As comédias populares brasileiras trabalham com dois eixos fundamentais: o humor e a “mensagem social”. Se o primeiro faz parte essencial do gênero ao qual estes filmes pertencem, o segundo item está na busca de fazer com que o espectador saia do cinema com a sensação de que está levando algo muito importante da sala de exibição além da pura diversão. Não chega a ser uma regra fixa, mas está presente em boa parte dessas produções.

“O Candidato Honesto”, por exemplo, traz Leandro Hassum em um discurso digno de presidente do Tribunal Superior Eleitoral antes do pleito sobre a importância do voto consciente; “Até Que a Sorte Nos Separe” e “De Pernas Pro Ar” abordam a questão de que nenhum dinheiro do mundo vale mais do que a união da família; “Vestido Pra Casar” mostra que a mentira não vale a pena e por aí vai. Como se percebe, as tais mensagens sociais são as mais clichês possíveis e estão sempre acompanhadas de uma trilha melosa para arrancar o choro fácil. Acima de tudo, esses momentos vem com frases de efeito à lá para-choque de caminhão para escancarar de vez a ideia para quem não entendeu somente com as imagens.

Estrelado por Ingrid Guimarães, “Loucas Pra Casar” segue à risca essa receita de bolo das comédias nacionais. Tanto no humor como na mensagem social, a frase norteadora é “dentro de toda mulher tem uma santa e uma puta”. Com a sutileza de um elefante, o diretor Roberto Santucci (o rei Midas desse tipo de produção no Brasil) escancara isso com a personagem vivida por Suzana Pires com um decote generoso, enquanto Tatá Werneck traz uma coroa de flores semelhante a uma auréola na cabeça. As duas vestidas de noiva ao lado de uma tradicional protagonista. O filme segue boa parte da produção com o choque entre esses estilos, culminando em várias cenas de barraco de novela das 9 com direito a jogada de cabelo e muitos xingamentos de piranha e vagabunda para baixo (senti falta apenas de uma personagem enfiar a bolsada na cara da outra). Quando não é isso temos a clichê piada da alergia na mesa de jantar.

Mesmo com comediantes talentosas, “Loucas Pra Casar” pouco consegue oferecer para esse humor ser ressaltado. Ingrid Guimarães copia o estilo feito em todos os trabalhos anteriores e vê-la aqui soa igual a “De Pernas Pro Ar”. Sem um bom roteiro e com uma direção interessada apenas em repetir o que já havia dado certo, Tatá Werneck mistura personagens da MTV como Fernandona, Juju Carente e Roxanne, além da capacidade de disparar dezenas de palavras em poucos segundos, para criar Maria, gerando um resultado divertido para quem apenas a conhece da fase da Globo. Quem se sai melhor é Suzana Pires que aproveita o lado desbocada de Lúcia para fazer uma figura caricatural. Já Fabiana Karla e Edmilson Filho (ator do sucesso “Cine Holliúdy”) fazem estereótipos clássicos de homossexuais desde o figurino até o cabelo passando pelas piadas envolvendo os respectivos papéis.

Quanto à mensagem, “Loucas Pra Casar” acaba indo pelo caminho óbvio (para variar) quando tinha potencial para discutir mais a fundo sobre o assunto do matrimônio. Apesar de deixar furos absurdos (como ninguém percebeu?, o detetive era idiota?), a reviravolta trazida pelo filme na parte final até mostra uma preocupação mínima de construir uma trama mais desenvolvida do que a maioria das produções do gênero dos últimos anos. O problema fica em manter tudo em um tom suave com o discurso piegas de olhar para o que temos e ser feliz como as coisas são sem necessidade de idealização. Isso contrasta com a cena passada na igreja com Ingrid Guimarães em um momento bem longe do engraçado. Ali, o roteiro da dupla Marcelo Saback e Júlia Spadaccini poderia dar um salto e tratar sobre a que ponto a pressão social do casamento enfrentada por mulheres acima dos 35 anos pode chegar, porém, tudo fica na superfície com o intuito de levar o espectador ao choro fácil.

Comparada a outras produções brasileiras, “Loucas Pra Casar” até não chega a ser um desastre. Falta ao filme, entretanto, coragem para sair do básico e arriscar um pouco mais. A reviravolta da parte final tenta fazer isso, porém, está presa à necessidade do final feliz e uma discussão banal sobre qualquer assunto em troca de umas piadas a mais. Tudo para manter a velha receita do bolo: humor + mensagem social.