O fiapo de romance sem graça de Radmann com uma jovem estilista que é desenhado também não ajuda em nada a avançar a trama, e certas situações perdem o impacto pela maneira como acontecem – como o momento em que o jornalista Thomas Gnielka (André Szymanski) procura provar que o povo alemão não conhece o que aconteceu em Auschwitz simplesmente perguntando para três pessoas na mesma cena se elas já ouviram falar no local. Tudo isso mergulhado em uma fotografia sempre iluminada, raramente com sombras, dando um ar de telefilme bonitão (do tempo em que telefilmes eram geralmente produções ruins) que não combina em nada com a história.

Os momentos de maior impacto acabam ficando mesmo por conta dos depoimentos das vítimas de Auschwitz, que revelam os horrores sofridos nos campos de concentração, contrapostos à cena em que Radmann confronta vários dos soldados e outros oficiais envolvidos nas operações, todos sem demonstrar remorso por suas ações. Ainda que isso soe maniqueísta, é feito de maneira eficiente no filme. Além disso, a atenção para alguns detalhes como as olheiras e as roupas gastas de Radmann, refletindo o impacto do avanço da investigação nele mesmo, também é digna de nota pelo cuidado das equipes de figurino e maquiagem.

No mais, apesar de suas boas intenções, “Labirinto de Mentiras” não possui nem a metade da força que seu tema pede, não indo além da superfície de assuntos complexos como a culpa alemã ou o obscurecimento de fatos da Segunda Guerra Mundial, e acaba funcionando mais como aqueles filmes didáticos exibidos na TV. É uma pena que longas mais contundentes, como “Que Horas Ela Volta?” – e isso não é só porque é brasileiro – tenham sido preteridos entre os pré-selecionados ao Oscar em favor do representante alemão.