Pandemias não são novidade no cinema: diversos filmes já abordaram o perigo invisível que ameaça a humanidade como tema. Agora que, infelizmente, estamos passando por algo do tipo, não é surpresa encontrarmos conhecidos soltando expressões do tipo: ‘isso é coisa de cinema’. Das diversas obras que tratam do assunto, “Os 12 Macacos” é dos melhores exemplares.
Dirigido pelo inventivo Terry Gilliam, “Os 12 Macacos” chama a atenção pela abordagem. Em um futuro distante, a humanidade vive no subterrâneo, pois, em meados dos anos 1990, um vírus se espalhou pelo planeta matando cinco bilhões de pessoas. Com a possibilidade de voltar no tempo, alguns cientistas enviam um homem chamado James Cole (Bruce Willis) para uma missão: descobrir a origem do vírus ou informações que levem ao desenvolvimento de uma cura.
Baseado em um curta-metragem chamado “La Jetée”, que nem Terry Gilliam e nem este que vos escreve assistiu, “Os 12 Macacos” brilha demais pelo design de produção, responsável por conciliar a arquitetura clássica com um futuro tipo “lata-velha”. Sujo e com aparente improvisação tecnológica, os ângulos de câmera do diretor em seu decorrer intensificam uma sensação de pressa e sufoco dos personagens e acabam por atingir quem assiste. A produção transborda ecos de insanidade por todos os lados, não apenas no hospício em que se passa parte da história.
A trilha sonora evoca um sentimento lúdico pontuando os momentos de descoberta e evolução da trama. O filme também conta com uma seleção musical inspirada e que também brinca com a ironia e na construção do paradoxo que a obra termina por apresentar.
WILLIS E PITT EM GRANDE FORMA
Gilliam conta com um elenco perfeito: Bruce Willis, em um tempo que o ator ainda gostava de atuar, faz uma performance, dosando coragem e atitude para os poucos se render à dúvida. Isso é um fator determinante para que até mesmo o público chegue a duvidar se, de fato, tudo aquilo é real ou imaginação do personagem. Nos momentos de ação e brutalidade, temos o bom e velho astro de “Duro de Matar”, mas também não deixamos de notar sua sensibilidade ao escutar uma música ou lembrar algo da infância, o que prova definitivamente sua versatilidade como ator.
Brad Pitt, já se consolidando como uma estrela de Hollywood, faz um daqueles personagens que entram para o hall de figuras excêntricas da ficção, o que lhe rendeu indicações a diversos prêmios na época, incluindo, o Oscar. Por fim, ainda temos Madeleine Stowe, encarnando a psiquiatra Dra. Railly, que, no fim, se torna ironicamente o seu caso de estudo: profissional competente e sempre abraçando a racionalidade, aos poucos, vai caindo em desespero ao notar que suas ações de nada adiantam para, no fim, se tornar simbolicamente uma espécie de profetisa Cassandra.
A montagem de Mick Audsley é eficiente e criam-se rimas interessantes: Cole tomando um susto com um urso no futuro para, mais tarde no presente, se assustar com um urso empalhado são mostras disso. E Gilliam com a fotografia de Roger Pratt ainda cria anedotas visuais, como quando o protagonista tenta se esconder da polícia se virando para uma vitrine para logo se dar conta que está na televisão da mesma, já que é uma daquelas lojas com tevês e câmera viradas para a rua.
Interessante do ponto de vista visual e técnico e com um enredo instigante, “Os 12 Macacos” é um daqueles filmes que vale uma discussão em meio à atual pandemia. Tratando-se de um paradoxo temporal, se depender de seus personagens e história, nada podemos fazer. Independente de nossas ações, estamos condenados a repetir sempre os mesmos erros.