O diretor italiano Nanni Moretti construiu uma carreira sólida ao conseguir traduzir nas telas do cinema, sempre de maneira sensível, dramas pessoais que refletiam o momento pelo qual seu país de origem estava passando. O seu mais recente trabalho não foge a essa regra.

Em “Mia Madre” acompanhamos Margherita, uma diretora de cinema que está no meio das filmagens do seu mais novo filme e que, ao mesmo tempo, testemunha o estado de saúde em declínio da sua mãe, que está internada no hospital. Para complicar ainda mais a sua situação, a chegada do ator americano Barry Huggins, que mal sabe falar italiano e parece ter uma séria dificuldade em decorar suas falas, coloca ainda mais pressão sobre a diretora que já está atrasada em seu cronograma de filmagens.

O filme, como quase todos na filmografia do diretor, possui sua parcela de comentário social, o qual dessa vez aparece na própria temática do longa que Margherita está filmando: uma fábrica que está prestes a fechar as portas e assim deixar todos os seus trabalhadores desempregados. A situação é algo familiar para os italianos, cujo país ainda se recupera da crise econômica que afetou o continente europeu.

Infelizmente, o roteiro explora muito pouco este tema, já que nunca vemos de fato os reflexos da situação econômica na vida dos personagens. Da mesma forma, a relação de Margherita com a sua mãe doente é tocante, mas não há nenhum desenvolvimento interessante da história nesse sentido.

O destaque mesmo do filme responde por um nome: Margherita Buy (sim, a personagem possui o mesmo nome da sua intérprete). Dividida entre a rotina intensa das filmagens e as visitas diárias ao hospital, Margherita começa a deixar claro que está passando por uma profunda crise existencial, a qual pode a qualquer momento se transformar num colapso nervoso. Com olhos expressivos e sem medo de exibir as marcas do tempo em seu rosto, a atriz brilha ao transmitir o crescente desespero que toma a sua personagem ao perceber que lhe resta pouco tempo com a sua mãe e que, talvez, sua personalidade autoritária a tenha tornado distante justamente daqueles que mais ama. A câmera adora a atriz e, quando foca em seu rosto, é impossível desviar o olhar.

Vale destacar também a participação de John Turturro, que dá vida ao ator Barry Huggins. Extremamente folgado e com devaneios de grandeza (ele jura que já trabalhou com Stanley Kubrick e que o diretor era seu fã!), Turturro não apenas serve como um perfeito alívio cômico como também consegue mostrar um outro lado mais complexo do personagem à medida que o filme vai passando.

Moretti (que também interpreta o irmão de Margherita) equilibra muito bem os momentos cômicos com aqueles mais dramáticos, sempre com a dose certa de sensibilidade, mas o roteiro simples e sem grandes momentos impede que o filme decole. A sensação final é de que estamos diante de um trabalho apenas competente, mas que ainda assim merece ser conferido pela força da performance da sua atriz principal.