A presença no cartaz do ex-atleta de luta livre tornado ator Dwayne Johnson (de cuja época nos ringues herdou o apelido, “The Rock”) já traz em si a certeza de que estamos diante de mais um filme de ação. Dito isso, é uma surpresa constatar que O Acordo, além de investir mais na tensão e no suspense do que no tiroteio desenfreado, também possui pretensões de filme-denúncia, ao atacar, na trama, a rigidez da legislação americana sobre drogas. Pena que, em seu saldo final, a mensagem tenha ficado oculta pela presença do astro.

Baseado em uma história real, exibida no programa Frontline, da TV americana, O Acordo conta a história de John Matthews (Johnson), empresário da área de construção, que tem o filho preso ao levar drogas para um amigo. Jason (Rafi Gavron) fez isso como um favor, e agora esse mesmo amigo o acusa de ser traficante. Segundo a lei penal americana, mesmo sendo réu primário e sem antecedentes, Jason deve pegar pelo menos dez anos no xadrez, a não ser que ele tenha informações úteis ou possa delatar alguém do tráfico, para ajudar nas ações da polícia. O problema é que Jason, de fato, não conhece ninguém, para desespero do pai. De forma acelerada, como que querendo pular essa parte, o filme conta como John se oferece para ser, ele próprio, a “isca” da polícia na captura de Malik (Michael Kenneth Williams), um traficante de nível médio, numa tentativa de conseguir a redução da sentença do filho (o acordo do título). Para tanto, John conta com a ajuda de Daniel James (o ótimo John Bernthal, da série de TV The Walking Dead), seu funcionário e ex-criminoso, que está tentando se regenerar.

O mote é bom, mas parece que a presença de Johnson no projeto obrigou o diretor Ric Roman Waugh (de Felon [2008]) e o roteirista Justin Haythe a abrandarem a denúncia e partirem para a ação mais convencional. O drama de Jason é pontuado em alguns momentos (todos os que trazem atuações constrangedoras de Johnson, que obviamente não se sai bem no registro), mas fica em segundo plano diante da operação policial para a captura de Malik, a qual acaba levando, no furo mais preocupante do roteiro, a um dos chefões do cartel México-Estados Unidos, Juan “El Topo” Pintera (Benjamin Bratt), graças a uma única (!) atuação bem-sucedida de John e Daniel ao lado do traficante. Essa decisão acaba relegando a intenção original do roteiro a um nível marginal, enfraquecendo o que deveria ser o seu grande diferencial. O destaque acaba indo para as cenas de ação, muito bem coreografadas, e para o trabalho dos atores coadjuvantes: Barry Pepper, que por algum motivo ainda está usando a mesma barbicha de Bravura Indômita (2011), como o policial que monitora John; o já citado Bernthal, como Daniel, atormentado por seu passado de crimes; Michael Kenneth Williams, como Malik; e Susan Sarandon, como a procuradora voraz e carreirista.

A pior coisa, mesmo, do filme, é o vilão “El Topo”, que mal tem tempo de dizer a que veio, para já pegar o xilindró, em uma das sequências de captura mais sem-graça vistas numa obra do gênero. Vinda, ainda por cima, logo após a grande perseguição do caminhão, o melhor momento do filme (não por acaso, o único em que Johnson parece à vontade), a cena é uma decepção. Já que o filme não criou grandes expectativas, porém, o incômodo é menor. A trilha sonora eficiente do compositor brasileiro Antônio Pinto (filho do cartunista Ziraldo) completa o pacote.

Resta a mensagem do filme. Uma black screen ao final informa que certos presos primários, em crimes relacionados a drogas, têm penas do mesmo tamanho ou maiores do que aquelas reservadas a assassinos ou estupradores nas mesmas condições. Pena que a presença corpulenta de “The Rock” e o foco na ação tenham ofuscado esse interessante ponto de vista.

Nota: 6,0