A adolescência é um tema recorrente em muitas obras e algo que também tenta ser subvertido e tornado mais tangível nas produções locais. Tomando esta parcela de realidade e subversão encontra-se a construção de Mundo de Papel.

O filme dirigido a quatro mãos é uma realização do Projeto de Extensão “Vivência de Cinema” na Universidade Estadual do Amazonas (UEA), realizado em parceria com “Praia de Água Doce Filmes” e compõe um dos processos da capacitação Novos Talentos, projeto desenvolvido com alunos do ensino médio.

A narrativa acompanha a história de uma adolescente (Nathália Carvalho) que se sente perdida em meio ao turbilhão que essa fase da vida apresenta. Nesta prospecção do que seja a adolescência do ponto de vista dela é que o filme se perde. A construção narrativa não consegue ser forte o suficiente para que o expectador compreenda e crie empatia pela adolescente que é apresentada nos primeiros minutos de película com tendências autodestrutivas e apática, uma imagem generalizada do que seja a temida “aborrescência” para os adultos.

Seguindo esse ritmo, sua vivência diária na periferia de Manaus se monta no decorrer da película, ao mesmo tempo em que os conflitos que permeiam a mente primaveril são expostos em tela, mas de forma externa, sem realmente esboçar os motivos que levam-na a sentir-se assim. Mais uma vez uma imagem generalizada dessa época da vida, em que os porquês que são levantados pelos adolescentes são invisíveis diante do pensamento “expandido” do mundo adulto. E assim, embora Mundo de Papel procure levantar questionamentos internos de sua protagonista e como ela reage ao que lhe é externo, a construção é rasa. Assim como na descrição das relações dela, cuja presença é forte e essencial nessa época da vida.

E por falar em construção, a montagem e finalização são atributos técnicos que contribuem para o distanciamento empático com o curta-metragem. A forma desregular como a trilha de áudio cai em nossos ouvidos cria a sensação de que há problemas técnicos no som, algo recorrente nas produções locais, também. Entretanto, é possível captar no decorrer da projeção que a questão se deposita mais na forma como o curta foi finalizado do que no próprio som direto.

Dessa forma, Mundo de Papel que se inicia e finaliza com uma vinheta que remete a séries infanto-juvenis da década de 90, tenta subverter o conceito de adolescência norte-americana e classe média que os produtos audiovisuais expostos na televisão brasileira e nos cinemas nos apresentam. Trazendo uma visão do que seria a vivência desta fase da vida na periferia manauara, entretanto cai na generalização do que realmente se passa na mente de quem está na adolescência.