Prof. Antônio José Vale da Costa, Jony Clay Borges, Keila Serruya, Rod Castro, Sérgio Andrade e Susy Freitas discutiram iniciativas para o cinema de arte em Manaus no dia 28 de fevereiro na mesa-redonda intitulada “Por uma Manaus com Filmes Alternativos”. O evento aconteceu no miniteatro da Escola Superior de Artes e Turismo da Universidade Estadual do Amazonas (Esat/UEA) e se deu após duas iniciativas criadas via Facebook pelos cinéfilos manauaras, que resolveram unir forças por um objetivo comum neste início de 2014: o incentivo à chegada de filmes mais variados em Manaus. Assim surgiu a comunidade “Campanha por Filmes Alternativos em Manaus” e a página “Por uma Sala de Cinema de Arte em Manaus”.

Ambas as iniciativas surgiram em decorrência de uma velha inquietação manauara: Por que certos tipos de filme, aqueles que fogem dos tradicionais estilos blockbuster americano ou produção Globo Filmes, raramente chegam ao circuito comercial de Manaus? No Facebook, o numero de seguidores em ambas as páginas cresceu rapidamente, o que levou os organizadores da Campanha por Filmes Alternativos a organizarem a mesa-redonda, cujo objetivo foi o de iniciar uma discussão mais focada para a futura criação de uma sala de cinema alternativo na cidade.

Apesar dos temas debatidos terem sido sérios, foi um papo agradável e descontraído. A mesa foi coordenada pelo produtor audiovisual Zeudi Souza e contou com as participações do professor da Universidade Federal do Amazonas e coordenador do cineclube Cine Vídeo Tarumã, Antônio José Vale da Costa, conhecido como Tom Zé; do jornalista Jony Clay Borges; dos realizadores locais Keila Serruya, Rod Castro e Sérgio Andrade; e da jornalista e professora Susy Freitas, membro da equipe do Cine Set. A plateia, composta de aproximadamente 50 pessoas, também se mostrou interessada e participativa.

Algumas questões em especial se tornaram cruciais para o debate: Afinal, existem condições para se criar uma sala de cinema independente e voltada para o cinema “de arte”, seja nacional ou estrangeiro, em Manaus? Existe público para este tipo de filme na cidade? E, em caso afirmativo para estas perguntas, surge uma terceira – como essa sala poderia ser administrada?

O professor Tom Zé foi importantíssimo ao expor sua experiência como programador do cineclube, um antigo projeto de extensão da UFAM que se mantém há mais de vinte anos. No entanto, logo ficou claro que o alvo da campanha é algo maior que um cineclube; o objetivo é realmente ter uma sala de cinema viável e que opere dentro do mercado manauara, exibindo uma programação de títulos que tradicionalmente não teriam espaço dentro dos grupos exibidores presentes nos shoppings da cidade. Além disso, esse espaço poderia ser utilizado também para a exibição da produção local. Foi levantada a ideia de que o poder público, seja estadual ou municipal, seria importante para o projeto, pois o estabelecimento e a manutenção da sala dependeriam de apoio.

Outras formas de apoio também foram levantadas pelos cineastas Rod Castro e Sérgio Andrade. Ambos tiveram a oportunidade de vivenciar a realidade de salas de cinema alternativas em outras capitais e frisaram que grandes instituições financeiras como Itaú ou o Banco do Brasil investem em cultura e em espaços semelhantes em outras cidades brasileiras. Os realizadores questionaram então por que não se poderia haver algo do tipo em Manaus.

O Serviço Social do Comércio (Sesc) também foi trazido à discussão, tanto pela plateia quanto pelo mediador Zeudi Souza, como outra possibilidade de apoio. A cineasta Keila Serruya ressaltou, sobretudo, a importância da internet como ferramenta de exibição de filmes, enquanto a professora Susy Freitas destacou ações possíveis em curto e médio prazo, através da campanha nas redes sociais como forma de explicitar a existência de público e incentivar o diálogo deste com distribuidoras e redes de cinema.

Todas essas alternativas foram postas na mesa e debatidas pelos participantes e pelo publico e coisa ficou clara: é necessário ter a sala para que o público, aos poucos, se fortaleça e aumente. Esse público para o cinema dito alternativo existe; pode não ser tão numeroso, uma vez que o espectador “comum” ainda possui resistência contra temáticas e histórias diferentes daquilo que estão acostumados. Mas a formação de uma plateia que aprecie novas propostas e filmografias precisa começar de algum lugar, e uma sala de cinema diferenciada seria o ideal.

Neste início de 2014 iniciativas via internet conseguiram fazer com que Azul é a Cor Mais Quente, vencedor da Palma de Ouro de Cannes em 2013, e o brasileiro Tatuagem fossem exibidos nos cinemas de Manaus. No entanto, o professor Tom Zé ressaltou que essas foram vitórias modestas, com ambos os filmes sendo exibidos em poucas sessões e em horários menos acessíveis ao público alvo.

Ficou claro, pelas recentes mobilizações pela internet, que não é tão difícil entrar em contato com distribuidoras e produtores de cinema e lembra-los de que Manaus existe. Agora, é hora de partir da conversa para a ação – e essa discussão inicial serviu para traçar um plano com estratégias concretas.

Por Ivanildo Pereira
integrante do Cine Set e da Campanha por Filmes Alternativos em Manaus