Se alguém dissesse que Mid90s foi produzido na década de 1990, finalizado, enterrado e preservado até agora para enfim ver a luz do dia, não seria difícil de acreditar. Envolta em (muita) nostalgia, a estreia de Jonah Hill (Superbad, lembra?) por detrás das câmeras é uma história de amadurecimento que bebe da mesma fonte de longas e cineastas que exploraram a juventude norte-americana problemática nessa época, desde o seminal Kids de Larry Clark a Harmony Korine e até Gregg Araki e Richard Linklater.

Ao mesmo tempo, há algo contemporâneo no modo como Hill estrutura o filme, que também leva sua assinatura no roteiro: afinal, é um fiapo muito frágil de narrativa convencional que nos guia em Mid90s, assim como em Docinho da América ou, até certo ponto, Projeto Flórida. No filme, acompanhamos as desventuras de Stevie (a ótima revelação Sunny Suljic), um garoto de 13 anos que passa a conviver com um grupo de skatistas, com quem conhece não só o mundo do skate, mas também amizade, álcool, drogas e sexualidade.

Assim, a câmera de Hill apenas observa essas experiências, ao passo que o roteiro faz de tudo para evitar ir além em qualquer noção básica de conflito na narrativa: ficam pelo caminho, então, as ideias que vão sendo pinceladas sem desenvolvimento, como a relação de Stevie com o irmão mais velho (Lucas Hedges), que se torna somente uma figura agressiva unidimensional, ou com a mãe (que, pelo menos, rende pontas sinceras de Katherine Waterston). Aqui e ali, enquanto isso, surgem algum diálogo inspirador, alguma briga e momentos bonitos e granulados em 16mm.

A dinâmica de Stevie e os outros garotos em cena, porém, carrega o filme adiante, definindo personalidades distintas a cada um dos personagens e os contrapondo – como o desejo de Ray (Na-kel Smith) em sair de seu contexto atual que se opõe à irresponsabilidade regada a festas de Fuckshit (Olan Prenatt) – e, ao mesmo tempo, consolidando um laço honesto de afetividade entre todos eles, devidamente reforçado com sucesso após o incidente final. Assim, a amizade entre eles se torna crível e vira a força-motriz emocional do longa.

Se não chega a emplacar como um grande filme, Mid90s é um ótimo esboço: as ideias de Hill, suas referências e sua própria adolescência estão lá, e o rascunho cinematográfico decorrente disso aponta para uma carreira que pode se revelar ainda mais interessante em suas próximas incursões pela direção.