Alguém precisa checar o controle de qualidade dos filmes produzidos pela Netflix. Apesar de ter começado bem no mercado com o “Beasts of no Nation”, a regularidade nesse padrão foi caindo com o tempo, produções como “Vende-se esta Casa” e “Bright” apenas ajudaram a estigmatizar o serviço de streaming de não conseguir produzir bons filmes. E se depender de “Mudo”, essa fama está longe de ficar pra trás, mesmo com Oscar de melhor documentário ter saído no domingo para o competente “Ícaro”.

“Mudo” é o novo filme de Duncan Jones, diretor que iniciou a carreira nos longas com o ótimo “Lunar”, conseguiu ótimas críticas com “Contra o Tempo” e dividiu a opinião do mundo com a adaptação do game “Warcraft”. Então era de se esperar que seu novo longa que iria sair pelo selo Netflix fosse aguardado com certa curiosidade, já que era ele voltando a trabalhar com ficção científica. Bem, a curiosidade se tornou frustração.

Em uma Berlim no futuro, acompanhamos o bartender Leo (Alexander Skarsgård), um rapaz que não pode falar devido a um acidente sofrido na infância. Acidente esse, que as consequências poderiam ter sido diferentes se sua religião Amish permitisse uma cirurgia para consertar suas cordas vocais. Além de não poder usufruir da medicina, os Amish também não podem desfrutar de tecnologia. Ao se dar conta que sua namorada está desaparecida, Leo entra em uma busca incessante para encontrá-la e obter respostas.

Apesar de possuir um início até visualmente bonito, em uma piscina, com claras referências com elementos noir e cyberpunk como Blade Runner, o filme cai em uma trama tediosa e até repetitiva. A todo momento ao encontrar uma nova pista o protagonista vai até um personagem, o interroga com um bloquinho, não obtém nenhuma resposta e parte pra outro. Nada justifica as mais de duas horas de duração, e ao mostrar os céus de Berlim tomado por carros voadores e drones (pela enésima vez), o diretor ainda chega a utilizar o efeito time-lapse, que não dá a impressão de passagem de tempo, mas que foi feito apenas pra sair da mesmice. E convenhamos que o design e CGI são nada criativos e ainda mal feitos, apesar das cores e do neon serem bastante chamativos, já a trilha sonora de Clint Mansell é um pastiche cheio de referências e apenas acompanha a trama.

Uma das decepções do filme (de muitas), enfim, é Jones não ter aproveitado a condição religiosa do seu protagonista. Ele é ou não é praticanAlte de sua crença? Ele não parece relutar muito a se entregar as tecnologias, ganha um celular da namorada, e vai se virando com ele, a família aparece no início e depois é deixada de lado, e sua relação com a água? Apenas trauma? Até pra tomar água Leo faz um ritual.

Outra questão é o desperdício de potencial com o personagem de Paul Rudd, o desertor Cacto. Seu humor peculiar não diverte, e tem momentos que o filme é interrompido pra uma gag do mesmo com seu parceiro Duck (Justin Theoroux), atrapalhando o desenvolvimento da trama e a deixando ainda mais lenta. Fora que o drama dele poderia ter extraído algo muito mais envolvente e instigante, mesmo que o seu olhar de terror em um momento derradeiro seja horripilante.

O diretor não aponta seu filme pra uma direção, faz críticas pequenas a divisão social e até um certo toque de problemas de imigração do mundo atual, mas nada muito profundo. Por fim o último problema, a ambientação. O filme poderia se passar em qualquer época, dá a impressão que se passa naquele mundo apenas porque é a vontade do seu realizador, que queria mostrar que no futuro os deliverys por Drones estarão estabelecidos. Nos créditos o diretor ainda dedica o filme a memória do seu pai (David Bowie) e Marion Skeene (sua babá), ele podia esperar outro trabalho para fazê-lo.

Já falei que a Netflix precisa ter um melhor controle de qualidade?

NOTAS

Direção – 3

Drones – 3

Personagens – 3


NOTA FINAL – 3

Spoiler: Não sei se foi revelado, mas o filme se passa no mesmo universo de “Lunar”, mas a história não tem nenhuma relação com o drama espacial de Sam Rockwell, parecendo que o diretor apenas queria tirar uma onda de universo compartilhado.