Dados divulgados nas últimas semanas mostram que a arrecadação do cinema brasileiro, nesse ano, já teve cerca de 300% de aumento em relação ao ano passado. A maior parte desse sucesso, claro, se deve às comédias.

Como já escrevi antes aqui no blog, se as comédias garantem o alívio das produtoras e patrocinadores, permitindo até investir em projetos mais ousados e experimentais (o que frequentemente não acontece), nada justifica que elas sejam tão pobres em termos de roteiro, produção e atuação, como é, também, este O Concurso. Ainda bem, para os envolvidos, que o público brasileiro parece não se sentir subestimado ou diminuído. Já eu, que torço por um cinema muito mais profissional, bem produzido e inteligente do que o que temos agora, devo alertar: se essas são as qualidades que você procura num filme, O Concurso não é pra você. Nem a maioria das outras comédias brasileiras de sucesso deste ano. E, se você é daqueles que acham que tudo que é nacional merece aplausos só por ser, simplesmente, nacional, nem leia o resto do texto.

O roteiro, num sentido bem flexível do termo, é assim: quatro tipos “tipicamente brasileiros” – o nerd paulista (Rodrigo Pandolfo), o nordestino supersticioso (Anderson Di Rizzi), o gaúcho enrustido (Fábio Porchat) e o carioca malandro (Danton Mello) –, bem batidos, como se vê, chegam à sede da Justiça no Rio de Janeiro para participar do exame oral num concurso para juiz federal. Todos estão estropiados, devido aos acontecimentos loucaços dos dois dias anteriores.

Por aí já se vê que uma ótima ideia foi desperdiçada: poucos assuntos interessam tanto à juventude brasileira atual quanto concursos públicos. E a quantidade de situações cômicas que poderiam surgir daí, como já se viu em diversas comédias teatrais, não é sequer arranhada no filme. Em vez disso, o que temos é uma espécie de Se Beber, Não Case nacional, com pavorosas sequências envolvendo as dificuldades sexuais de Bernardo, o paulista (com nada menos do que cinco aparições constrangedoras de Sabrina Sato); uma dentadura postiça que torna incompreensíveis as falas de Freitas, o nordestino; um número musical com “I Will Survive” e o pai machista (Jackson Antunes) de Rogério Carlos, o gaúcho; e uma briga entre anões traficantes, conhecidos de Caio, o carioca. E não para por aí.

O elenco, apesar dos bons nomes, não tem muito a fazer além de repisar estereótipos. Danton Mello, até por ter o personagem mais favorável, cria um malandro charmoso e carismático, que tem o maior tempo de cena. Porchat parece estar a passeio – e continua a demonstrar que ele e seus companheiros de Porta dos Fundos, por melhores que sejam em turma, não acrescentam nada a nenhum dos filmes de que participam. Anderson Di Rizzi, que atualmente está no ar em Amor à Vida, tem poucas oportunidades no filme, mas seu Freitas, quando é possível entender o que ele fala, está ótimo. Só Pandolfo, que é muito prejudicado por seu personagem, está realmente irritante. A direção de Pedro Vasconcelos (que já tinha assinado o fraco Qualquer Gato Vira-Lata em 2011) também não faz mais do que pontuar o péssimo roteiro de LG Tubaldini Jr. Salva-se a trilha sonora, que, com seus tons setentistas, remete ao auge da pornochanchada nacional (sempre ela).

Com esse, temos mais um candidato fácil à lista de piores do ano (o Brasil está se esforçando em 2013: vide os recentes Giovanni Improtta e Odeio o Dia dos Namorados), bem como àquela listinha de “intragáveis”, que, lamentavelmente, não para de crescer.

Nota: 5,0