“Metro Manila” é uma coprodução de Reino Unido e Filipinas que chamou alguma atenção em eventos do porte do Sundance Film Festival, nos EUA, e Filmfest Hamburg, na Alemanha. Além disso, o filme foi escolhido para representar o Reino Unido na corrida pela estatueta de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2014. Por esses motivos, “Metro Manila” despertou expectativas positivas que acabaram não se confirmando.

O diretor do longa, Sean Ellis, é também o responsável pelo roteiro, que aborda a busca de uma família do campo por uma vida melhor numa grande cidade nas Filipinas. Ainda que com uma história universal, a obra falha com um formato que não promove a devida aproximação com as personagens e suas dores e esperanças.

Na trama, o camponês Oscar Ramirez (Jake Macapagal) sofre com o pouco retorno do trabalho de sua família na vida dura da lavoura. Ele decide partir com a esposa Mai (Althea Vega) e dois filhos pequenos para a capital Manila, uma cidade (hipoteticamente) com mais oportunidades. A busca por uma vida melhor vira um amargo pesadelo na medida em que a família se perde num turbilhão de falta de oportunidades que leva Oscar a um emprego perigoso e Mai à prostituição.

“Metro Manila” inicia com uma edição seca e concisa, mas eficaz ao sintetizar as condições da vida da família Ramirez no campo. A moradia humilde, a falta de dinheiro e o esforço físico estão lá, apoiados pela fotografia em tons terrosos e momentos de câmera na mão que dão um ar quase documental, apoiado na naturalidade do elenco, todo formado por atores filipinos. Estes, aliás, não pode ser culpados pelos problemas apresentados no filme, resultantes mais da direção engessada de Ellis que de qualquer outra coisa.

As cores na tela ganham um tom mais opressor quando o cenário muda para Manila. Elas ora são fincadas no cinza da metrópole, ora no colorido inebriante dos letreiros luminosos na noite. Junto a essa mudança, a montagem perde a agilidade e a, por assim dizer, “pegada” do diretor. Desse ponto em diante, o roteiro tenta se aprofundar nas personagens, mas termina por se arrastar injustificadamente até o final.

Por um lado, Sean Ellis acerta ao não criar um dramalhão mesmo com todas as terríveis adversidades pelas quais a família Ramirez passa em Manila. Humildes e, até certo ponto, ingênuos, eles são arrastados pelas circunstâncias, fato este que tem seu prenúncio já na primeira fala do filme. Os Ramirez passam por situações construídas claramente num movimento que varia de ascendente (esperanças renovadas com a ida à cidade, a conquista de um emprego, a “ajuda” que Oscar recebe do colega de trabalho) à descendente (a pobreza extrema da favela onde vivem, a perda da dignidade, no caso de Mai, e da honestidade, no caso de Oscar).

O problema é que Ellis exagera na distância que cria entre a câmera e suas personagens, entre a narrativa e o sentimento que elas deveriam evocar através da construção audiovisual. O resultado só não descamba para o fracasso total porque o diretor consegue, pelo menos, dar conta de retratar o ambiente e suas discrepâncias com a devida atenção. Percebe-se a cada take que a cidade age como um personagem, talvez o mais bem construído do filme por ser justamente o mais indiferente aos sofrimentos de Oscar e Mai e às ambições de Ong (John Arcilla, em ótima atuação), o parceiro de trabalho de Oscar.

Com a escassez do sentimento de identificação entre público e personagens, o roteiro cansa o espectador ao fazê-lo simplesmente esperar pelo próximo problema enfrentado por algum dos membros da família Ramirez; quando cada um dos problemas acontece, a direção já endurecida só o torna aborrecedor, e não digno de pena ou revolta, o que faz com que “Metro Manila” perca muito de sua força enquanto um testemunho, ainda que fictício, das desigualdades sociais criadas a partir do sistema capitalista.

Como se não bastasse, o final inverossímil de “Metro Manila” fica muito a desejar, principalmente pelo filme propor um tom naturalista. Sem entrar em mais detalhes sobre o desfecho um tanto fantasioso, fica a impressão de que ele seria mais aceitável se a direção de Ellis fosse capaz de evocar no espectador a devida empatia pelas personagens. Tocado, o público poderia perdoar o deslize com certa facilidade; ao ser negado o sentimento, a sensação que fica mesmo é a de que o roteiro teria mais potencial se trabalhado por outro diretor.

Nota: 6,0